“Telecovid” pode ser utilizado por pacientes de qualquer local do território nacional e é totalmente gratuito; plataforma conta com mais de 60 médicos voluntários
Julia Beck
Da redação
Com a pandemia de coronavírus, o Conselho Nacional de Medicina (CFM) reconheceu a possibilidade e a eticidade de uso no país da telemedicina – fornecimento de informação e atenção médica a pacientes por meio de tecnologias da informação e telecomunicações. O anúncio do CFM contribuiu para o aperfeiçoamento e a máxima eficiência dos serviços médicos prestados.
Atualmente, a telemedicina pode ser exercida nos seguintes moldes: teleorientação, que permite que médicos realizem à distância a orientação e o encaminhamento de pacientes em isolamento; telemonitoramento, que possibilita, sob supervisão ou orientação médicas, que sejam monitorados à distância parâmetros de saúde e/ou doença; e teleinterconsulta, que permite a troca de informações e opiniões exclusivamente entre médicos, para auxílio diagnóstico ou terapêutico.
Seguindo as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e o entendimento das Associações Médica Mundial e Brasileira – como pede a normatização do uso da telemedicina publicada em 2002 pela CFM –, aplicativos e plataformas de desenvolvimento público e privado foram disponibilizadas para o uso da população.
O Sistema Único de Saúde (SUS) aderiu, no mês passado, a uma nova plataforma de consultas virtuais nos postos de saúde da Atenção Primária, o chamado “TeleSUS”. A iniciativa permite que profissionais de saúde tenham acesso a uma plataforma para realização de consultas virtuais médicas, de enfermagem e multiprofissionais, no âmbito da Atenção Primária.
Outra plataforma surgida após a aprovação da Lei nº 13.989/2020 e da Portaria da Telemedicina, editada pelo Ministério da Saúde (MS), foi o “Validador de Documentos Digitais”. Com a aprovação da possibilidade de envio de prescrição médica em formato digital por e-mail e até por aplicativo de mensagem ao paciente, o Governo Federal lançou a validação de assinatura de prescrições e atestados médicos pela internet. Assim, o documento, depois de validado, pode ser encaminhado à farmácia para a compra do medicamento com o seu recebimento em casa.
Neste cenário, uma plataforma de saúde que permite o atendimento e monitoramento de pacientes de qualquer local do território nacional que estejam com suspeita de infecções pela Covid-19 foi criada recentemente pelo médico e professor de medicina, Jamil Ribeiro Cade. O “Telecovid”, como é denominada a plataforma, está disponível gratuitamente para a população.
“Não temos todos os recursos como respiradores, ventiladores, leitos… o que faz com que haja uma estagnação do sistema de saúde. Isso é o maior problema que os profissionais de saúde enfrentam hoje, além de uma contaminação. Cerca de quase 20 ou 30% dos pacientes que sofrem com a Covid-19 são profissionais da área da saúde”, explicou Jamil.
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O médico conta que se dedica à tecnologia e inovação na área da saúde desde 2018, sendo o “Telecovid” uma união desses dois seguimentos. Segundo Jamil, a plataforma está de acordo com as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde.
Ao acessar o “Telecovid”, os usuários precisam responder a informações e depois a perguntas sobre os sintomas apresentados, doenças preexistentes e medicação em uso. Após esse passo, o sistema classifica o usuário em “baixo risco” ou “alto risco”.
Os pacientes de “baixo risco” são orientados automaticamente pela própria plataforma junto ao número de protocolo a ser usado em consultas posteriores. Aqueles que apresentam os sintomas considerados de “alto risco” são levados imediatamente para uma consulta por telemedicina, que pode ser realizada em qualquer dia da semana, das 7h às 19h.
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A plataforma pode ser utilizada quantas vezes o paciente desejar, além de não coletar dados extras, apenas o necessário para monitorar o estado de saúde do usuário. Uma vez que a pessoa atendida recebe um número de protocolo, ao acessar pela segunda ou terceira vez usando o mesmo número, Jamil explica que os médicos que realizam o atendimento conseguem saber temporalmente a evolução dos primeiros sintomas apresentados para, se necessário, indicarem a necessidade de uma consulta presencial em um pronto-atendimento ou hospital.
Rede de voluntários
A médica Kamila Cristine Liberali de Souza e a estudante do 5º ano de medicina, Isabela De Angelis, fazem parte do time de mais de 60 voluntários que atendem a população por meio da plataforma. Jamil explica que qualquer profissional da área de saúde pode auxiliar no projeto, inclusive alunos de medicina, que assim como Isabela, cursam o 5º ou 6º ano da faculdade. Os estudantes atendem com supervisão de médicos.
Sobre a iniciativa de se voluntariar para apoiar o projeto, Kamila conta: “Quando Jamil me apresentou o projeto, eu fiquei encantada não só pela plataforma, mas também pelo fato de conseguirmos aumentar o acesso da população aos profissionais da saúde de maneira rápida, fácil e segura. Poder facilitar o acesso da população a informações seguras e de qualidade, neste momento de pandemia, é fundamental”.
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“Logo no início da pandemia, nossos estágios do internato que compõem os dois últimos anos da formação foram suspensos. Apesar de estar em casa estudando e fazendo outras atividades à distância, eu sentia a necessidade de ajudar a população nesse momento tão difícil. Foi aí que surgiu a possibilidade de participar da plataforma do ‘Telecovid’ como voluntária, para que, à distância, eu pudesse colaborar ativamente de alguma forma”.
A estudante conta que participou de videoconferências e capacitações, até que entrou para o grupo de alunos voluntários do projeto. “O que me motivou foi a possibilidade de continuar cumprindo a minha missão apesar de todas as dificuldades que estamos vivendo nesse momento”.
Atendimentos
O atendimento acontece por meio de turnos. Cada voluntário tem um dia e um horário na semana para cobrir os atendimentos da plataforma. Os médicos e estudantes ficam on-line na plataforma e atendem os usuários que acessam a videoconferência. A estudante Isabela explica que, antes do atendimento, os profissionais acessam alguns dados do paciente como iniciais do nome, idade, fatores de risco, sintomas, medicações em uso, e se teve contato com infectados pela Covid-19 entre outros.
“Nesse atendimento, nosso objetivo é fazer orientações ao paciente, então, conversamos, tiramos dúvidas, colhemos dados e, com isso, orientamos se a pessoa deve ficar em casa, procurar uma unidade básica de saúde ou um pronto socorro. A todo o momento, nós, alunos voluntários, somos supervisionados por um médico formado que está disponível para nos ajudar e tirar possíveis dúvidas. Inclusive, temos reuniões via videoconferência ocasionalmente para alinharmos informações e discutirmos possíveis melhorias na plataforma”.
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Segundo a médica Kamila, no atual contexto há muita informação sendo gerado pela televisão e redes sociais, o que tem feito muitos brasileiros acessarem a plataforma para tirarem dúvidas e receber orientações. “Algumas notícias podem gerar grande ansiedade na população que não possui o conhecimento técnico para julgá-las. Por isso, o aplicativo (…) é uma maneira de conseguirmos ajudar as pessoas a se manterem mais calmas neste momento”.
Balanço
Até o momento, foram realizadas, aproximadamente, duas mil consultas por telemedicina com profissionais da área da saúde. A plataforma já foi acessada mais de quatro mil vezes e já foi traduzida para a língua espanhola, tendo conquistado um domínio direcionado para os mexicanos.
Jamil explica que os usuários do território mexicano, ao utilizarem a plataforma “Telecovid”, entram em contato com os médicos de seu país, enquanto os pacientes no Brasil são atendidos por médicos brasileiros.