Solidariedade

Iniciativas solidárias aquecem espírito natalino em meio à pandemia

Diversas iniciativas demonstram como despertar o verdadeiro sentido do Natal, com atenção aos mais necessitados

Thiago Coutinho
Da redação

Mesmo em meio à pandemia, iniciativas solidárias tentam amenizar a fome e as dificuldades dos mais necessitados / Foto: pixundfertig por Pixabay

Amor, união, solidariedade são alguns dos sentimentos que marcam essa época do Natal, celebração do nascimento do Menino Jesus. O espírito natalino, porém, especialmente neste ano em que a pandemia do novo coronavírus trouxe diversas dificuldades, torna-se ainda mais forte, sobretudo com relação aos mais necessitados.

Algumas iniciativas têm sido alentadas pelo país. Em São José dos Campos, interior de São Paulo, a Paróquia Espírito Santo realizou no domingo, 13, a campanha Natal #PESSemFome. Em parceria com o Motoclube Ruah e outros motoclubes parceiros, a paróquia arrecadou alimentos e itens de higiene e limpeza. Além disso, nesta edição, a campanha também coletou roupas, brinquedos e panetones para incrementar o auxílio a quem está precisando de ajuda.

“Logo que começou a pandemia, e com ela a quarentena, iniciamos a campanha PESSemFome: Paróquia Espírito Santo Sem Fome. O plano foi fruto de oração. Nós nos colocamos diante de Deus e perguntamos: ‘O que o Senhor quer de nós a partir de agora? Como podemos continuar o nosso testemunho cristão?’. E Deus nos respondeu: ‘Sejam santos e não deixem ninguém passar fome’. Partilhei com os leigos sobre o pedido de Deus para nossa comunidade. Todos, imediatamente, abraçaram a missão”, explicou o padre Rogério Felix Machado, que coordena a paróquia.

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O religioso reforçou a experiência de caridade que esta campanha e muitas outras realizadas ao longo deste ano trouxeram. “É uma festa da caridade. Dia de muita emoção. E os voluntários cuidam de tudo. Tudo recebemos de quem pode doar e entregamos para quem precisa receber. Estamos vivenciando, como nunca, a experiência das primeiras comunidades ‘todos os que tinham abraçado a fé reuniam-se e punham tudo em comum. Não havia entre eles necessitado algum’ (At 2,44; 4,34)”, reiterou.

Também no interior de São Paulo, na cidade de Lorena, um catequista resolveu levar adiante uma ideia: aproximar o público jovem da realidade do Evangelho. José Olympio Motta e seu primo Walmir Mota dos Santos deram origem a um projeto que existe há 14 anos e foi engendrado enquanto ainda preparavam uma turma de jovens para o sacramento do Crisma.

“Eu trabalhava como catequista de crisma e, naquele ano [2006], com intuito de não ficar só na teoria, fiz a proposta aos crismandos, que na época eram em torno de 80 jovens em sua maioria de 15 a 18 anos, em visitarmos os bairros da periferia da cidade, até porque eram jovens que moravam no centro, não conheciam bem a periferia”, recordou José Olympio. Nesta iniciativa do Natal Solidário, eles arrecadam cestas básicas para famílias da periferia da cidade. 

Os jovens de Lorena pretendem atender 80 famílias até o Natal. “Sabemos que este ano de 2020 é um ano atípico devido à pandemia e as dificuldades econômicas que toda sociedade vem enfrentando. Então, a meta este ano é manter o mesmo número entregue ano passado: 80 cestas de Natal”, explicou.  

Em São Paulo, capital, o Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras) deu início à campanha “Quanto Vale uma Vida?”, que está em sua primeira edição. A ideia do trabalho surgiu junto à pandemia, como explica Rodrigo Zavala, Gestor de Desenvolvimento Institucional do Sefras. “Em um momento em que os números de infectados e mortos foi maior que as histórias de vida de milhares de pessoas, pensamos em uma reflexão sobre o valor da solidariedade, da empatia e do amor”, disse.

