Ao fazer balanço do Sínodo sobre Família, Dom Damasceno reiterou verdades da Igreja e enfatizou a necessidade de discernimento e acolhimento nos casos difíceis
Jéssica Marçal
Enviada especial a Aparecida (SP)
O arcebispo de Aparecida (SP), Cardeal Raymundo Damasceno Assis, concedeu uma entrevista coletiva nesta terça-feira, 27, sobre o Sínodo dos Bispos dedicado às famílias, concluído em Roma no último domingo. Dom Damasceno, que foi um dos três presidentes delegados da assembleia sinodal presidida pelo Papa Francisco, chegou ao Brasil nesta segunda-feira, 26.
Aos jornalistas, Dom Damasceno disse que não é fácil fazer um resumo de um evento tão denso como foi o Sínodo. “Os documentos referenciais foram o Documento de Trabalho, sobre o qual falei quando parti para Roma, que reproduz a conclusão final do Sínodo extraordinário do ano passado”.
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Casais de segunda união
Na coletiva, o arcebispo de Aparecida destacou alguns pontos do relatório final do Sínodo, apresentado no último sábado. Em especial, ele se referiu aos pontos 84, 85 e 86, que dizem respeito aos casais divorciados e recasados.
No documento, em nenhum momento fala-se de confissão ou comunhão de casais de segunda união, frisou o cardeal. O que o texto faz é dar algumas orientações muito importantes que dizem que a porta continua aberta, continua sendo um objeto de estudo e aprofundamento.
Desses trechos, Dom Damasceno destacou duas palavras importantes: discernimento e integração. Ele lembrou que o documento convida a uma integração e acolhimento desses casais, sem ser motivo de escândalo. A chave proposta pelo Sínodo é o acompanhamento desses casais, para que tenham uma convivência frutuosa na vida cristã. “O Papa lembrou que os casais de segunda união não podem ser abandonados pela Igreja. Então o Sínodo abre uma porta”.
No número 85 do documento, o texto recorda ainda, lembrou Dom Damasceno, um trecho da Familiaris consortio, documento escrito por João Paulo II ao final do Sínodo de 1984. Esse trecho fala dos vários motivos pelos quais uma união pode ter chegado ao fim e do discernimento que se deve ter no acolhimento a esses casais.
Um ponto que o cardeal deixou bem claro foi que a doutrina da Igreja permanece intocável: “o que Deus uniu, o homem não separe”. No caso da comunhão aos casais de segunda união, isso continua não sendo permitido pela Igreja, mas como mãe ela deve acolher as pessoas nessa situação.
Homossexuais
O ponto 76 do relatório final do Sínodo aborda a questão dos homossexuais. Dom Damasceno destacou que esse não foi um tema do Sínodo; a assembleia, tratou disso quando dizia respeito à família, ou seja, casos de famílias que possuem filhos ou algum outro membro que seja homossexual. Ele reiterou que a Igreja não reconhece a união homossexual como um casamento; o matrimônio para a Igreja é a união entre homem e mulher. Porém, o Sínodo não podia deixar essas situações de lado.
No caso de pessoas com tendência homossexual, a Igreja defende que ela deve ser respeitada em sua dignidade, sem sofrer qualquer discriminação. “Essas pessoas foram criadas à imagem e semelhança de Deus, certamente foram batizadas, então não podem ser discriminadas por sua orientação sexual”.
Metodologia do Sínodo
Dom Damasceno explicou que a metodologia dos trabalhos consistiu em dar mais tempo aos trabalhos em grupos, os chamados círculos menores. Os padres sinodais foram divididos em grupos por idiomas; os representantes brasileiros participaram do de língua espanhola.
Outro aspecto é o fato de que as discussões eram focadas em temas determinados, de acordo com divisão do Documento de Trabalho. As discussões foram bem aprofundadas, contou o cardeal, ressaltando que tudo é um auxílio ao Papa, e não uma decisão. “O Sínodo não decide, ele sugere, faz recomendações. Depois, é o Papa que toma as decisões da forma que ele julgar melhor (…) Tudo são propostas que o Sínodo oferece ao Papa. Aguardamos a orientação que o Papa vai dar para essas questões referentes à família”.
Para concluir, o cardeal ressaltou que a leitura desse Sínodo deve ter uma perspectiva de misericórdia e acolhimento, em especial para as famílias que passam por situações difíceis. Isso porque essa é a proposta do Sínodo sobre Família.