Ações emergenciais

Inverno em SP: instituições trabalham para ajudar povo de rua

Instituições realizam ações emergenciais para ampliar assistência aos moradores de rua de São Paulo

Kelen Galvan
Da Redação

Lanche e espaço para pernoite estão entre as ações em prol dos moradores de rua / Foto: Sefras

Lanche e espaço para pernoite estão entre as ações em prol dos moradores de rua / Foto: Sefras

A promessa de um inverno rigoroso neste ano ampliou as ações de solidariedade em prol dos moradores de rua de São Paulo.

Segundo o último Censo da População de Rua divulgado pela Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social da Prefeitura de São Paulo, a capital paulista tem mais de 15.900 pessoas em situação de rua.

Mesmo com cobertores, o inverno deste ano castiga os que passam a noite ao relento. Segundo dados do Instituto Médico Legal (IML), desde março deste ano, mais de 100 pessoas morreram nas ruas de São Paulo. Embora a maioria dos óbitos tenha sido por doenças, não de frio, o IML reconhece que problemas respiratórios, como a pneumonia, pioram com as baixas temperaturas.

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Solidariedade aos moradores de rua

Essa realidade mobilizou várias instituições católicas, que já prestam assistência aos moradores de rua, a realizarem ações especiais para o inverno.  

A Pastoral de Rua de São Paulo, que há mais de 20 anos presta assistência à população de rua, distribui lanches e cobertores todas as noites e se empenha, principalmente, em defender os direitos dessas pessoas.

“Nós somos uma presença, sempre junto com o pessoal da rua, na reivindicação pelos seus direitos. Por exemplo, dia 24 de julho, a prefeitura quer fazer a reintegração de posse na Comunidade do Cimento, onde moram mais de 300 pessoas nos barracos. Para onde vão essas pessoas? Para debaixo do viaduto?  O que é mais perigoso, morar em um barraco ou ao relento? Lá têm cadeirantes, muitos recém-nascidos, idosos. Não queremos que essa reintegração aconteça dessa forma, queremos que a prefeitura ofereça um mínimo, um lugar decente para essas pessoas”, afirma a agente de pastoral, Ana Maria da Silva Alexandre.

Com um trabalho há mais de 15 anos na sede do Vicariato Episcopal da Pastoral de Rua da Arquidiocese de São Paulo, chamada de Casa de Oração, ela destaca que a instituição se posiciona sempre do lado de quem está em situação de rua.  “A gente vai para as audiências públicas, para a defensoria pública, nestes espaços de luta pelo mais fraco. E  estamos junto com eles nessa luta”.

Além dessa ação emergencial, a Casa busca ser um diferencial diante de outros locais de assistência aos moradores de rua, com um clima familiar e resgatando a dignidade de cada um.

“A Casa de Oração trata as pessoas como parte de uma comunidade, onde o morador de rua seja protagonista de uma história.  Ele não vem aqui só para receber um prato de comida, uma roupa, mas ele faz parte de uma comunidade. Aqui ele não é um número, é chamado pelo nome”, destaca Ana Maria.

Conheça melhor o trabalho da Casa de Oração: 

Ela conta ainda que todos os meses são comemorados os aniversários de quem frequenta a casa; e se um deles fica doente ou precisa de uma cirurgia, alguém vai acompanhá-lo ou visitá-lo.

“Aqui, quando as refeições são servidas, eles ajudam a arrumar as mesas; depois, ajudam a arrumar a cozinha. Os pratos e talheres não são descartáveis, para mostrar que eles também não são descartáveis”, complementa. 

No local, os trabalhos começam às 8h, com o café da manhã, seguido por um breve momento de oração. Ao longo do dia, acontecem atividades variadas, como assistência médica e psicológica, aulas artísticas e grupos de discussões sobre os direitos e as políticas públicas em relação à população de rua.  

Ana Maria destaca que, ao longo desses anos, são vários os frutos do trabalho realizado pela Pastoral de Rua, com a reintegração social de dezenas de moradores de rua.

“Eu poderia escrever um livro com lindas histórias. Conheci muitas pessoas que chegaram aqui sujas, mal vestidas, sem acreditar na própria vida, mas hoje estão nos seus lares. Por aqui, já passou um morador de rua que, depois, se tornou missionário, ou ainda o Seu Antônio, que viveu 20 anos na rua, alcoólatra, e hoje reconstruiu sua vida e resgatou sua família”, recorda.   

Trabalho dos franciscanos 

O Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras), que atua há 13 anos na capital paulista e atende diariamente cerca de 1100 pessoas, também realizou uma ação emergencial, promovendo o pernoite de moradores de rua.

“Eles chegam por volta das 19h, ganham um kit de higiene pessoal, roupas, tomam banho, se alimentam com a sopa, repousam e tomam o café da manhã”, explica o assessor de Comunicação do Sefras e Gestor de Captação de Recursos, Rômulo Leandro. Ele destaca que também são entregues cobertores àqueles que não podem passar a noite no local.

A instituição também serve, diariamente, 300 almoços, 350 chás da tarde, 100 sopas e 100 cafés da manhã, oferece serviços de corte de cabelo, psicólogos, assistência social e há um projeto de reciclagem para favorecer a reinserção social dos moradores de rua.

“As pessoas em situação de rua, que querem se integrar à sociedade, retornar ao mercado de trabalho, vão para esse espaço e trabalham com reciclagem. Lá, eles passam por cursos, oficinas e trabalham na triagem e venda da reciclagem, que são doadas por empresas. Mensalmente, todo valor arrecado com a venda das reciclagens é rateado, e eles já começam a administrar o próprio dinheiro. Após um período, aqueles que se destacam são enviados a uma cooperativa para novos trabalhos”, destaca.

Rômulo enfatiza que muitas pessoas que passaram pelos serviços do Sefras, hoje, possuem casa própria ou empregos fixos, e muitos outros deixaram o álcool e as drogas.

Para realizar essas ajudas, a instituição conta com parcerias. Os interessados podem entrar em contato pelo e-mail captacao@sefras.org.br ou telefone (11) 3291-4433.

Em nota divulgada pela Arquidiocese de São Paulo, devido à morte de moradores de rua nos dias mais frios de junho, o Cardeal Odilo Pedro Scherer recomendou a todas as paróquias, comunidades e instituições religiosas da cidade a prática de obras concretas de misericórdia, como acolher, alimentar, abrigar, aquecer, visitar, assistir e confortar os irmãos e irmãs que vivem nas ruas dessa Metrópole. 

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