Celebração Eucarística

Homilia de Dom Damasceno na Assembléia de Itaici

Queridos irmãos no episcopado, caros irmãos no ministério presbiteral, caro diácono, religiosas, religiosos, caros fiéis leigos, o belo e louvável é a tradição da nossa conferência de, a cada ano, celebrar a Eucaristia pelos irmãos falecidos desde a última assembléia.

No lapso de um ano, onze de nossos irmãos passaram desta vida para a casa do Pai. Alguns deles, mais jovens e com menos de dez anos de ordenação episcopal; outros, a maioria deles, já idosos e com um longo caminho percorrido com o povo de Deus. Ao fazer memória, nesta Eucaristia, de nossos queridos e saudosos membros da conferência, queremos, unidos a Cristo, o Bom Pastor, elevar a Deus nossas preces em sufrágio por suas almas. Nesta celebração, louvamos e agradecemos a Deus pelas vidas de nossos irmãos, doadas, até o fim, ao Reino de Deus. No mister de pastores e guias espirituais de suas comunidades, na celebração da Páscoa definitiva de nossos irmãos, no reino da vida eterna, após terem eles vencido toda a sorte de provações, podemos repetir as palavras do apóstolo São Tiago: “Feliz o homem que enfrenta a provação, porque, uma vez reconhecido o seu valor, receberá a coroa da vida que o Senhor prometeu aos que O amam”.

Entre os bispos falecidos desde a última assembléia, peço-lhes permissão, caríssimos irmãos e irmãs, para destacar a figura de meu predecessor na Arquidiocese de Aparecida, o cardeal-arcebispo dom Aloísio Lorscheider, falecido no dia 23 de dezembro do ano passado, em Porto Alegre (RS). Nos últimos anos, passados na capital gaúcha, junto de seus confrades, na casa provincial, levou, como todos nós sabemos, vida simples e modesta.

Dom Aloísio exerceu importantes cargos na Igreja e os desempenhou com grande diligência e competência. Entre muitas outras funções exercidas foi secretário-geral e presidente da CNBB, cargos que ocupou durante os difíceis anos do regime militar. Nesse período, dom Aloísio defendeu, com firmeza, o bem comum, os direitos humanos dos perseguidos pelo regime e o papel social da Igreja. Foi também presidente do Conselho do Episcopado Latino-Americano (CELAM) e da Cáritas Internacional, um dos presidentes de Puebla [III Conferência Latino-Americana] e participou também de várias comissões do Concílio Vaticano II.

“É bom ser importante, mas é mais importante ser bom”, disse o Papa João XXIII. Dom Aluísio, embora tenha exercido funções da mais alta relevância, destacou-se sempre, sobretudo, por sua imensa bondade e modéstia. Como poucos, compreendeu que todo cargo é serviço e, por isso, procurou testemunhar, na sua vida e no seu ministério, a paternidade de Deus e a bondade, solicitude e misericórdia de Cristo, o grande Pastor das ovelhas.

Seu testamento, escrito em Roma, em 21 de junho de 1990, revela o seu grande amor à Igreja e seu espírito de fé. A sua simplicidade e o despojamento das coisas materiais foram marcas de sua espiritualidade. Eis alguns trechos do seu testamento: “Nunca me afastei da orientação do Papa; a comunhão com ele é garantia de segurança. Gratidão aos meus irmãos cardeais, arcebispos e bispos, aos padres, religiosos e religiosas, cristãos leigos e pessoas de boa vontade que encontrei nesses meus anos de vida. Amei muito a nossa conferência. Quanta luz, quanta orientação, quanta dedicação! Ela é uma bênção para a nossa Igreja no Brasil, também o CELAM o é. Não existe morada mais feliz do que a morada do meu Senhor. Ele foi à frente prepará-la e nunca decepcionou ninguém. Fico à espera de todos juntos do Pai. Aproveitem o tempo que ainda lhes resta. Só junto do Senhor podemos ser felizes”.

Caríssimos irmãos e irmãs, busquei esses trechos do testamento de Dom Aloísio para, neste momento de saudade, evocar sua memória, como também a de todos os demais irmãos falecidos. Recordando-nos de quão simples e generosa foi a sua vida, como certamente a todos os nossos irmãos falecidos; de quão firme e segura foi sua fé. Em breve resumo, a existência terrena de Dom Aloísio foi toda tecida de santidade, amor e fidelidade. Por certo, tantas qualidades pessoais o farão sempre lembrado como um dos expoentes do episcopado brasileiro; um dos mais belos exemplos para todos quantos integram e vierem a integrar os quadros de nossa conferência episcopal. Nas Palavras do Evangelho de João, encontramos esta verdade: “Aquele que Deus enviou fala as Palavras de Deus, porque Ele lhe dá o Espírito sem medida. O Pai ama o Filho e entregou tudo em suas mãos”. Este trecho do Evangelho de hoje mostra-nos a plenitude da graça que recebemos do Cristo ressuscitado, que é, para nós, a revelação de Deus, do amor d’Ele, a nossa riqueza, o nosso maior tesouro. Quem crê n’Ele – assegura-nos a Palavra de Deus – possui, verdadeiramente, a vida eterna. No Cristo ressuscitado, essa vida nova está em nós.

O Papa Bento XVI, no discurso inaugural da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, falou-nos da importância única e insubstituível de Cristo para nós, para a humanidade. Se não conhecemos Deus em Cristo e com Cristo – toda a realidade se converte em um enigma indecifrável. Não há caminho; e, ao não haver caminho, não há vida nem verdade. Em seu discurso à Cúria Romana, em dezembro do ano passado, Sua Santidade afirmava: “Em Jesus Cristo, surgiu, para nós, a grande luz. Não a podemos colocar debaixo do alqueire, mas devemos pô-la numa lucerna para que ilumine a quantos estão na casa”.

Caríssimos irmãos e irmãs, que os exemplos deixados por nossos irmãos falecidos nos inspirem e nos fortaleçam na missão que Cristo confiou aos apóstolos e a nós bispos, seus sucessores. “Ide, pois, fazer discípulos de todas as nações, batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinai-lhes a cumprir tudo quanto vos mandei. E Eu estou sempre convosco, até ao fim dos tempos” (Mt 28,18-20; cf. ainda Lc 24,46-48; Jo 17,18; 20,21; Atos 1,8).

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo. Para sempre seja louvado.

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