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Documentário "Blood Money – Aborto Legalizado"

A Europa Filmes e a Estação Luz Filmes lançaram em São Paulo no dia 15 de novembro o documentário “Blood Money – Aborto Legalizado”, uma produção norte-americana independente, assinada pelo diretor David Kyle (1).

“Blood Money – Aborto Legalizado” traz depoimentos de médicos e outros profissionais da área, de pacientes, cientistas e da ativista de movimentos negros dos EUA, Alveda C. King, sobrinha do pacifista Martin Luther King, que também apresenta o documentário. Dra. Alveda é envolvida em discussões sobre o mecanismo de controle racial nos EUA – o maior número de abortos é realizado nas comunidades negras.

Documentários denunciando as atrocidades provocadas pela indústria do aborto nos EUA e os lucros que proporcionam para as clínicas abortistas não é novidade para nós. Temos o documentário “O Grito Silencioso” produzido por Dr. Bernard Nathanson, o famoso médico americano, um dos maiores abortistas dos Estados Unidos, conhecido por “o Rei do Aborto” e hoje, como ele mesmo se intitula, ex-abortista. Bernard Nathanson mostra, mediante uma ecografia realizada em uma mulher grávida no momento do aborto, as reações da criança no útero da mãe. Ele reconhece, após assistir um vídeo de um aborto, que este é um crime contra o ser humano: “Para aqueles que duvidam disto, essas imagens chocantes podem ajudá-los a entender a atrocidade que é a prática do aborto”.

“A destruição de uma vida humana não é a solução para o que basicamente é um problema social. E acredito que recorrer a esta violência é admitir que a ciência e – pior ainda – a ética estão empobrecendo. Eu me recuso a acreditar que a humanidade que chegou até a lua não possa criar uma solução melhor do que recorrer à violência. (…) Vamos todos, pelo bem da humanidade, aqui e agora, parar este genocídio” (Dr. Bernard N. Nathanson).

Hoje a denúncia retorna nas telas dos cinemas com o documentário “Blood Money – Aborto Legalizado”. Conforme o site, o documentário de Kyle trata do funcionamento legal da indústria do aborto nos Estados Unidos, mostrando “de que forma as estruturas médicas disputam e tratam sua clientela, os métodos aplicados pelas clínicas para realização do aborto e o destino do lixo hospitalar, entre outros temas, de forma muito realista” (Luís Eduardo Girão, diretor da Estação Luz Filmes).

O filme também faz denúncias como a prática da eugenia e do controle da natalidade por meio do aborto e trata aspectos científicos e psicológicos relacionados ao tema, como o momento exato em que o feto é considerado um ser humano e se há ou não sequelas para a mulher submetida a este procedimento.

O documentário ainda traz o depoimento de muitas pessoas que lutam a favor da vida e contra o aborto, cito aqui Carol Everett foi proprietária de duas Clínicas de Aborto nos Estados Unidos e Diretora de duas outras desde 1977 até 1983. Deixou este ramo de trabalho, porque se converteu ao Cristianismo. Entrevistada por Marta Scheiber (2), descreve os procedimentos dos oficiais das Clínicas de Aborto, voltados principalmente para o lucro financeiro, a ponto de iludir e manipular as suas clientes. Menciona os bárbaros métodos aplicados para eliminar as crianças, e os artifícios dirigidos às respectivas mães para que sufoquem a dor e o trauma de ter matado uma criança. Mais de uma vez Carol Everett fala da “indústria do aborto”, expressão que ela justifica ao referir as estratégias utilizadas pelos profissionais para aliciar mulheres e delas extrair dinheiro. Afirma Evetett “Tornei-me rica mediante o aborto”.

Outro depoimento significativo que o documentário traz é de Alveda King sobrinha Martin Luther King vencedor do prêmio Nobel da Paz em 1964. Em maio de 2012, no VI Congresso Mundial das Famílias, em Madri, Alveda disse: “A cultura da morte baseia-se nas mesmas mentiras que sustentavam a segregação racial e a discriminação nos Estados Unidos, levando a valorizar algumas vidas e a desprezar as outras. Sustentava-se a opressão e violência racial, indicando que alguns eram menos humanos do que outros, dependendo de sua cor, e esta violência justificava linchamentos, espancamentos, expulsão pelos cães … eu mesma fui testemunho disso; hoje são outros mártires violentados e oprimidos, mas a justificação é a mesma mentira de que uns seres humanos são superiores a outros.”

