Os cortejos da tradicional festa do Morro da Conceição estavam suspensos devido à pandemia da Covid 19
Mauriceia Silva
Da Redação
Recife recebe a 118ª edição da Festa de Nossa Senhora da Conceição do Morro nesta quinta-feira, 8. Mais uma vez, a zona Norte do Recife se torna um local de fé e devoção por meio dos milhares de católicos que sobem o morro para agradecer, pagar promessas por graças alcançadas, ou fazer seus pedidos.
Segundo o Reitor do Santuário Nossa Senhora da Conceição do Morro, padre Pedro Luis dos Santos, a festa deste ano volta ao formato de 2019. A abertura foi no dia 28 com a procissão da bandeira; do dia 29 até o dia 7, a programação seguiu desde cedo, com cinco missas ao dia e, às 18h, a novena de Nossa Senhora, a oração do terço e em seguida a novena solene.
Desde a madrugada de hoje, celebrações de santas missas acontecem com o intervalo de uma hora. A missa das 16h, será presidida pelo padre Damião Silva. Após a celebração, o sacerdote animará o público com canções católicas para receber a procissão. Confissões também acontecem ao longo do dia. O encerramento solene será com ao Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido, às 19h30.
O reitor do Santuário explica que a festividade deste ano conta com o retorno das procissões de bandeira e de encerramento, que não ocorriam há dois anos devido à pandemia da Covid-19. “Mas ao mesmo tempo a gente pede que as pessoas venham de máscara, a gente incentiva isso, porque mesmo que não tenha nenhuma restrição, a gente sabe que o vírus ainda é presente”, disse Padre Pedro e continuou: “O cuidado nunca é demais. A gente sempre convida as pessoas, mas também quem for sem máscara não vai ser impedido de entrar, nem de participar de nenhum evento da festa.”
Patrimônio Cultural Imaterial de Pernambuco
Para esse ano, uma novidade alegrou o coração dos católicos locais: a Festa do Morro da Conceição, realizada em homenagem à Nossa Senhora da Conceição no Recife, recebeu o título de Patrimônio Cultural Imaterial de Pernambuco.
“O título foi conferido pela fundação do patrimônio histórico e artístico de Pernambuco, Fundarpe. Ao mesmo tempo que nós recebemos este título, recebemos também uma responsabilidade. É toda uma gama de trabalho de atividades, de realizações que precisam ser promovidas, para que de fato a festa seja esse patrimônio cultural imaterial do estado,” conta.
Padre Pedro Luis dos Santos explica que o processo começou em 2016, quando Padre Ulisses, o primeiro reitor, já percebeu que a festa do morro trazia consigo mais do que simplesmente uma festa religiosa.
“Aqui é um encontro de cultura, um encontro de homens, mulheres, crianças, jovens, diversos bairros, diversas cidades, então já naquele primeiro momento, se percebeu que a festa era um patrimônio que deveria ser promovido, que deveria ser cuidado, zelado, e principalmente mantido.”
Padre Pedro conta que já ali nasceu esse processo de tornar a festa patrimônio imaterial do Estado, quando houve todo encaminhamento, mas devido a uma mudança da lei, o processo ficou parado. “Quando nós assumimos a reitoria do Santuário, então nós decidimos continuar o processo e graças a Deus tudo foi feito e conseguimos realizar, documentar, agilizar as instâncias que deveriam agir. Agora em outubro a Fundarpe enviou para a comissão responsável, e neste primeiro de dezembro foi, por unanimidade, acolhida esta proposta. A Festa se tornou, de fato, patrimônio cultural e imaterial do estado de Pernambuco,” comemora.
O Reitor do Santuário explica que a festa do povo no Morro da Conceição é uma experiência única. “Porque aqui Deus quis tocar a terra, através deste local, desta imagem, Deus quis agraciar seu povo com milagres, com bênçãos, com graças. E eu sempre disse, o povo sobe ao morro porque encontra resposta aos seus gritos, às suas necessidades, suas súplicas. São inúmeros os testemunhos de milagres, de bênçãos, de famílias restauradas, de filhos, mães que trazem hoje seus filhos no colo, de pessoas que foram desenganadas pelos médicos, e encontram a saúde pela oração, pela acolhida de Maria na sua vida.”
