Jovem organizador do grupo de brasileiros participantes do evento e voluntário da Pastoral Universitária explicam relação entre economia e educação
Julia Beck
Da redação
Muitos são os pensadores, sociólogos, professores e estudiosos que afirmam que a educação é capaz de mudar o mundo. Alguns, mais enfáticos, asseguram que ela é uma das poucas, se não a única forma para alcançar este objetivo.
Não diferente da opinião popular, o evento “Economia de Francisco” – que começa nesta quinta-feira, 19, impulsiona a sociedade a refletir sobre a relação entre a economia e a educação como uma ferramenta de superação da pobreza e dos consequentes problemas desencadeados por ela.
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Eduardo Brasileiro, de 30 anos, é sociólogo, educador e um dos organizadores no Brasil do grupo de jovens que ficou interessado no chamado do Papa para uma reflexão quanto aos sistemas econômicos e seus reflexos na sociedade. O jovem explica que há uma relação primordial entre economia e educação.
Segundo Brasileiro, os ensinamentos transmitidos nas escolas têm como referência a necessidade de formação de adultos que sejam produtivos e contribuam economicamente para um país. Porém, o jovem alerta para uma globalização da indiferença – já citada pelo Papa, como consequência de uma educação influenciada pelo sistema econômico.
Focar na vida do planeta e na ideia de fraternidade e coletividade é uma necessidade educacional, opina o jovem. Para Brasileiro, a educação não deve ser inspirada em competição como método de sucesso. “Somos seres visceralmente fraternos e solidários, na história da humanidade nossos avanços civilizatórios foram marcados pela cooperação e compartilhamento”.
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O cientista político, agente de pastoral e voluntário da Pastoral Universitária do Regional Leste 2 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Ismael Dayber Oliveira Silva, de 25 anos, é um dos responsáveis por suscitar a discussão no meio universitário e comunitário dos temas que serão abordados na “Economia de Francisco”.
Silva frisa que o Papa, desde a sua primeira encíclica “A Alegria do Evangelho”, em 2013, interpela não só os católicos, mas também toda a comunidade global, sobre a necessária transformação das relações comunitárias, econômicas e sociais, que contribuem para a geração de desigualdades e miséria.
A “Economia de Francisco” está relacionada com a educação, destaca o voluntário da Pastoral Universitária, pois este é o principal instrumento de transformação do mundo. “É através da educação que as pessoas adquirem as lentes para a compreensão do mundo. Dessa forma, se a educação não é crítica, baseada em princípios de excelência e equidade, pode também colaborar para gerar desigualdades e a permanência das relações desajustadas que promovem exploração e desigualdades”.
Crise socioambiental e a busca por soluções
Brasileiro recorda que o Papa Francisco, na Encíclica Laudato Si’, insiste que há uma crise apenas, a socioambiental. “Nossa relação com o sistema vida (ecologia) e com o sistema humano (economia/política) foi tomada por uma concentração de riquezas numa pequena parcela”, sublinhou.
Silva afirma que, nesta encíclica, Francisco já se mostrava preocupado em denunciar o sistema que exclui e evidencia seu clamor para o cuidado com toda a Criação – seres humanos, animais, e toda a biodiversidade do planeta. “Suas ações cotidianas em prol dos excluídos também revelam seu compromisso cristão com a transformação do mundo que vivemos”.
Brasileiro denuncia que algumas lógicas econômicas vigentes tornaram homens e mulheres dependentes e, desse modo, empobrecidos.
“É necessário um descentramento econômico, ou seja, colocar no centro as economias locais, que valorizem a solidariedade e a superação do endividamento. Uma industrialização das cidades a partir de energias limpas e renováveis e por fim, um trabalho pleno para todos com o uso de tecnologias que não excluam o ser humano, mas que sejam possibilidades de qualidade de vida para as pessoas”.
Todas essas reflexões, opina o jovem, “não caem na cabeça das pessoas do céu”. “Somente um pacto educativo global que priorize o ser humano e todas as outras formas de vidas do planeta, que coloque a economia a partir da cooperação e do compartilhamento podem criar novas gerações voltadas para um novo tempo do mundo”.
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A Economia de Francisco e novas perspectivas
Assim, na perspectiva da “Economia de Francisco” que busca, no âmbito da Economia, construir relações mais solidárias, Silva afirma que deve se reconhecer a educação como principal instrumento para difundir as ideias pensadas em conjunto pelos jovens do mundo em interação para pensar novas perspectivas.
A “Economia de Francisco”, sublinha o agente de pastoral da CNBB, se relaciona intimamente com o “Pacto Educativo Global” através da busca por envolver todo o mundo na redescoberta de modelos de ensino e aprendizagem apropriados à formação de cidadãos que transformem positivamente o mundo.
“Agregar nos processos de ensino e aprendizagem os princípios da “Economia de Francisco” significa incentivar a inclusão de todos para o aprendizado de novas maneiras de produzir, consumir, reaproveitar, inovar, considerar a importância de cada ser na grande teia interconectada da ecologia integral. Requer, também, entender os processos de ensino e aprendizagem como oportunos para partilhar valores de colaboração e empatia, diferente do que muitas vezes assistimos, que é o reforço de um produtivismo, tecnicismo e de uma competição desde a mais tenra idade”.
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A educação, afirma Silva, é o mais importante instrumento para a construção de um mundo com mais equidade, solidariedade, empatia e ambientalmente responsável. “Isso porque as coisas boas podem ser aprendidas e o processo de ensino e aprendizagem, seja formal ou informal, carrega muito potencial para despertar em todos os cidadãos esse compromisso renovado com a transformação”.
As universidades como espaços de discussão
As universidades, como espaços plurais importantes de discussão de ideais, produção do conhecimento e novas tecnologias, são lugares muito adequados para a discussão de assuntos tão importantes para a organização da sociedade como a economia, opina Silva.
O agente de pastoral da CNBB destaca que problematizar a desigual distribuição das riquezas e os modos de produção que exploram a vida e o meio ambiente é tarefa fundamental para a formação de profissionais que sejam agentes da transformação em qualquer espaço que estejam.
“É importante salientar que as universidades exercem, no Brasil e em todo mundo, um importante papel para a formação dos novos quadros que irão, inclusive, governar nossa sociedade. Por isso, é mais do que urgente discutir, de forma transdisciplinar, os problemas que existem e construir soluções adequadas e viáveis que possam agregar os princípios da “Economia de Francisco”.