Finanças

Especialistas ensinam como organizar as contas no início do ano

Também a psicologia tem uma área de atuação que pode ajudar a organizar as contas, especialmente em tempos de pandemia

Thiago Coutinho
Da redação

Falta de organização econômica pode atrapalhar a vida, especialmente neste início de 2022 / Foto: ijeab por Freepik

Após o fim de ano, o clima de festa dá lugar ao planejamento financeiro que se evidencia com a chegada das contas extras nessa época, como IPTU, IPVA e material escolar. Essas se somam às despesas correntes, como água, luz, internet, alimentação e evidenciam a necessidade de organizar as contas. 

A organização financeira se torna um item imprescindível, especialmente em tempos de crise econômica. Dados do Serasa apontam para 63,4 milhões de inadimplentes, o maior índice registrado desde julho de 2020 no Brasil.

“É fato que, no início do ano, temos contas que nos apertam mais do que o costume”, explica a economista Danielle de Souza Ribeiro. “O maior segredo para não se perder em meio a essas contas é ter um planejamento prévio, pois essas contas já viriam. O ideal é fazer uma reserva para provisionar esses valores”, aconselha.

Para o pagamento do Imposto sobre Propriedade de Veículos (IPVA), por exemplo, a economista sugere que o próprio proprietário do automóvel faça um parcelamento de 12 vezes do valor, guarde este dinheiro e, então, no início do próximo ano, pague-o à vista, com desconto. “Caso isso não seja possível, parcele os pagamentos no início do ano”, diz.

Sobre o material escolar, o conselho é um só: pesquisa. “Pesquise em papelaria e na internet. E antes de comprar quaisquer materiais, veja se algo do ano anterior não pode ser reaproveitado. Uma ótima dica também é a compra coletiva, com outras famílias. Assim, os pais podem conseguir mais descontos”, explica.

Inadimplência

O nível de endividamento dos brasileiros cresceu bastante — sobretudo com a chegada da pandemia. “Quando isto acontece, a taxa de juros de empréstimos fica maior e, muitas vezes, as margens desses empréstimos são bloqueadas por conta da inadimplência”, detalha Danielle.

Financiamentos de imóveis e carros, num quadro assim, acabam sendo barrados. “Tanta a falta da educação financeira quanto o nível de desemprego acabam influenciando neste alto número de inadimplentes”, lamenta.

Para a economista, o ideal é fazer uma reserva de emergência de 30% do salário. “A reserva de emergência é seu padrão de vida vezes seis. Por exemplo: se seu padrão de vida é de R$ 2 mil, sua reserva de emergência terá de ser R$ 12 mil”.

Economizar, porém, é precedido de um controle das finanças que deve evitar uma armadilha muito comum: o consumismo. “Temos que responder três perguntas [para combater o consumismo]: 1º) eu preciso desse produto ou serviço?; 2º) devo comprar este produto ou serviço?; 3º) posso comprar este produto ou serviço? Se a resposta for não para quaisquer questões, você não deve comprar”, ensina Danielle.

Por fim, tentar renegociar o que deve é o primeiro passo para a organização econômica. “O próprio Serasa oferece [órgão que ] condições de facilitamento de dívidas com juros baixíssimos ou, em alguns casos, sem juros algum. Mas o primeiro passo é fazer o controle de suas dívidas. Saber o valor exato do seu prejuízo, cortar todos os possíveis gastos extras com foco no pagamento dessas dívidas. E, por fim, evite fazer novas dívidas para que o processo não vire uma bola de neve”, adverte.

Psicoterapia Financeira

Além da educação financeira, existe uma outra ferramenta que pode auxiliar muito na educação econômica: a Psicoterapia Financeira. Trata-se de um novo campo abordado pela psicologia. Ainda que pouco difundido no Brasil, é um ramo de atuação forte nos Estados Unidos, segundo explica Andreza Manfredini, psicóloga especialista em finanças, graduada pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (USP).

“É um novo campo de atuação na psicologia. Embora, em 2021, a psicologia econômica tenha completado 140 anos de existência, a Psicoterapia Financeira é muito pouco discutida”, afirma Andreza.

O tema já foi dissecado pela psicóloga em uma pesquisa que desenvolveu junto à USP. “Atualmente, faço uma pesquisa pela USP de Ribeirão Preto em que estudo a Psicoterapia Financeira com casais. Como eles conversam e lidam com o dinheiro”, explica.

De acordo com Andreza, a falta de dinheiro, muitas vezes, é a ponta do iceberg dos problemas financeiros de um casal que a terapia pode ajudar a resolver. “Há toda uma construção lá atrás, mais profunda, em que a falta de dinheiro foi uma consequência de um relacionamento financeiro de maneira rígida no sentido permissiva ou controladora demais. A má gestão também pode ser uma forma de causar conflitos. A procrastinação também. Muitos casais acabam sem entender por que estão se relacionando desta forma com o dinheiro, uma vez que estão bem, mas estão endividados, não conseguem construir algo juntos, não prosperam”, afirma.

A maneira de lidar com o dinheiro, segundo a especialista, é fundamental. “Na verdade, não é a quantidade de dinheiro que vai levar a um conflito, mas a forma com que as pessoas, os casais se relacionam com o dinheiro que é significativo para uma má gestão ou uma quantidade maior de dinheiro”, assevera.

Rotina de gastos

É importante, de acordo com a terapeuta, ter em mente que a rotina de gastos pode se assemelhar à rotina de exercícios físicos: o cuidado com o dinheiro tem que ser periódico e sistemático. “Todos dizem que vão começar uma dieta ou exercícios físicos, mas ao final da semana já estão cansados. O dinheiro interfere nas relações familiares e também as emoções, os aspectos psicológicos, interferem muito nesta relação com o dinheiro”, analisa.

Andreza explica ainda que as constantes mudanças de moedas no Brasil até a chegada do real, além das disparadas inflacionárias, fizeram com que o brasileiro não conseguisse criar a consciência de reservar dinheiro e, por conseguinte, ter a consciência de uma educação financeiro mais apurada. E isso ficou bem evidente com a chegada da crise sanitária causada pelo coronavírus.

“Conseguir pensar em saídas em momentos de conflito, tomar atitudes financeiras em meio a uma crise é difícil. Mas quem soube criar uma reserva financeira, conseguiu pensar melhor”, diz. “E aquelas famílias que agem na linguagem do consumismo são afetadas muito negativamente nestas situações. Isto afeta a saúde mental das pessoas. Dificilmente elas conseguem se organizar e guardar dinheiro. A pandemia, porém, trouxe algo certo: a imprevisibilidade dos fatos. Por isso o planejamento financeiro é fundamental no mundo que vivemos”, finaliza.

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