Conceição é a padroeira afetiva do Recife, do povo Pernambucano
Padre Pedro explica ainda que o povo pernambucano tem esse carinho todo especial à Nossa Senhora da Conceição do Morro, por conta dessa experiência, dessa resposta imediata às suas necessidades.
“E como é um lugar sagrado é um lugar diferente. Quantas vezes eu escuto as pessoas dizerem ‘aqui eu me sinto aliviada, aqui eu me sinto tranquila, aqui eu me sinto bem, é gostoso estar no morro da Conceição’, e isso eu tenho certeza que é por conta da presença de Deus, da graça. E é por isso que essa Festa é tão bonita, e é por isso que podemos dizer, sem sombra de dúvida, Conceição é a padroeira afetiva do Recife, do povo Pernambucano.”
A cuidadora de idosos Fabiana Pereira da Silva participa da festa do morro da Conceição há cerca de 20 anos. Neste ano, ela vai à festa para agradecer e pagar promessa. “Minha filha Huanna Vitória é deficiente, tinha um problema na perna e graças a Deus e Nossa Senhora ela hoje não tem mais. Hoje ela tem 19 anos. Nós alcançamos a graça da cura dela por intercessão minha e da minha mãe”.
Fabiana relata que sempre contou com a intercessão de Nossa Senhora da Conceição porque logo quando sua filha nasceu o médico disse que ela iria perder a perna. “Aí minha mãe começou a fazer promessa para Nossa Senhora, e eu também comecei a fazer. Aí a gente foi para outro médico que disse: ‘sua filha não vai precisar perder a perna, a gente vai fazer um tratamento nela que vai durar muito tempo, mas ela vai ficar boa.’ “
A cuidadora conta que isso se deu quando sua filha tinha oito meses. “Depois ela entrou na AACD e começou o tratamento com cirurgias e terapias. Com 18 anos ela fez a última cirurgia e a perna dela que era curta agora já é igual à outra, graças a Deus e Nossa Senhora.”
A gratidão de Fabiana é tão grande que, além de agradecer, ela vai à festa também para trabalhar. “É um prazer estar na festa, trabalhar, eu trabalho com todo amor com toda a vontade, estando doente, estando boa. E tenho que trabalhar pelo menos um dia da festa, mas eu tenho que trabalhar,” conta Fabiana Pereira.
Um pouco de história
A história do morro começou 50 anos depois da proclamação do dogma da Imaculada Conceição, que foi proclamado no dia 8 de dezembro de 1854. Padre Luis dos Santos recorda que, em 1904, a Igreja no mundo inteiro estava celebrando o cinquentenário da proclamação do dogma da Imaculada.
“Então a Igreja do Recife, na pessoa do Bispo da época, Dom Raimundo Brito, resolveu fazer uma homenagem aqui, e convocou o grupo dos Vicentinos, e estes escolheram este como melhor local para ser construído o monumento. No dia 8 de dezembro de 1904, é feita a inauguração.”
Padre Luis conta que dois anos depois, em 1906, foi inaugurada a capelinha que permanece como monumento até hoje. A partir daí, a comunidade do morro começou a acolher diversas pessoas ao seu redor.
“De modo especial pessoas empobrecidas, pessoas que não tinham local para morar, que vinham aqui ao redor da imagem fazer seu ‘mucambo’, sua ‘casinha’ e pouco a pouco foi surgindo a comunidade do Morro da Conceição.”
Segundo Padre Luis, cinquenta anos depois chegou o Padre Geraldo Leite Barros e ele começou a estruturar a comunidade. Depois, com o Padre Reginaldo Veloso, o morro da Conceição tornou-se uma comunidade mais organizada lutando por água, saneamento, saúde e escola. Então a festa do Morro gerou uma outra comunidade, quase uma ‘outra cidade’ dentro do grande Recife.”