Igreja Doméstica

É importante cultivar a vida de oração nas crianças, diz Padre

Pais e catequista contam como incentivam a fé nas crianças

Denise Claro
Da redação

Papa Francisco, na última Catequese, falou sobre a importância da oração na vida das crianças./ Foto: Denise Claro

Na última quarta-feira, 27, em sua tradicional Catequese, o Papa Francisco falou sobre a oração e a importância de se ensinar as crianças a rezarem desde pequenas.

“A oração semeia a vida, a pequena oração: é por isso que é tão importante ensinar as crianças a orar. Dói-me quando encontro crianças que não podem fazer o sinal da cruz. Devemos ensiná-los a fazer bem o sinal da cruz, porque é a primeira oração. É importante que as crianças aprendam a orar. Porque, talvez, eles possam esquecer, seguir outro caminho, mas as primeiras orações aprendidas quando criança permanecem no coração, porque são uma semente da vida, a semente do diálogo com Deus”, disse.

Entre as famílias católicas, é comum que os pais ensinem aos pequenos as primeiras orações dos cristãos e encaminhem, aos poucos, as crianças para a catequese. O catequista entra como um orientador para a fé, mas é na família que a primeira semente é plantada.

Padre Uélison Pereira atua no Instituto Canção Nova, e sua missão hoje é justamente na evangelização das crianças, no ambiente escolar. Ele lembra que foi o próprio Jesus quem disse para deixar ir até Ele as crianças, pois delas é o Reino dos Céus. Jesus também as colocou como o modelo de simplicidade e confiança em Deus.

“A criança é simples e muito sensível ao Sagrado. Daí a importância de cultivar nelas a vida de oração.  Claro que elas rezarão do jeito delas, mas, com toda certeza, a oração será feita com muita confiança.”, diz o padre.

O religioso recorda que era tradicional, no povo judeu, inserir as crianças desde cedo na vida religiosa, aprendendo a história da Salvação que era contada por meio de gestos e rituais.

“Já para os cristãos, a meu ver, a melhor forma de ensinar às crianças a oração é serem os próprios pais as testemunhas de oração para os filhos, ou seja, que os filhos vejam os pais rezando.  Assim também as orações antes das refeições, antes de dormir e ao acordar. Não somente ensinando a criança a rezar, mas rezando com ela.”

Outra forma levantada pelo sacerdote para essa intimidade com o Divino é tendo em casa as imagens sagradas, pois ajudam as crianças a se familiarizarem com as coisas de Deus.

“O cultivo da espiritualidade nas crianças, com toda certeza, fará delas seres humanos melhores. A espiritualidade gera pessoas com mais esperança e centradas no que é essencial”. 

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Iniciação na Vida Cristã

A catequista Débora durante encontro de catequese com as crianças / Foto: Arquivo Pessoal

Débora Moreira é catequista há 18 anos na diocese de Lorena (SP). Entende sua missão como uma vocação que dá sentido à vida dos pequenos. Ela frisa que, ao ser batizada, a criança é inserida na vida cristã. A partir daí, é responsabilidade dos pais e padrinhos orientá-las na fé.

“A partir do Batismo, os pais e padrinhos vão ensinando às crianças músicas de Deus, o sinal da cruz, a Ave-Maria e o Pai Nosso. A oração do Santo Anjo é uma das preferidas dos pequenos, e cada pequeno gesto vai reforçando o amor de Deus para conosco, e ensinando aquela criança a amar a Jesus”. 

Com o passar do tempo, é importante ir usando dos próprios acontecimentos que a vida apresenta para sinalizar às crianças o certo e o errado, o bem e o mal, o que Jesus espera de nós e o que ofende ao Seu coração.

“Vamos ensinando isso para a criança. Quando uma criança pequenininha olha a cruz, ela já começa a perceber algo diferente, Jesus está ferido, aquele moço que está na Cruz morreu por nós. Aos poucos, vamos falando para elas sobre a criação, a natureza, a vida que vence a morte. Vamos usando cada situação para falar de Deus a elas. Por exemplo, nessa pandemia, aproveitar para falar a elas sobre a ação de Deus, sobre a força que Ele nos dá, rezar pelos doentes e pelo mundo inteiro. Estamos de máscaras, mas podemos sorrir com o olhar. Usar das situações para ensinar a elas”. 

A catequista ressalta que há muitos meios que ajudam os pais a evangelizar, a começar pela própria Bíblia, pode ser infantil, com desenhos, que já vão ajudar as crianças a reconhecer as histórias do Povo de Deus. Também o terço, filmes católicos, que contam as histórias do Evangelho e a vida dos santos. 

“O papel dos pais é alimentar a fé nas crianças, ensinar as virtudes cristãs. A missão deles é fundamental na vida de fé dos seus filhos. Nosso tempo como catequistas com elas é muito curto, então, é importante que a família abrace essa responsabilidade, comprometa-se a incentivá-los na fé, leve-os para a catequese, mas a primeira Igreja é em casa”. 

Ao se recordar das palavras do Papa Francisco na catequese, Débora afirma que o próprio Pontífice é para as crianças este sinal do amor de Deus.

