Dia de São João Batista é celebrado de forma peculiar no nordeste do Brasil; sacerdote comenta curiosidades dessa devoção popular
Fernanda Lima
Da Redação

Estandarte de São João Batista / Foto: Sidney Almeida via Canva
O mês mais aguardado pelos nordestinos é sinônimo de alegria e devoção. Nesta terça-feira, 24, a Igreja Católica celebra a solenidade litúrgica do nascimento de João Batista. A devoção ao santo é profundamente enraizada na cultura e tradições nordestinas, manifestando-se principalmente durante as festas juninas.
A cidade de Caruaru (PE) é conhecida por possuir o “Maior e Melhor São João do Mundo”. O evento de grande porte e de repercussão nacional é organizado desde 1984. O sacerdote pernambucano, Padre Paulo Jorge, partilha os aspectos marcantes nesse período e ressalta que a fé é elemento essencial das festas juninas.

Padre Paulo Jorge / Foto: Arquivo Pessoal
“Desde os tempos antigos, comunidades eclesiais promovem novenas e ladainhas em honra aos santos do mês (Santo Antônio, São João Batista e São Pedro). Ao final das orações, surgia o momento de confraternização com comidas de milho, brincadeiras e cantorias embaladas por sanfona. O que era encontro simples se transformou, com o tempo, em grandes celebrações populares”, explica.
Ao redor da fogueira, famílias se reúnem, partilham alimentos, trocam conversas e soltam fogos de artifício. Padre Paulo comenta a origem histórica dessa tradição. “Segundo a tradição popular, foi Zacarias, pai de João Batista, quem acendeu uma fogueira para anunciar aos vizinhos o nascimento do filho. A simbologia atravessa os séculos e chega até nós como sinal de alegria, esperança e luz que aquece não apenas o corpo, mas também a alma”, expressa.
O sacerdote recorda que, há tempos, a Igreja cultiva essa prática. “Embora alguns digam que a festa perdeu suas raízes, muitos ainda compreendem que é possível vivê-la com autenticidade e fé. A fogueira continua a ser espaço de reencontro. As festas dos santos juninos possibilitam o aprendizado e fomento da fé”, frisa.

Apresentação de Quadrilha em Gravatá (PE) / Foto: Danielly Maria
Festas Juninas
As tradicionais festas juninas ganharam força em toda a região Norte e Nordeste do Brasil, além de laços fortes na cultura popular abrangendo todo o território brasileiro.

Padre Tiago Machado / Foto: Arquivo Pessoal
Padre Tiago Machado da Silva, natural de São Luís do Maranhão, atualmente é pároco na diocese de Paranaguá (PR). O sacerdote ressalta que, além de ser uma temporada cultural, as festas juninas tem grande ênfase religiosa por homenagear os santos Católicos: Santo Antônio, no dia 13 de Junho, São João, no dia 24, e São Pedro, no dia 29.
“Cheia de tradições, costumes, brincadeiras e comidas típicas… essa é uma das mais belas tradições, que atravessam o tempo e a história marcando diferentes gerações. Somos guardiães desta herança deixada por nossos antepassados”, afirma.
O sacerdote destaca que, no nordeste, essa época é considerada tão significativa quando as festividades de fim de ano. “Creio que um grande desafio de quem nasceu entrelaçado neste misto de cultura e religião é a de manter viva em seu coração a feliz memória de tudo o que se vive no tempo e na história”, expressa.
Segundo padre Tiago, nessa época é possível contemplar uma forte comunhão religiosa. “Por onde nós, nordestinos, passamos, deixamos um pouco da nossa cultura e contagiamos a tantos com nosso estilo de celebrar uma grande manifestação cultural e religiosa do povo brasileiro, patrimônio cultural da humanidade”, concluiu.