Em dias desafiantes, a maternidade acolhida como dom pode ser fonte de esperança e coragem para pensar num futuro feliz
Liliane Borges
Da redação
Como todas as datas comemoradas desde o início da instalação da pandemia do Covid-19 no país, o Dia das Mães será diferente. Com o mesmo amor, certamente, mas, em muitos casos, cheio de saudade. O isolamento social não possibilitará, talvez, o tradicional almoço em família, principalmente nos casos em que as pessoas mais idosas precisam se manter distantes.
E devido à distância, os filhos poderão caprichar nos gestos, de modo a não deixar a data ser invadida pela insegurança do momento. Um vídeo, um telefonema, um presente especial, coisas que já faziam parte das surpresas para a ocasião. Afinal, muitos já vivem a realidade da distância.
Poliana Landim, psicóloga, mestre em Psicologia, consultora em desenvolvimento humano, explica que justamente o contexto nos convida a atitudes concretas. É certamente o “momento de nos fazermos próximos, mesmo em distanciamento social. Fazer com que este Dia das Mães seja especial (ainda que com essa configuração do distanciamento), contribuirá para que as pessoas não se sintam ‘em dívida emocional’ com o momento”.
Os filhos sabem bem o que fazer para tornar esse dia marcante. “Precisamos fazer com que sintamos, filhos e mães, que este dia foi especial. Então, ao acordar, fazer uma ligação mais especial por vídeo, mandar outras mensagens para a mãe durante o dia, gravar um vídeo de agradecimento, utilizar as redes sociais para expressar o amor, enviar uma carta escrita (caso ainda dê tempo), e, se for possível, enviar uma cesta de café da manhã ou uma lembrança que tenha um significado especial. O que vale é demonstrar que o amor supera essas dificuldades”, incentiva a psicóloga.
Mãe pela primeira vez
Embora o sentimento geral seja de instabilidade e preocupação devido ao cenário atual, a celebração da vida sempre renova as esperanças, ainda mais quando é acolhida como um dom. É desse modo que Joselaine Souza Raimundo e o esposo Egídio esperam por Olívia. Com 40 semanas de gestação, a enfermeira conta os minutos para “conhecer” sua primeira filha.
“A chegada de um bebê é sempre um momento especial. Estou ansiosa para conhecer minha filha, tão esperada e desejada. Não vejo a hora de senti-la em meus braços”, conta Joselaine.
O nascimento de Olívia, assim perto do Dia das Mães, certamente não foi premeditado, mas recebido como um presente do céu. “O dom da maternidade é sagrado, é uma participação do mistério da criação de Deus; e a comemoração do Dia das Mães, é celebrado com muito carinho, porque mãe é a origem da nossa vida, é a força da família, é amor incondicional. Receber esse dom próximo a essa data é uma alegria e emoção, pois estou prestes a sentir esse amor”, revela a jovem mãe.
Em meio a toda festa, não há como não se dar conta dos efeitos da pandemia, sobretudo para Joselaine, que faz as consultas médicas regulares e terá o bebê em um hospital. Apesar da apreensão inicial, ela decidiu focar apenas na expectativa do nascimento.
“O excesso de informação, até por ser da área da saúde, deixou-me angustiada. Depois, decidi que só iria acompanhar o necessário pra me manter informada. Nessa reta final da gestação, sei que o melhor a ser feito é manter a calma e a tranquilidade, tenho o apoio do meu marido, o que me traz segurança, além de seguirmos todas as orientações necessárias para nos protegermos”, conta.
A realidade vivida por Joselaine é compartilhada por muitas mulheres que vão para a maternidade neste período, e a decisão tomada por ela foi acertada, explica a psicóloga.
“Se essas futuras mamães ficarem focadas nas notícias ruins da pandemia, isso aumentará o medo, a insegurança e a ansiedade. Precisamos lembrar que todo aspecto emocional gera uma resposta fisiológica em nosso corpo. O corpo sente, pela descarga de hormônios e de outros componentes, aquilo que vivenciamos. As grávidas, especialmente, precisam estar atentas a isso. Precisamos buscar, por decisão, termos mais momentos de bem-estar”, ensina Poliana.
Além da feliz expectativa, o casal conta com a fé para driblar as dificuldades. “A fé é o conforto diante do desconhecido, como a pandemia, Deus não nos abandona, caminha conosco, e aí temos a esperança de que tudo isso vai acabar e vai ficar tudo bem”, conclui Joselaine.
Segundo Poliana Landim, a “nova mamãe” acertou, mais uma vez, ao encontrar conforto na fé. “Ela (a fé) nos leva à transcendência, a entender que existe algo maior do que este momento atual, e é nisso que os nossos olhos devem estar fixos. O exercício diário da espiritualidade traz respostas favoráveis também para nossas emoções e para nossa saúde. É um antídoto certo para todo este momento de caos que vivemos”, ressalta a psicóloga.
Um futuro de esperança
Há quem inaugure o seu primeiro Dia das Mães com o bebê nos braços. Mariane Banfi sabe que não haverá passeio para comemorar a data, mas não se importa, o presente já chegou há 5 meses. Um sentimento diferente de todos já vividos, uma gratidão a Deus que faz vencer todos os medos e desafios.
Giuseppe esbanja alegria e saúde; a mãe, apesar de não dormir uma noite toda desde novembro passado, vive a data com uma alegria que não conhece legendas.
“Passar meu primeiro Dia das Mães com meu filho nos braços me traz os melhores sentimentos, sobretudo gratidão a Deus, pois, agora, compreendo com mais profundidade o amor d’Ele por mim”, afirma Mariane.
Diante das incertezas do futuro, de modo natural, a maternidade traz mais coragem e determinação para quem tem a vocação de educar para o que virá. “Neste momento desafiador, encontro no meu filho a esperança de que, quando tudo passar, o mundo será melhor”, conta Mariane.
Bom, por enquanto, o que está ao alcance das famílias Banfi e Raimundo é olhar adiante com esperança. E a psicóloga Poliana ensina que esse olhar poder ter um nome específico:
“Olhar para a Cruz que tanto nos ensina. Podemos oferecer todos os dissabores da pandemia, de não poder vivenciar o Dia das Mães como gostaríamos (ou outras comemorações que podemos celebrar como o habitual) como forma de expiação”, indica a psicóloga.