Atualmente, o Sefras oferece 3580 refeições diárias a cinco públicos distintos: população de rua, idosos sozinhos, imigrantes e refugiados, crianças pobres e hansenianos. “Nosso foco é ampliar o número de apoiadores do Sefras, que possam estar conosco no próximo ano. Afinal, oferecemos cuidado, acolhida e defesa todos os dias do ano”, afirmou Zavala.

Já a Cáritas Brasileira, em 2014, trouxe uma experiência da Cáritas na França e deu início à campanha anual 10 milhões de Estrelas — que ocorre em consonância com os temas desenvolvidos pela Campanha da Fraternidade da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

“Desde a primeira semana do Advento lançamos a campanha e queremos mobilizar todos em torno do Natal, que discutam a paz não só em sua comunidade, mas em todo o Brasil. E principalmente num ano em que tivemos a pandemia, inserimos esta discussão e outros temas como a volta da fome no país. A campanha traz todas essas discussões”, declarou Jaime Conrado de Oliveira, assessor técnico da Cáritas Brasileira.

Cuidados com a pandemia

A pandemia inspirou o amor ao próximo em diferentes níveis. Sejam grupos religiosos ou mesmo outras vertentes da sociedade, muitos se sentiram sensibilizados de alguma maneira a ajudar o próximo. Esta ajuda, porém, requer cuidado tanto de quem ajuda como para quem é ajudado.

“O maior cuidado sempre foi garantir a saúde de todos que nos ajudam e também de quem recebe a cesta. Para isso, desde o princípio, optamos por receber as doações em sistema drive-thru. A pessoa chega no nosso portão, o voluntário recebe a doação direto do seu carro e, imediatamente, já encaminha para nosso estoque. Na parte da nossa organização interna, tomamos todos os cuidados como evitar muitas pessoas juntas no mesmo espaço, higienizar todos os itens que recebemos e usar sempre máscaras, luvas e álcool em gel. Esse cuidado também segue na hora de entregar a cesta na casa das famílias que nos procuraram, sempre cuidando para que todos estejam seguros ao receber a doação”, detalhou o padre Rogério.

“Nossa campanha é uma reflexão sobre a própria pandemia. Prevenção, informação, cuidado, comunhão. Tudo isso sob o ideal da solidariedade”, ponderou Zavala. “Como não fechamos nossas portas em nenhum momento deste ano, incorporamos em nossa prática todas as medidas sanitárias. Mais do que isso, incentivando que as pessoas, empresas, organizações e governos se humanizem mais em relação aos impactos dela”, acrescentou.

A campanha da Cáritas também levou isto em consideração. De acordo com Oliveira, todas as ações da campanha priorizam o caráter virtual. “Pedimos que o pessoal trabalhe em âmbito virtual. Mas caso isso não possa ser possível, permitimos a atividade presencial, desde que se respeite o distanciamento entre pessoas, o uso de máscara, há todas essas regras que a Cáritas segue. Mas mesmo com todo este processo pandêmico, a campanha está acontecendo”, ponderou.

Após o Natal

O cuidado com os mais necessitados não terminará com as festas natalinas. Todas essas iniciativas serão refletidas ao longo de 2021 — até mesmo porque não há uma data para o fim desta pandemia.

“Nós criaremos um fundo solidário para que possa beneficiar todas as pessoas em situação de vulnerabilidade social”, disse Oliveira. “Pretendemos continuar com a campanha até quando houver necessidade”, reforça o padre Rogério, da paróquia Espírito Santo. “Enquanto tivermos famílias nos procurando querendo ajuda, estaremos aqui para minimizar o sofrimento delas”, reforça.

O Sefras também pretende estender os trabalhos da campanha “Quanto Vale uma Vida?”. “Nossa ideia é que a campanha fique até fevereiro, pelo menos. Acreditamos que precisamos de mensagens positivas para além do final de ano. Pensar no amor, solidariedade e empatia é uma mensagem para o ano inteiro”, finaliza.

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