CAMPANHA

Fevereiro Roxo: entenda os cuidados com Lúpus, Fibromialgia e Alzheimer

Campanha, que teve início em 2014, reforça os cuidados contra o Lúpus, a Fibromialgia e o Alzheimer; duas dessas doenças são mais presentes entre as mulheres

Thiago Coutinho
Da redação

Lúpus, Alzheimer e Fibromialgia são as doenças recordadas neste mês pela campanha Fevereiro Roxo, que é realizada pelo Ministério da Saúde desde 2014. Em comum, as três doenças apresentam uma característica: não têm cura. Mas a medicina consegue oferecer maneiras de tratá-las. Estudos e pesquisas apontam diversas maneiras para que as pessoas consigam levar uma vida normal.

Começando pelo Lúpus, uma doença autoimune crônica. Tecidos saudáveis do corpo são atacados pelo sistema imunológico, causando assim inflamações que resultam em danos em órgãos como pele, articulações, rins e até no coração. Dores nas articulações, cansaço extremo e erupções cutâneas são alguns dos sintomas da doença. Estimativas apontam que 65 milhões de pessoas no mundo sofrem com a doença. Um detalhe interessante: a maior parte delas são mulheres, sobretudo entre 15 e 45 anos. O Lúpus, porém, pode também acometer homens e crianças.

Também conhecida como a síndrome das dores invisíveis, a Fibromialgia tem como principal característica as dores crônicas. As mulheres, assim como aquelas acometidas pelo Lúpus, são as vítimas mais comuns. “A fibromialgia é uma síndrome crônica que causa principalmente dor músculoesquelética generalizada e sensibilidade em várias partes do corpo”, afirma Renan Jorge, médico acupunturista e diretor do Colégio Médico de Acupuntura de São Paulo (CMAeSP).

“Além da dor persistente, outros sintomas comuns incluem fadiga intensa, distúrbios do sono (como sono não reparador), dificuldades de concentração e memória (chamadas de “fibro fog” ou “nevoeiro mental”) e alterações no humor, como ansiedade e depressão”, acrescenta o especialista.

Por que mulheres?

A medicina moderna ainda não sabe explicar o real motivo, mas o fato é que, de acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), a cada 10 pacientes com fibromialgia, sete a nove são mulheres. “Embora as causas exatas não sejam totalmente compreendidas, acredita-se que fatores hormonais desempenhem um papel importante, pois os níveis hormonais (como estrogênio) podem influenciar a sensibilidade à dor”, justifica Renan. “Além disso, diferenças na forma como o cérebro das mulheres processa os sinais de dor podem contribuir para essa maior prevalência. Aspectos genéticos e sociais (como o maior relato de sintomas pelas mulheres por exemplo) também são considerados fatores relevantes”.

Alguns cuidados podem impedir que a doença avance. Existem medicamentos que ajudam no controle da dor e na melhora do humor e do sono. Há ainda terapias complementares, como fisioterapia, acupuntura e terapia cognitiva-comportamental, que ajudam a lidar com a dor e o estresse.

Por fim, são necessárias mudanças no estilo de vida. “É preciso manter um sono regular, reduzir o estresse e adotar hábitos saudáveis. O apoio psicológico também é importante para o manejo da ansiedade e depressão frequentemente associadas [à doença]”.

A prática periódica de exercícios físicos, segundo o especialista, como exercícios aeróbicos leves e regulares, caminhadas, natação ou alongamentos, ajudam a aumentar a produção de endorfinas (analgésicos naturais do corpo), melhoram a qualidade do sono e reduzem o estresse. “O fortalecimento muscular também pode reduzir a dor. Além disso, uma dieta balanceada, rica em nutrientes e com propriedades anti-inflamatórias (como ômega-3 e antioxidantes por exemplo), ajuda na disposição, a melhorar o humor, reduzindo a fadiga e o desconforto”, afirma.

Cláudia Alves e sua mãe, portadora de Alzheimer / Foto: Arquivo Pessoal

Doença de Alzheimer

Uma doença neuro-degenerativa que provoca o declínio das funções cognitivas, reduzindo as capacidades de trabalho e relação social. Essas são as principais características que definem o Alzheimer. O avanço da doença leva à perda de funções cognitivas, reduz as capacidades de trabalho e atrapalha na relação social. Além disso, o Alzheimer é a causa mais comum de demência.

O convívio social se torna mais complicado para as pessoas acometidas pelo Alzheimer. E foi pensando numa forma de tratamento mais humanizada que Claudia Alves Silva, gerontóloga, especialista em saúde pública e cuidados paliativos decidiu levar adiante o projeto O Bom do Alzheimer — que ela mantém com atualizações periódicas nas redes sociais.

“Descobri o diagnóstico de Alzheimer da minha mãe em 2010, e de 2010 a 2016, foi quando eu comecei a gravar vídeos”, recorda Claudia. Durante esses anos, a gerontóloga se dedicou a aprender o máximo sobre a doença. Espantou-se com a maneira negativa com que as pessoas relatavam suas experiências com a doença e decidiu que poderia fazer algo oposto e humanizar o tratamento.

“E, sim, eles precisam de cuidados contínuos de atenção e presença. Essa presença é fundamental para que essa relação seja tranquila”, reforça Claudia. Os sintomas da doença, ao contrário do que poderia se supor, são sim percebidos pela pessoa. “A vida deles muda, eles começam a esquecer coisas e eles percebem que tem alguma coisa diferente. E quando nós temos uma família, todo mundo tem que se envolver nesses cuidados, porque geralmente é um membro da família que é a pessoa mais idosa, que já passou por tantas coisas. É justo que toda família se envolva nos cuidados. Isso faz com que o cuidador principal tenha uma carga menor, o estresse menor quando existe a participação dos outros membros da família. Do marido, dos filhos, dos netos”, reforça.

O segredo para Cláudia é transformar o sofrimento que a doença causa — e isso começa primordialmente em nós. É assim que o cotidiano de quem lida com o Alzheimer pode se tornar mais leve. “Quando a gente consegue transformar o nosso olhar para o doente, a gente começa a olhar mais o ser humano, a pessoa que está sendo cuidada como um ente querido nosso, como uma pessoa que a gente ama, a gente consegue não olhar tanto para a doença e começa a modificar a forma como você cuida dessa pessoa. E quando você começa a modificar esses cuidados, esse doente se transforma também, fica mais suave, fica mais seguro. E aí a sua vida também fica mais leve, suave e você tem mais segurança nos cuidados”, finaliza.

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