No dia do perdão de Assis, Dom João reza para que todos tenham vida: “não nos calemos diante de pessoas que promovem a morte”
Jéssica Marçal
Da Redação
A Igreja católica celebra nesta quinta-feira, 2, o Dia do Perdão de Assis, data instituída a partir de São Francisco de Assis e ocasião em que se concede indulgência plenária dos pecados dos fiéis. No Santuário do Pai das Misericórdias, na sede da Canção Nova, em Cachoeira Paulista (SP), a Missa das 7h foi presidida pelo bispo de Lorena (SP), Dom João Inácio Müller, ofm.
“A graça de Deus sabe encontrar aquele e aquela que Ele precisa abraçar e que precisa receber o abraço”, disse o bispo, que é da ordem religiosa dos franciscanos. Dom João recordou ainda a criação do homem à imagem e semelhança de Deus, porém, lembrou que Adão e Eva escolheram recolher-se sobre si mesmo e assemelhar-se a si mesmos em vez de se assemelharem ao Pai, e eis aí o pecado original.
“Todas as vezes que nós também escolhemos volvermo-nos sobre nós, a minha vontade vai orientar a minha vida, eu mais uma vez reafirmo aquilo que Adão e Eva fizeram e nós comemos do fruto daquela árvore que está no centro do jardim que é o ‘eu’”.
O bispo enfatizou que, pelo contrário, o homem foi criado para ser conduzido por Deus, embora Ele o tenha criado livre e por isso sabe esperar até que alguém se abra para abraçá-lo. Um exemplo dessa abertura a Deus foi Maria, disse Dom João, destacando que ela recolheu Deus na fé e disse o seu “sim”.
A partir do “sim” dado por Maria para gerar o Filho de Deus, Dom João tocou na questão do aborto, que volta a ser discutido no Brasil. Uma audiência pública no Supremo Tribunal Federal marcada para os dias 3 e 6 de agosto discutirá a legalização do aborto até a 12ª semana de gestação.
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Dom João afirmou que, em cada concepção, há o “sim” de quatro sujeitos: o pai, a mãe, a criança e Deus. “Deus quer que haja a vida. Agora de novo estamos aí frente a essas possibilidades de criarmos uma lei em que pode matar sem ser crime. Vários bispos estão escrevendo cartas, se manifestando. Nós precisamos gritar, dizer ainda mais nesse dia do perdão de Assis: Deus não aprova isso, Jesus não vai falar bem disso”.
Dentro desse contexto de aborto, o bispo recordou os inúmeros testemunhos que existem de mulheres que fizeram o aborto e que carregam um trauma por toda a sua vida. “Nós padres somos testemunhas, [elas] vêm confessar uma, duas, três vezes, parece que não sai nunca”.
Atentando-se ao Dia do Perdão de Assis, celebrado hoje, Dom João frisou que São Francisco experimentou o perdão e quis que todos pudessem também experimentá-lo e receber, pela graça de Deus, a salvação. “Parece que hoje fazemos exatamente dinamismos contrários. Em vez de nós falarmos sim à vida, de buscarmos por todos os meios salvar as pessoas, redimir as pessoas, santificar as pessoas, nós fazemos o processo contrário. Tem muitas senhoras que estão de fato em situações muito delicadas, mas aí nós precisamos entrar em ajuda – ministério público, governos municipais, estaduais, federais – agora não podemos bater palmas se alguém fizer a lei que descriminaliza o aborto”.
“Se nós criarmos essa lei, por que alguém de vocês não pode também me matar e ter suas razões? Que diferença tem matar uma criancinha na segunda semana, na terceira semana, no segundo dia, no décimo dia, na quinta semana ou matar a mim que já vivi mais semanas?”, questionou Dom João.
Concluindo sua homilia, Dom João deixou suas orações, em especial nesse dia do perdão de Assis, para que de fato todos tenham vida e vida em abundância, como disse o próprio Jesus, e que os fiéis possam colaborar com Jesus nessa missão. “Que nós não nos calemos diante de pessoas que promovem a morte tanto quanto está se promovendo hoje e televisivamente. Pecado. Então vamos suplicar hoje fortemente esta graça do Senhor. Este é o pedido que nós colocamos sobre o altar. Nós que somos cristãos, coloquem esse mesmo pedido sobre o altar, é a nossa grande prece que sobe aos céus”.
Sobre o perdão de Assis
O Perdão de Assis foi instituído a partir de São Francisco de Assis. A tradição católica relata que em uma época em que as pessoas tinham muito medo de ir para o inferno, o santo teve uma visão de Cristo e Maria rodeados por anjos, enquanto rezava na igreja da Porciúncula, perto de Assis.
Sentindo dentro de si uma voz muito forte, São Francisco percebia que o desejo de Deus é de que todos fossem salvos. Foi então que o santo pediu a Deus que todos que visitassem aquela igreja pudessem ser salvos. Deus atendeu a prece de São Francisco desde que ele apresentasse esse pedido de indulgência ao Papa, que concedeu. Desde então, em todos os dias 2 de agosto, celebra-se essa graça da indulgência.