“Na prática da teologia do laicato, não temos nenhuma novidade; mas o documento vem chamar à atenção para a questão prática”, explica bispo
André Cunha
Enviado especial a Aparecida (SP)
A temática central da 54ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil reflete a missão dos leigos e leigas na Igreja e na sociedade. Pode parecer então que essa discussão é recente na Igreja Católica, mas não é. Desde o Concílio Vaticano II, especialmente, o Papa, junto com os bispos, vem refletindo sobre a importância dos leigos na vida da Igreja.
Segundo o presidente da Comissão Episcopal para o Laicato do Estado de São Paulo, Dom Edmilson Amador Caetano, o documento que a CNBB aprovou, nessa quarta-feira, 12, não traz grandes novidades, a não ser questões práticas do laicato.
Acesse
.: Todas as notícias sobre a 54ª Assembleia Geral da CNBB
“Na prática da teologia do laicato, não temos nenhuma novidade; mas o documento vem chamar à atenção para a questão prática na pastoral, a dimensão que temos de dar da automonia, que é competente ao laicato”, explicou.
“Quando falamos de autonomia, pode ser uma palavra um pouco forte para alguns padres e bispos, porque dá a impressão de que os leigos terão uma autonomia do ponto de vista de que não ouvirão mais o pastor e farão o que ‘der na teia’, mas não é! Trata-se de uma autonomia que é lhe é própria”, completou.
Como exemplo, Dom Edmilson citou os muitos leigos que trabalham na educação, nas mais variadas linhas pedagógicas. “Ali ele vai exercer o seu ser cristão de forma autônoma”, disse. Segundo o bispo, não é uma autonomia que o desvincula do Evangelho, do magistério da Igreja, mas autonomia no sentido de dar testemunho do seu ser Igreja.
E dentro da Igreja, o que muda?
Dom Edmilson explicou que o mesmo deve acontecer dentro da Igreja, onde o leigo tem a sua autonomia em coisas específicas, nas quais muitas vezes os padres ou os bispos não são “competentes em dar opinião e/ou em analisar certas situações”. “Então os leigos, com sua própria capacitação humana e intelectual, poderão realmente ajudar e opinar. Um pastor inteligente vai saber ouvir o parecer desse e daquele outro antes de decidir alguma coisa”.
Para tal exercício, considerou o bispo, é preciso humildade tanto por parte do clero como dos leigos, para entender até onde vai a missão de cada um, em comunhão um com o outro. “Esta é a maravilha da Igreja, um mistério de comunhão. Ela tem uma organização hierárquica sim, instituída pelo próprio Cristo, e que coloca os pastores à frente da sua Igreja. Mas a hierarquia está em função da comunhão”.
Por fim, Dom Edmilson explicou que o documento aprovado pela CNBB será passado às bases, estudado e será muito importante para a criação dos conselhos de leigos nas dioceses, que terão como finalidade ajudá-los na caminhada. “Isto porque o específico do leigo é a vocação de estar no mundo. A Igreja foi criada para ser no mundo um instrumento de salvação, não para se recolher ou para ser uma seita. Somos abertos ao diálogo, à comunhão, para levar a salvação a todas as pessoas realmente”.