Com mais de 400 mil padres em todo o mundo, a Igreja no Brasil celebra as vocações: “A vocação é mistério, dom de Deus e parte da nossa generosidade a ele”, afirma padre
Ronnaldh Oliveira
Da redação
Em agosto, a Igreja no Brasil, dentro de sua dinâmica pastoral, celebra as diversas vocações presentes no seio da comunidade cristã. Nesta primeira semana, celebram-se os ministros ordenados. A proximidade com a memória litúrgica de São João Maria Vianney (4 de agosto), patrono dos párocos, faz a Igreja celebrar com alegria os presbíteros de todo o mundo, bem como os diáconos.
O Concílio Vaticano II afirma que o Sacerdócio ministerial não é um super poder que torna o presbítero um super-cristão, superior aos outros. Ele é chamado a viver o seu ministério com as mesmas virtudes do seu patrono.
A serviço dos outros, no cuidado e compaixão, no ministério da reconciliação e da misericórdia, na atenção aos doentes, na celebração eucarística, o sacerdote é chamado a configurar-se ao Cristo Bom Pastor e o faz essencial na comunidade local. Segundo o Censo Católico de 2021, no mundo são 414.336 sacerdotes que são divididos em 278 circunscrições eclesiásticas, entre dioceses, arquidioceses, prelazias e eparquias.
O sacerdote regular e o secular
O clero regular é conceituado a partir da pertença a um instituto, para a vivência de uma espiritualidade particular, sob uma regra e, no caso dos membros de institutos religiosos, pela profissão de votos ou promessas a eles equiparadas: pobreza, castidade e obediência. Vive sob uma regra, com um superior do Instituto, (ordem, congregação etc). Reside em uma comunidade comum, com outros religiosos e consagrados.
O clero secular é aquele incardinado em uma Igreja Particular, reunido em torno de um Bispo (Arquidiocese, Diocese, Administração Apostólica, Prelazia Territorial, Prelazia Pessoal etc). Não fazem votos, podendo, portanto, ter propriedade, salário, não vivem em comunidade, e dependem apenas de seu Bispo. Estão a serviço exclusivo da Diocese, não de uma ordem ou congregação.
O testemunho de entrega
Padre Trajano Mascarenhas Horta é um sacerdote regular, da Pia Sociedade de São Francisco de Sales, os Salesianos. Com 87 anos, hoje reside em Campinas, na Comunidade Nossa Senhora Auxiliadora, com outros religiosos em tratamento de saúde.
Durante toda a sua vida salesiana, dedicou-se à formação de novos salesianos, escolas e obras sociais. Com especial predileção às artes teatrais, desde sua época de formação encenava, dirigia e produzia espetáculos. Também cenógrafo, chegou em 2015 a ganhar uma premiação de melhor cenógrafo de um festival profissional teatral no Vale do Paraíba, em São Paulo.
Natural de Piracicaba, viveu cerca de 25 anos em várias presenças salesianas no nordeste do Brasil. Hoje se dedicando ao ministério do Sacramento da Reconciliação, atende crianças, jovens e adultos como pode.
“Vocação é sempre mistério, chamado de Deus. Ele chama a quem quer e responde sim quem quer. É um chamado que respeita a nossa liberdade. Minha família pensava que o padre da família seria meu irmão, mas Deus chamou a mim”.
Seu irmão estudava no colégio salesiano, mas Trajano frequentava o oratório festivo aos finais de semana, com brincadeiras, jogos lúdicos e oração.
“Deixei-me levar pelo entusiasmo dos salesianos que trabalhavam no oratório de Piracicaba. Eles transformaram o meu bairro e isso me fez pensar muito. Por que eu não poderia ser também salesiano, trabalhando pelo bem das crianças, dos adolescentes e dos jovens, sobretudo daqueles que mais precisam”?
Ao sentir-se inquieto com tal situação, o jovem foi logo conversar com seu pai. “Quando disse ao meu pai que queria ser salesiano, ele levou para a família: ‘Trajano está querendo ser padre salesiano. É uma vocação que não é só dele, é um chamado de Deus para a nossa família. Vocês estão de acordo que ele vá para o Seminário?’ Gostei de ver a visão de vocação do meu velho pai!”.
O padre acredita que, sobretudo no dia do sacerdote, a Igreja deve rezar pelas vocações e pela generosidade dos adolescentes e jovens de hoje. “Que não falte na igreja a generosidade daqueles que dizem ‘sim, eu topo’”.