Usuário por quase seis anos, o jovem conta que usou a primeira droga aos 14 anos porque queria ser “descolado” e se adaptar a grupos sociais
André Cunha
Da redação
O crack é um derivado da pasta base da coca, estabilizada com a adição de uma substância alcalina (base) como, por exemplo, o bicarbonato de sódio, e é primariamente consumido como uma pedra fumada. Foi identificado inicialmente nas ruas dos Estados Unidos na década de 1980, com forte concentração em comunidades em situação de vulnerabilidade social. No Brasil, não há registros precisos acerca de quando o crack passou a circular.
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O último levantamento feito pelo Governo Federal sobre o crack no Brasil (2015) mostrou que 370 mil pessoas usam a droga regularmente. Se não fosse algumas intervenções, o estudante universitário, Lucas de Paula (29 anos), faria parte desse número. Mas com a ajuda da família, de organizações sociais e da fé, ele superou o vício. Hoje, residindo em Cachoeira Paulista (SP), namora e participa de um grupo de jovens ligado à Canção Nova, os Jovens Sarados.
Na terceira reportagem da série desta Semana Nacional Antidrogas, confira a entrevista e saiba como o jovem conseguiu superar o vício das drogas.
1) Quando e por que você começou a usar drogas?
Lucas: O ano era 2002, eu tinha 14 anos de idade. Eu acabara de mudar de cidade, estava ingressando no Ensino Médio e comecei a me relacionar com pessoas mais velhas, nessa época eu queria ser “descolado”. Até então o que eu sabia sobre drogas era o que eu via pela TV, no noticiário policial. Mas não demorou muito para conhecer alguns jovens que já usavam maconha a algum tempo, logo, por curiosidade, tive a minha primeira experiência com essa droga.
2) Quais drogas chegou a usar? Qual estágio você atingiu como usuário (uso aleatório ou viciado)?
Lucas: Primeiro foi a maconha com 14, depois, já com 18 anos, tive o primeiro contato com a cocaína. Essa, por sua vez, me levou à curiosidade de experimentar algo mais forte. Foi aí que eu fiz uso do crack misturado ao cigarro de maconha, o “mesclado”. Mais tarde conheci o lança perfume. E tudo isso sempre foi regado a muita bebida alcoólica. Eu fui um usuário ativo, fazia uso de maconha todos os dias. Cocaína e álcool todos os finais de semana e, eventualmente, as demais drogas.
3) Quando e como percebeu que precisava parar?
Lucas: Na verdade, se dependesse apenas de uma percepção minha, talvez eu não teria parado. A pessoa que mais me auxiliou nesse tempo foi a minha mãe, com muita oração e bons conselhos, ela foi ajudando a abrir meus olhos para essa realidade. Mas ainda assim eu relutei durante muito tempo e não aderi à ideia de largar aquela vida. Essa rebeldia me levou a uma série de perdas: primeiro foi a interrupção nos estudos, no segundo ano do Ensino Médio – isso após duas repetências -, depois o trabalho, o qual era a fonte do dinheiro usado para comprar drogas e sair para as noitadas. Após uma sucessão de acontecimentos ruins eu comecei a entender a necessidade de parar com aquilo.
4) Quais meios utilizou para se livrar do vício?
Lucas: Para explicar isso, preciso dizer que meus pais são separados. Meu pai era alcoólatra, ele agredia fisicamente a minha mãe e isso levou ao fim do casamento. Nesse tempo eu tinha apenas 2 anos. No período da minha drogadição, já fazia 7 anos que meu pai estava em recuperação junto aos Alcoólicos Anônimos e com isso tinha uma base sólida para me ajudar a sair do fundo do poço em que me encontrava. Foi aí que minha mãe entrou em contato e pediu sua ajuda para me tirar dali. Meu pai se prontificou a me levar para morar com ele, mas no início eu não queria mudar de cidade, só que isso foi inevitável. Nesse tempo, morando com meu pai e já tendo parado de usar drogas, comecei a participar das reuniões de Alcoólicos Anônimos, que aconteciam nos fundos da Paróquia São Filipe Neri, em São Paulo. Não demorou e eu passei a ir às Missas dominicais. Com o passar do tempo fui convidado a fazer o curso de Crisma e a participar de um retiro para jovens. Nesse retiro tive a graça do meu primeiro encontro pessoal com Jesus e minha vida foi tomando um novo sentido e eu pude perceber o quão importante é viver de “cara limpa”.
5) Acredita que há esperança para um viciado que está a anos nessa vida?
Lucas: Sim, com certeza! Claro que muitas vezes não somos suficientemente fortes para nos livrar de alguns males deste mundo, mas devemos nos agarrar a primeira oportunidade que nos oferecerem. A família é um grande porto seguro para quem quer se livrar do mundo das drogas. Mas também é preciso muita força de vontade, pois além de lutar contra as seduções do mundo, temos uma batalha contra o nosso organismo que necessita de uma desintoxicação e esse processo é lento e muitas vezes doloroso. Entre tantos meios de se livrar do mundo das drogas, o mais eficaz é sem dúvidas a fé. Fé em Deus e na Sua Infinita Misericórdia, que age sempre na vida daquele que se abre de coração.
Sete regras
Confira abaixo, as “Sete regras básicas para interrupção do consumo de cocaína” (Washton, 1989) que, segundo especialistas, são válidas também para dependentes de outras drogas e/ou álcool.