“A figura do Papa para as crianças tem sido um referencial de doçura, de amor. Ele já teve diversos encontros com as crianças, e responde as cartinhas delas, aproxima-se delas. A gente pode também apresentar essa referência para os pequenos. Podemos ensinar a elas sobre a Igreja, o Pastor, e cultivar sua obediência e respeito com as coisas de Deus. Amar, respeitar, querer bem ao nosso Papa e aos nossos sacerdotes também é aprender a ser cristão”. 

Igreja Doméstica

Emmanuel e Roberta, pais de Lis, a ensinaram desde pequena a rezar./ Foto: Arquivo Pessoal.

O casal Emmanuel Silva e Roberta Lannes buscou fazer sua filha Lis a se habituar com a oração desde cedo.

“Antes mesmo de ela falar, demos uma boneca que rezava o Pai-Nosso. Como hábitos de oração em família, cultivamos os momentos de viagens longas, à noite, abençoamo-nos antes de sairmos para as rotinas de trabalho e antes das refeições; neste último caso, a Lis já faz por conta própria a oração. Neste período de pandemia, incluímos em nossas orações que o “Papai do Céu acabe com o coronavírus”, e ela sempre repete do jeitinho dela: “O Papai do Céu vai dar um soco no coronavírus”, diz Emmanuel, rindo.

Adriana Oliveira é casada com Uziel e tem duas filhas, Ana Clara e Letícia. Desde pequenas, foram ensinadas a rezar as orações mais simples. A mãe lembra que o hábito, na verdade, vem desde a gestação:

“Eu já rezava por elas e, por que não dizer, com elas! Desde bebês, elas nos acompanham às missas, aos retiros, enfim, sempre conosco na caminhada. E sempre estimulamos e ensinamos a rezar antes de dormir, antes das refeições, ao acordar. Demos a Bíblia da Criança, um terço para cada uma, e assim fomos conduzindo as meninas a uma vida de oração.”

Adriana conta que Letícia, a mais nova, ia fazer sua Primeira Comunhão neste mês, mas, por causa da pandemia, teve que ser adiada.

O casal Adriana e Uziel, e as filhas Ana Clara e Letícia./ Foto: Arquivo Pessoal.

“Neste período de isolamento, temos rezado ainda mais juntas o terço mariano e o terço da Misericórdia. Procuro continuar a catequese, ensinando sobre a Eucaristia, e escolhendo filmes e desenhos católicos, além de assistir ao Cantinho da Criança. (programa infantil na TV Canção Nova).”

Fábio Martins e sua esposa Mariana têm um casal de filhos, Marina e João Felipe. Em sua casa, é o pai quem toma a iniciativa da oração com as crianças. 

“Desde que meus filhos nasceram, e até hoje, todos os dias, na hora de dormir, canto para eles músicas religiosas, marianas, ou até mesmo de acordo com o tempo litúrgico”. 

Fábio percebeu que, conforme ia rezando com os filhos, ia despertando neles a curiosidade, e que é importante dar o exemplo. 

“Eles perguntam coisas. Às vezes, estou rezando a liturgia das horas, e meu filho pede para ficar do meu lado, para rezar comigo. Ele pergunta sobre os Salmos, sobre o canto gregoriano. Outras vezes, estou rezando o terço, e ele fica um pouquinho ali, reza duas, três Ave-Marias e sai. Não aguenta ficar o tempo todo, mas aquele tempinho já basta para ele entender o que é o terço, o que é a oração.”

Como pai, Fábio põe em prática essa abertura às ocasiões que a vida apresenta. Para ele, sempre são uma boa oportunidade de evangelizar e passar valores sólidos aos filhos.

Fábio e Mariana, com os filhos Marina e João Felipe./ Foto: Arquivo Pessoal

“Percebo que é importante estar atento ao que as crianças perguntam, pois, nessas horas, elas estão interessadas em ouvir. Não adianta a gente programar os momentos, mas agir de acordo com as situações que se apresentam.

Frutos que já se vêem

Todo pai e toda mãe espera ver os frutos na vida de seus filhos, sejam eles de ordem profissional, vocacional ou espiritual. Adriana conta que se alegra por já conseguir observar, nas filhas, sinais de que seu trabalho, plantado a cada dia, têm dado frutos.

“Louvo a Deus por isso, já percebo as consequências das experiências de oração que fizemos ao longo desses anos. Em primeiro lugar, elas sabem reconhecer a importância de Deus na nossa casa, e em seu jeito de ser também refletem isso. A mais velha já fez retiros de jovens, por iniciativa própria, e se interessa pela vida de oração. Colocou até alarme para se lembrar da hora do terço!”

Fábio diz que os frutos que mais percebe são os dos valores plantados aparecendo nos filhos:

“Um dia, estava levando minha filha para fazer um exame, e tinha uma família pobre sentada no chão em frente a um mercado. Passamos, e a mãe nos pediu para comprar um pão. Minha filha falou na hora: ‘Papai, vamos entrar no mercado, vamos comprar’. Entramos no mercado e compramos. Minha filha ficou saltitante, foi correndo procurar a prateleira do pão, compramos biscoitos para as crianças. Ela ficou falando sem parar sobre ajudar as pessoas, muito feliz, com os olhos brilhando. Eu vi ali o fruto do meu trabalho em casa com eles. E vi ali minha filha muito feliz em fazer isso. Foi uma experiência incrível”, diz o pai orgulhoso.

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