Em 2006, numa entrevista que concedeu à agência de notícias Zenit, Alveda disse que dos 45 milhões de abortos estimados nos Estados Unidos, realizados desde 1973, aproximadamente 15 milhões ocorreram em famílias afro-americanas. Segundo ela, nas comunidades carentes de maioria negra as redes de clínicas abortistas, como a Planned Parenthood, impõe o aborto como “agenda prioritária”.

Talvez para muitos dos nossos católicos têm surgido a dúvida se o aborto é errado ou não, se é pecado ou não. No passado havia a certeza de que abortar uma criança é sempre errado. Mas de onde surgem as dúvidas de hoje? Aquilo que no passado era uma certeza hoje já é duvidoso. Estou certo que as dúvidas que estão aparecendo na cabeça do nosso povo têm sua origem numa campanha que existe a favor do aborto e que estão sendo impostas de uma forma bem sutil. Esta campanha está criando em nossa sociedade a cultura do aborto. Estamos entrando numa cultura da morte sem percebermos. Como diz o médico francês J. Lejeune, “se a saúde da mãe está ameaçada, se mata a criança; se a saúde da criança está ameaçada, se mata a criança; se a saúde pública está ameaçada, se mata a criança”. O aborto não é terapêutico, não cura a criança e nem resolve o problema da mãe, ele elimina a criança.

A morte direta e voluntária de um ser humano inocente é sempre gravemente imoral. Importante lembrar o que nos disse o Beato João Paulo II: “Nada e ninguém pode autorizar que se dê a morte a um ser humano inocente, seja ele feto ou embrião, criança ou adulto, velho, doente incurável ou agonizante”. Todos têm direito à vida.

Outro ponto importante quando se fala de aborto são as leis que permitem ou não o aborto. Temos que ter a consciência que nem tudo aquilo que é legal é moral, leis que aprovam o aborto, que não defendem a vida desde o nascimento são danosas e não merecem serem respeitadas. Nenhuma legislação jamais poderá tornar lícito um ato que é intrinsecamente ilícito. Portanto, o aborto é uma pena de morte decretada contra um ser humano frágil e indefeso. Por isto, com toda certeza afirmo que a vida humana é sagrada e possui dignidade inviolável e precisa ser defendida e preservada desde a concepção.

No entanto, a vida de uma criança no ventre da mãe deve ser protegida pela lei, cada qual no seu estágio de desenvolvimento. Trata-se de um direito inalienável. Permitir a interrupção dessa vida é praticar o crime de aborto. Não podemos admitir exceções. Independentemente das condições da mãe ou da criança, a vida humana sempre deve ser preservada. A Igreja se mostra radical quando o assunto é defesa da vida humana, em particular a indefesa. A defesa da vida humana tem que ser garantida apesar do que possa se desenvolver depois.

A Igreja católica é coerente com o pensamento de Jesus que assumiu a condição humana para trazer vida a todos e vida em abundância. A Igreja católica sempre se posiciona na defesa da inviolabilidade da vida humana, mesmo ainda não nascida. A proteção da vida humana inocente e indefesa deveria interessar a todos, acima de concepções religiosas ou ideológicas; é questão de humanidade, não apenas de religião. A vida deve ser acolhida como dom e compromisso. Há uma enorme diferença ética, moral e espiritual entre a morte natural e a morte provocada. Aplica-se aqui, o mandamento: “Não matarás” (Ex 20,13).

A cultura da morte não entrou em nossa sociedade de um dia para o outro, é uma cultura e como tal pode ser mudada. Acredito que, ainda antes de denunciarmos e combatermos os atentados à vida, que é também importante, temos de defender e exaltar a vida, celebrá-la e valorizá-la. E esta é a resposta a todos aqueles que defendem a cultura do aborto ou a cultura da morte. A vida é importante e por isto não se justifica o aborto. Cabe aos cristãos lutar e afirmar a vida. O aborto é um problema profundamente humano e por isto exige ser enfrentado e resolvido à luz da razão e por todos. A vida é sagrada e deve ser respeitada até o final e por isto não se pode adiantar o final da vida. A vida é o que temos de mais precioso.

Twitter: @pemariomarcelo
marioscj@uol.com.br


*Padre Mário Marcelo Coelho, scj, é doutor em Teologia Moral pela Academia Alfonsiana, Roma, Itália. Autor e assessor na área de Bioética e Teologia Moral.

(1) http://www.estacaoluzfilmes.com.br/index.php/producoes/item/80-blood-money-o-aborto-legalizado

(2) O texto publicado na revista espanhola PALABRA no 309, I (1991), pp. 46s e com tradução para o português publicado na revista PERGUNTE E RESPONDEREMOS 349 – junho 1991.

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