Biografia

Ir. Dulce é o Anjo Bom dos Pobres, diz historiador sobre religiosa

Irmã Dulce será canonizada, neste domingo, 13, no Vaticano

Denise Claro
Da redação, com colaboração de Edcleide Campos 

Irmã Dulce será canonizada neste domingo, 13, no Vaticano./ Foto: OSID

Uma vida de simplicidade dedicada aos pobres e mais necessitados. Irmã Dulce, popularmente conhecida como “O Anjo Bom da Bahia”, será canonizada, neste domingo, 13, em cerimônia presidida pelo Papa Francisco no Vaticano. Em Salvador, sua terra natal, a festa está marcada para o dia 20, domingo seguinte, em que estarão presentes muitos dos que conviveram com a Santa.

Primeira santa genuinamente brasileira, Irmã Dulce nasceu em 26 de maio de 1914, em Salvador.

Foi a segunda filha do dentista Augusto Lopes Pontes, professor da Faculdade de Odontologia, e de Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes. Ao nascer, recebeu o nome de Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes.

Irmã Dulce, quando menina./ Foto: OSID

Vista por todos como uma criança alegre, Maria Rita gostava de brincar de boneca, empinar pipa e amava futebol, como torcedora do Esporte Clube Ypiranga, time formado pela classe trabalhadora e excluídos sociais.

Aos sete anos, em 1921, perdeu sua mãe. No ano seguinte, junto com seus irmãos Augusto e Dulce, fez a primeira comunhão na Igreja de Santo Antônio Além do Carmo.

A vocação para trabalhar em benefício da população carente teve a influência direta da família, uma herança do pai que ela levou adiante, com o apoio decisivo da irmã, Dulcinha. Aos 13 anos, a menina passou a acolher mendigos e doentes em sua casa, transformando a residência da família – na Rua da Independência, 61, no bairro de Nazaré – num centro de atendimento. A casa ficou conhecida como ‘A Portaria de São Francisco’, tal era o número de carentes que se aglomeravam à sua porta. Também foi, nessa época, quando ela manifestou, pela primeira vez, após visitar com uma tia áreas onde habitavam pessoas pobres, o desejo de dedicar-se à vida religiosa.

Maria Rita Pontes é sobrinha de Irmã Dulce e superintendente das obras desde o falecimento da religiosa / Foto: Arquivo Canção Nova

Sua sobrinha e superintendente das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), Maria Rita Pontes, fala sobre Irmã Dulce: “Era uma pessoa comum. A diferença é que ela se alimentava muito mais da oração, se colocava sempre no lugar da pessoa que estava precisando de ajuda, é o que a gente sempre chama de compaixão, de empatia, e que é tão raro hoje no ser humano”.

Maria Rita conta que a tia sabia dizer não para algumas coisas, mas nunca aceitava um não quando era para os mais pobres. “Ela sempre lutava pelo que ela acreditava. Era uma pessoa obstinada. E foi esse exemplo que ela nos deixou, uma fé obstinada, e não uma fé oscilante. Aquela fé que, mesmo quando as coisas parecem que estão muito difíceis, ela não desistia”.

Vida Consagrada

Em 8 de fevereiro de 1933, logo após a sua formatura como professora, Maria Rita entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, na cidade de São Cristóvão, no estado de Sergipe. Em 13 de agosto de 1933, recebeu o hábito de freira das Irmãs Missionárias e adotou, em homenagem à sua mãe, o nome de Irmã Dulce.

O historiador Thiago Fragato comenta que o convento foi registrado nas cartas e documentos de Irmã Dulce como um lugar muito especial na sua vida. “Irmã Dulce tinha três lugares marcantes. A gruta do convento, o claustro e a Igreja onde ela recebeu o nome de Irmã Dulce. Ela chegou aqui uma menina de 19 anos, e sempre dizia que a Bahia deu a ela a família, mas São Cristóvão, em Sergipe, deu a certeza da sua vocação religiosa. Irmã Dulce não era o anjo bom da Bahia, era o anjo bom dos pobres”. 

A primeira missão de Irmã Dulce como freira foi ensinar em um colégio mantido pela sua congregação, no bairro da Massaranduba, na Cidade Baixa, em Salvador. Mas o seu pensamento estava voltado mesmo para o trabalho com os pequeninos.

