Fazer lista dos itens necessários e estabelecer orçamento são dois pontos indicados; psicóloga alerta sobre consumo desenfreado
Gabriel Fontana
Da Redação
Foto ilustrativa / Imagem de Pexels por Pixabay
Esta sexta-feira, dia 25 de novembro, é um dos dias do ano mais aguardados por comerciantes e consumidores. Isso porque nela acontecerá a Black Friday, uma ação promovida por comerciantes em todo o Brasil que oferecem grandes descontos para atrair consumidores.
O fenômeno de vendas teve origem nos Estados Unidos e já se tornou muito popular no Brasil, principalmente durante a última década. A queda nos preços proporciona a oportunidade de adquirir produtos e economizar, o que ajuda muitas famílias. Contudo, esta também pode ser uma ocasião de riscos para quem não fizer suas compras com consciência.
Luciana Ikedo / Foto: Arquivo pessoal
A educadora financeira Luciana Ikedo alerta que, atualmente, a maioria das famílias brasileiras enfrenta desafios com endividamento. Ela aponta o fácil acesso a crédito e dificuldades econômicas como alguns dos fatores que levam ao endividamento, situação em que 77,4% das famílias brasileiras se encontram segundo dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic).
Na visão de Luciana, este é o principal perigo que se apresenta neste período do ano, quando muitas pessoas acabam comprometendo o orçamento pessoal. “O impulso de compra em uma data como essa pode acabar levando ao endividamento e à dificuldade de pagar as contas futuras. O consumo impulsivo pode gerar um ciclo de dívidas e prejudicar não só o pagamento das contas recorrentes, mas também atrapalhar a realização de outros sonhos”.
Compras por impulso
Ana Streit / Foto: Arquivo pessoal
A psicóloga Ana Streit explica esse fenômeno, indicando que este comportamento impulsivo está ligado à sensação de prazer ao comprar. Ela diz que, “mesmo antes de a gente chegar nesse momento de satisfação e prazer, o nosso corpo já conhece a satisfação que é comprar e aí ele já tem uma descarga de dopamina”.
Assim, datas como a Black Friday, que oferecem “oportunidades imperdíveis” de compra, acabam por contribuir com o consumo impulsivo. Um comportamento que pode sair do controle, apresentando como sintomas a aquisição de itens desnecessários ou repetidos; o ato de comprar para lidar com emoções desagradáveis como tristeza, frustração, raiva e desânimo; atitudes de omissão e mentira para esconder gastos e dívidas; brigas e desentendimentos com outras pessoas e, por consequência, afastamento social.
“Esse fluxo de compra em excesso tem uma força de repetição, de compulsão muito grande. É como se a pessoa não se sentisse segura e com condições de romper esse padrão disfuncional de compras”, explica a psicóloga. Ela acrescenta que “a compra compulsiva não se refere tanto ao objeto em si da compra, mas ao alívio que a compra gera”.
Ana ainda frisa que o problema da Black Friday é, de certa forma, naturalizar a compra em excesso. “É como se, socialmente, a gente validasse que comprar é algo bom, inteligente, tranquilo”, o que pode deixar compradores confortáveis com suas atitudes e desenvolver um comportamento praticamente incontrolável.
“O consumo voraz mata a alma”
O excesso de compras já foi criticado em diversos momentos pelo Papa Francisco. Em um deles, durante a homilia da Missa do 1º Domingo do Advento em 2019, o Pontífice afirmou que “o consumismo é um vírus que ataca a fé na raiz”. Na Basílica de São Pedro, ele denunciou que o consumo em excesso leva as pessoas a acreditar que a vida depende somente daquilo que se tem, fazendo com que se esqueçam de Deus que vem ao seu encontro e das pessoas ao redor.
“Então se vive de coisas e não se sabe mais para que coisa; se têm tantos bens, mas não se faz mais o bem; as casas se enchem de coisas, mas se esvaziam de filhos; esse é o drama de hoje”, expressou, na ocasião, o Santo Padre. “E quando se vive para as coisas, as coisas jamais saciam, a avidez cresce e os outros se tornam obstáculos na corrida e, assim, se acaba por sentir-se ameaçados e, sempre insatisfeitos e nervosos, se eleva o nível do ódio”, completou.
Já no Angelus de 29 de janeiro de 2017, o Papa Francisco abordava o tema da pobreza de espírito quando citou os riscos do consumismo. “Quanto mais tenho, mais quero; mais tenho, mais quero: esse é o consumo voraz. E isso mata a alma. E o homem ou a mulher que faz isso, que tem essa atitude ‘mais tenho, mais quero’, não é feliz e não alcançará a felicidade”, alertou.
Dicas para aproveitar a Black Friday
Para ter um maior controle, Luciana cita algumas estratégias que podem ajudar os consumidores a aproveitar a data mais assertivamente. A primeira dica é fazer uma lista dos itens dos quais se precisa (para que não sejam adquiridas coisas desnecessárias) e começar a pesquisar os preços com antecedência, para avaliar se os descontos realmente são vantajosos.
Além disso, a educadora financeira recomenda também que seja estabelecido um orçamento específico, detalhando precisamente o quanto quer e o quanto pode gastar na data, sem comprometer o orçamento familiar. “Separe o dinheiro previamente e foque apenas em compras necessárias, evitando assim compras por impulso”, resume Luciana.
Ela cita ainda o risco de cair em golpes, especialmente com o avanço da tecnologia. “É importante que, antes de comprar, você verifique a reputação das lojas on-line, evite links suspeitos e use sites seguros para realizar transações. Cheque mais de uma vez a autenticidade das promoções e, claro, mantenha dados pessoais seguros. Além disso, é essencial ficar atento a ofertas ‘milagrosas’ e descontos absurdos”, orienta.
E os comerciantes?
Em relação aos comerciantes, a educadora financeira também dá um conselho. Em meio a tantos descontos oferecidos por uma variedade de estabelecimentos, pode-se ter a tentação de também oferecer descontos extraordinários para atrair consumidores. Contudo, é essencial calcular se a margem de lucro cobre todos os custos.
“Às vezes, o volume de vendas compensa, mas um planejamento financeiro cuidadoso pode ser a chave para garantir a rentabilidade e não ter prejuízos. A estratégia de precificação não pode ser deixada de lado. Observar as margens e os custos para reposição dos estoques é fundamental”, frisa Luciana.
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