Igreja ensina que condições de vida social impactam sobre todos os cidadãos, por isso é preciso buscar o bem comum
Pe. Antonio Aparecido Alves*
Resgatar o bem comum
A Igreja ensina, na Constituição Pastoral Gaudium et Spes (GS) que existe uma interdependência entre o aperfeiçoamento da pessoa humana e o desenvolvimento da sociedade (GS 25). Trocando em miúdos, pode se dizer que as condições de vida social irão, de alguma forma, impactar sobre todos os cidadãos.
Buscar o bem da Polis
Esta afirmação nos faz voltar à Grécia antiga. O ponto de partida para os gregos não era o indivíduo, mas o coletivo. O bem da Polis, nesta perspectiva, era visto como algo em que o bem individual se anulava. A vida boa e feliz somente pode se dar em uma sociedade bem governada. Perseguir o bem da cidade, do coletivo, era considerado por Aristóteles como a melhor atividade, muito mais que procurar o bem individual, pois no coletivo o indivíduo atingiria sua perfeição.
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A perspectiva cristã
A tradição cristã provocou uma ruptura com essa mentalidade grega de perfeição da Polis. Santo Agostinho, por exemplo, desafia a sua supremacia como o domínio que aperfeiçoa o ser humano e apresenta a ‘Cidade de Deus’ em contrapartida. Santo Tomás, por sua vez, diz que a cidade não é perfeita em si, mas enquanto está em condições de garantir uma suficiência de bens materiais e uma vida feliz e virtuosa. É isso que ele chamará de “bem comum”, um princípio tão importante que deveria ser o objetivo de qualquer lei (ST I, II, q. 90, a2). Afirma, ainda, que é o bem comum que distingue o ‘tirano’ e o ‘rei’, pois enquanto o primeiro busca somente seus próprios interesses, o segundo procura promover o bem de todos.
A reviravolta individualista
A filosofia moderna dos séculos XV e XVI representou uma reviravolta no pensamento clássico grego e na tradição cristã. O ponto de partida para os modernos não é mais o bem comum, mas o direito individual. A primazia do bem comum deixa espaço ao interesse privado, tendo a Política a função de garantir os direitos individuais. A influência dessa reviravolta no compreender o bem comum se refletiu também na Economia. Ela não somente se separa da moral, mas converte aquilo que eram vícios em motores do crescimento econômico (busca do lucro, usura etc). Adam Smith (considerado o ‘pai’ da Ciência Econômica) introduz a célebre expressão da mão invisível que promove um fim que não estava na intenção do sujeito que agia buscando somente os seus interesses. Assim, segundo ele, o bem comum acontece automaticamente, quando cada um busca sua satisfação.
Resgatar a dimensão do bem comum
Nem é preciso dizer quão nefasta foi essa mentalidade moderna e quanto mal tem feito nos últimos séculos para a humanidade. Por isso, é preciso em nossos dias resgatar esse conceito tão importante de bem comum, compreendido pela Igreja como um conjunto de condições sociais, tais como alimento, vestuário, casa, educação, trabalho, entre outros, que permitem a cada pessoa desenvolver-se plenamente dentro da sociedade (GS 26).
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*Padre Antonio Aparecido Alves é Mestre em Ciências Sociais com especialização em Doutrina Social da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e Doutor em Teologia pela PUC-Rio. Professor na Faculdade Católica de São José dos Campos e Pároco na Paróquia São Benedito do Alto da Ponte em São José dos Campos (SP). Para conhecer mais sobre Doutrina Social visite o Blog: www.caminhosevidas.com.br