Coronavírus

Infectologista destaca solidariedade e informação no combate à pandemia

Infectologista Adelia Marçal esclarece informações sobre a transmissão da covid-19 e cita aliados no combate ao vírus

Julia Beck
Da redação, com colaboração de Elane Gomes

Profissionais de saúde de Manaus atendem população nos Postos de Saúde/ Foto: Altemar Alcantara – Latin America News Agency via Reuters

No início desta semana, o Brasil ultrapassou os 160 mil casos confirmados de coronavírus. Apesar do grande número de infectados no país, a médica especialista em doenças infeciosas, Adelia Marçal, explica que, perto do tamanho da população brasileira, os casos confirmados ainda são considerados poucos. “Ainda veremos muito mais casos da doença”, garantiu.

A médica liderou o programa nacional de controle de infecções da Anvisa (2002/2007) e atuou no controle de vários surtos de infecções no Brasil e no Canadá. “O aumento rápido da transmissão da doença impacta muito porque não temos a capacidade de atender as pessoas que estão doentes e dar suporte a elas para passar a fase pior da doença e se recuperar”, sublinhou Adelia.

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O distanciamento social defendido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e adotado em países do mundo todo é considerado pela médica como a medida mais eficaz para evitar o contágio generalizado da doença. “A grande questão de manter o distanciamento e os cuidados que veem sendo divulgados é para que não aconteça tudo ao mesmo tempo e seja possível cuidar das pessoas. As pessoas não precisam morrer desnecessariamente por falta de atenção”, afirma Adelia.

Para que seja possível compreender a opção pelo distanciamento social, a médica esclarece como ocorre a transmissão da covid-19 e o porquê do alastramento da doença estar intimamente ligado à forma como as pessoas se relacionam e estão convivendo: com muita proximidade ou mantendo o distanciamento.

“O distanciamento impede que as gotículas de respiração e saliva, que saem da boca quando a gente fala, respira ou canta e saem a grandes distância quando a gente tosse e espirra, caiam em grande quantidade na pele ou rosto de outras pessoas ou no ambiente em que estamos. Essa proximidade e a manutenção dela que determinam a velocidade do contágio”.

São Paulo: epicentro da covid-19

São Paulo é considerado o epicentro da covid-19 no Brasil. A médica Adelia comenta que esse fato está intimamente ligado ao início da transmissão no país, já que as pessoas que adquiriram a doença fora do país vieram, principalmente para a grande capital, por conta dos aeroportos internacionais que facilitam a mobilidade aos países que já tinham muitos casos da doença.

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A doença demora a se manifestar e há casos em que os infectados não apresentam sintomas da doença. Sobre esses últimos, a infectologista revela que são os principais transmissores da doença. “Como não se sente doentes, essas pessoas saem de suas casas e, com isso, têm contato com outro núcleo de pessoas e, assim, ocorre a transmissão”.

Aumento dos casos nas periferias

Segundo a médica Adelia, o aumento dos casos da doença nas periferias está ligado ao fato de as pessoas viverem mais próximas uma das outras.  “Se uma pessoa fica doente, logo passa para várias outras por causa dessa proximidade e desse contato. Nos lugares em que as pessoas vivem menos próximas das outras, é possível fazer o chamado distanciamento social, assim, a velocidade de transmissão é mais lenta”.

A médica esclarece que, após a pandemia, os bairros onde as pessoas ficam mais espalhadas terão um retorno mais rápido. “Elas têm espaço de convivência e conseguem manter o distanciamento”. Nas periferias, a retomada é mais difícil, frisa Adelia. “Os espaços de circulação são menores, as áreas de lazer são menores, quando existem. Então, é difícil conseguir começar a mobilidade sem que voltem as aglomerações”.

Solidariedade e comunicação

A infectologista avaliou como positivo e importantíssimo o movimento de solidariedade que tem surgido de dentro para fora das comunidades. “Se a população não se tornar solidária, ela fará mal para si mesma”, destacou. Para a médica, a solidariedade pode ser vista no aspecto financeiro e também social, quando a comunidade mantém o distanciamento social.

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 “A doença caminha em círculo e em ondas. Tem a primeira onda que pega bastante gente; depois, as pessoas fazem o distanciamento; e, quando perdem a resiliência para mantê-lo, aproximam-se, e aí o vírus chega novamente e causa um novo pico de transmissão. Nas periferias, vemos a alta gestão dentro das comunidades. As pessoas têm se organizado para dar apoio para os que não podem ter contato com o vírus porque são mais frágeis e para as famílias que estão sem condições financeiras”.

Adelia afirma que a comunicação e o acesso digital às notícias de qualidade, assim como a solidariedade, ajudam a salvar vidas. ”Precisamos prover comunicação, porque a informação organizada e bem feita é que vai ajudar as pessoas a não terem a falsa ideia de que o problema acabou. Cultura de cuidado e segurança é o principal para manter as ações de prevenção e controle da doença. (…) A desinformação piora a pandemia”.

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