Especial Irmã Dulce

Dom Murilo: o verdadeiro milagre de Irmã Dulce são suas obras sociais

Obras Sociais Irmã Dulce (OSID) funcionam desde 1959 e são referência na saúde, com 4 milhões de atendimentos por ano

Denise Claro
Da redação, com colaboração de Edcleide Campos

Obras Sociais Irmã Dulce, em Salvador (BA)/ Foto: OSID

Neste domingo, 13, acontecerá no Vaticano, a cerimônia de canonização de Irmã Dulce. Dona de um olhar marcante e de um sorriso que encantava a todos, o Anjo Bom do Brasil, como era conhecida, se tornou de professora, a médica da alma.

Suas obras estão em funcionamento ainda hoje e são referência na área da saúde do Nordeste.

As Obras Sociais Irmã Dulce (OSID) nasceram no dia 26 de maio de 1959. A instituição foi fruto da trajetória de amor e serviço e da persistência da religiosa que peregrinou durante mais de uma década em busca de um local para abrigar pobres e doentes recolhidos das ruas de Salvador. As raízes da OSID datam de 1949, quando a Irmã, sem ter para onde ir com 70 doentes, pediu autorização a sua superiora para abrigar os enfermos em um galinheiro situado ao lado do Convento Santo Antônio. O episódio fez surgir a tradição de que ‘o maior hospital da Bahia nasceu a partir de um simples galinheiro’.

A coordenadora multiprofissional do Centro de Acolhimento à Pessoa com Deficiência (CAPD) da OSID, Marta Fragoso, afirma sobre a religiosa:

“Irmã Dulce sempre abriu os braços para todas aquelas pessoas que eram excluídos da sociedade, por ter uma deficiência, por um problema financeiro ou social. Há muitos anos atrás, essas crianças começaram a chegar para ela. E ela pegou todos esses meninos e meninas, acolheu, colocou aqui dentro da Instituição.”

O jovem Raimundo José Araújo foi uma das crianças assistidas por Irmã Dulce, e atualmente coordena o RH da OSID. Ele afirma que Irmã Dulce era 3 em 1. “Era mãe, religiosa e gestora. Como mãe ela nos acolhia, nos afagava, nos cobrava a disciplina. Como religiosa se preocupava se nós já havíamos feito a primeira comunhão, se éramos batizados, se estávamos rezando o terço, frequentando a Missa, isso todas as vezes. E como gestora, ela fazia o papel da cobrança aos funcionários, querendo saber por que fulano estava daquele jeito, por que a porta estava quebrada… Ela conseguia cumprir bem os três papéis.”, lembra com carinho.

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Obras Sociais hoje

OSID realizam 4 milhões de atendimentos por ano./ Foto: OSID

Sobre as obras fundadas pela santa, o Arcebispo de Salvador, Dom Murilo Krieger, afirma: “Eu penso que o milagre mesmo de Irmã Dulce é essa obra estar de pé, que atende mais de quatro milhões de pessoas no ano, só pelo SUS.”

Atualmente, a entidade filantrópica abriga um dos maiores complexos de saúde do país, e cuida de idosos, pessoas com deficiência e com deformidades craniofaciais, pessoas em situação de rua, usuários de substâncias psicoativas e crianças e adolescentes em situação de risco social. A organização conta com um perfil de serviços único no Brasil, distribuídos em 21 núcleos que prestam assistência à população de baixa renda nas áreas de Saúde, Assistência Social, Pesquisa Científica, Ensino em Saúde, Educação e na preservação e difusão da história de sua fundadora.

Também conhecida como Complexo Roma, a sede das Obras em Salvador abriga, em seus 40 mil metros quadrados de área construída, 20 dos 21 núcleos da entidade, incluindo 954 leitos hospitalares para o atendimento de patologias clínicas e cirúrgicas. Desses núcleos, 19 apresentam atuação no campo da Saúde, a exemplo do Hospital Santo Antônio, Centro Geriátrico, Hospital da Criança, Unidade de Alta Complexidade em Oncologia, Centro de Acolhimento à Pessoa com Deficiência e Centro Especializado em Reabilitação e do Centro de Acolhimento e Tratamento de Alcoolistas. Somente no Complexo Roma são contabilizados por ano cerca de 2,2 milhões de procedimentos ambulatoriais.

Ainda na sede das Obras Sociais, local que atende diariamente cerca de 2 mil pessoas, são realizadas por ano 12 mil cirurgias, além de 18 mil internamentos. Atualmente, mais de 4,3 mil profissionais trabalham na organização, sendo 2,8 mil funcionários somente no complexo da capital baiana, local onde atuam ainda 300 médicos e 300 voluntários.

A atenção integral, multidisciplinar e humanizada é uma das características do atendimento prestado pelas Obras Sociais Irmã Dulce. São ações que cobrem todo o espectro da assistência à saúde e que incluem atenção básica, 40 especialidades médicas, exames laboratoriais e de bioimagem, internação, cirurgias de alta complexidade e reabilitação. Destaque também para o Centro de Pesquisa Clínica e o Centro de Ensino e Pesquisa Professor Adib Jatene, unidades dedicadas às áreas de Pesquisa e Ensino em Saúde. Como hospital escola, a OSID oferece ainda internato de Medicina e 19 programas em residências médicas, além da Residência Multiprofissional em Atenção à Saúde do Idoso e Residência em Odontologia.

O jovem cadeirante Anderson José Farias é atendido nas obras sociais de Irmã Dulce há 14 anos. “Este hospital representa a minha casa, porque a Irmã Dulce dizia: ‘Procuramos embutir nos médicos e nos funcionários todos que trabalham aqui o Espírito de Deus, na pessoa do pobre que nos bate à porta’.”, diz Anderson.

Além dos núcleos pertencentes à instituição, a OSID atua ainda na gestão de unidades externas de saúde, sendo responsável hoje pela administração de três complexos públicos, todos localizados na Bahia e vinculados ao Governo do Estado: Hospital do Oeste (Barreiras), Hospital Eurídice Sant’anna (Santa Rita de Cássia) e Hospital Regional Dr. Mário Dourado Sobrinho (Irecê). A entidade responde também pelo Centro de Convivência Irmã Dulce dos Pobres, localizado no Centro Histórico de Salvador, que tem como foco a assistência às pessoas em sofrimento psíquico e em vulnerabilidade social, incluindo usuários de substâncias psicoativas e pessoas em situação de rua, além do atendimento às famílias residentes no bairro e clientes referenciados pela rede SUS.

Para manter viva esta grande obra, a instituição conta com recursos do Sistema Único de Saúde e de convênios com organismos estatais, além de doações e venda de produtos. Fiel à missão herdada de Irmã Dulce, “Amar e Servir”, a organização ampliou seu alcance e se profissionalizou sem abrir mão de seus valores.

Sobrinha de Irmã Dulce, Maria Rita Lopes Pontes lembra o segredo do sucesso dos feitos da religiosa, e dos muitos frutos que vieram deste trabalho. “A obra foi criada na fé, na esperança e no amor. E eu acho que esse é o grande diferencial das obras de Irmã Dulce, comparadas às outras instituições. Uma obra que foi construída com muito sacrifício, com muita renúncia, mas principalmente com muito amor.”

 

 

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