Já em 1935, dava assistência à comunidade pobre de Alagados, conjunto de palafitas no bairro de Itapagipe. Nessa mesma época, começou a atender também os operários do bairro, criando um posto médico e fundando, em 1936, a União Operária São Francisco – primeira organização operária católica do estado, que depois deu origem ao Círculo Operário da Bahia. Em 1937, fundou, juntamente com Frei Hildebrando Kruthaup, o Círculo Operário da Bahia, mantido com a arrecadação de três cinemas que ambos haviam construído através de doações.

Em maio de 1939, Irmã Dulce inaugurou o Colégio Santo Antônio, escola pública voltada para operários e filhos de operários, no bairro da Massaranduba.

Amor aos pobres

Irmã Dulce se gastou pelos pobres./ Foto: OSID

Em 1939, Irmã Dulce invadiu cinco casas na Ilha dos Ratos, para abrigar doentes que recolhia nas ruas de Salvador. Foi expulsa do lugar, e peregrinou por quase uma década, levando os seus doentes por vários locais da cidade. Por fim, em 1949, Irmã Dulce ocupou um galinheiro ao lado do Convento Santo Antônio, após autorização da sua superiora, com os primeiros 70 doentes.

A iniciativa deu origem à tradição propagada há décadas pelo povo baiano de que a freira construiu o maior hospital da Bahia a partir de um simples galinheiro. Já em 1959, foi instalada oficialmente a Associação Obras Sociais Irmã Dulce e, no ano seguinte, foi inaugurado o Albergue Santo Antônio.

O arcebispo de Salvador, Dom Murilo Krieger, afirma que a missão de Irmã Dulce se perpetua na experiência de cada paciente, de cada pobre que ela cuidou e cuida, através de seu legado. 

“Irmã Dulce foi alguém que andou pelas ruas de nossa cidade, relacionou-se com pessoas que até hoje afirmam que a conheceram, que conviveram com ela, foram atendidas por ela. Isso mostra que a santidade está muito próxima de nós.”

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Incentivo

Beatificação de Irmã Dulce/ Foto: Canção Nova – Arquivo

O incentivo para construir a sua obra, Irmã Dulce teve do povo baiano, de brasileiros de diversos estados e de personalidades internacionais. Em 1988, ela foi indicada pelo então presidente da República, José Sarney, com o apoio da Rainha Sílvia, da Suécia, para o Prêmio Nobel da Paz. Oito anos antes, no dia 7 de julho de 1980, Irmã Dulce ouvia do Papa João Paulo II, na sua primeira visita ao país, o incentivo para prosseguir com a sua obra.

Irmã Dulce e o Papa João Paulo II voltariam a se encontrar em 20 de outubro de 1991, na segunda visita do Sumo Pontífice ao Brasil. João Paulo II fez questão de quebrar o rigor da sua agenda e foi ao Convento Santo Antônio visitar a religiosa baiana, cuja saúde já se encontrava bastante debilitada em função de problemas respiratórios. Cinco meses depois da visita do Papa, os baianos chorariam a morte do Anjo Bom do Brasil.

Irmã Dulce morreu em 13 de março de 1992, pouco tempo antes de completar 78 anos. No velório, na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, em Salvador, políticos, empresários e artistas se misturavam à dor de milhares de pessoas simples e anônimas. A fragilidade com que viveu os últimos 30 anos da sua vida – tinha 70% da capacidade respiratória comprometida – não impediu que ela construísse e mantivesse uma das maiores e mais respeitadas instituições filantrópicas do país, uma verdadeira obra de amor aos pobres e doentes.

Em outubro de 2010, a Congregação para a Causa dos Santos, por meio de voto favorável e unânime de seu colégio de cardeais e bispos, reconheceu a autenticidade de um milagre atribuído à Irmã Dulce, que levou à sua beatificação no ano seguinte. O anúncio foi feito no dia 27 de outubro de 2010 pelo então Arcebispo Primaz do Brasil, Cardeal Geraldo Majela Agnelo, em coletiva realizada na sede das Obras Sociais Irmã Dulce, em Salvador.

 

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