Igreja

Com alto-falantes, igrejas evangelizam quem não tem acesso à internet

Igrejas no interior do Rio Grande do Norte usam alto-falantes para facilitar participação de fiéis que não têm acesso a recursos digitais

Da redação, com CNBB NE

No sertão do Rio Grande do Norte, onde os recursos tecnológicos são escassos, os alto-falantes se tornaram um grande aliado da evangelização, sobretudo, para os fiéis mais idosos. É assim na cidade Agreste de Cima, distante sete quilômetros da sede da Diocese de Mossoró (RN).

No interior do Rio Grande do Norte, casal de idosos acompanha a Missa pelos alto-falantes / Foto: Antônio Cleudo – CNBB NE

Minutos antes da Missa começar na igreja matriz, Paróquia São Miguel, o sino avisa que a celebração já vai começar. Prontamente, convidados pelos badalos, o casal Francisco Chaves, 73 anos, mais conhecido como seu Chiquinho, e Francisca Maria, 84 anos, a dona Francisquinha, colocam o tamborete na calçada em frente à casa onde moram e ficam atentos à liturgia.

Com celebrações a portas fechadas, em plena pandemia do novo coronavírus, o padre Vicente Fernandes busca, com suas pregações, motivar a população a ter confiança em Deus na espera por dias melhores.

Recurso histórico

Em 1º de abril de 1981, os alto-falantes da Igreja Matriz de Santa Rita de Cássia, em Santa Cruz (RN), foi utilizado para anunciar uma grande enchente que se aproximava.

As “bocas de ferro” do sistema de som externo do templo alertaram a população a procurar abrigo e fugir das áreas mais baixas. Aquele anúncio do monsenhor Raimundo Barbosa salvou milhares de vidas e, semanas depois, as novenas a Santa Rita pediam pela reconstrução de Santa Cruz.

Alto-falantes das Igrejas da região já foram usados em outros momentos históricos / Foto: Antônio Cleudo – CNBB NE

Quase 40 anos depois – palavras de esperança frente à ameaça da Covid-19 em todo o mundo. Por meio de um sistema simples, sem sofisticação dos tempos de alta tecnologia e funcionalidades digitais, os cabos de áudio ativam as bobinas da estrutura antiga, mas extremamente eficaz e simbólica por sua história.

Mesmo bem desgastados pelo tempo, mas testemunhas da sua utilidade em propagar a vida, os alto-falantes, também chamados de “bocas de difusoras” ou apenas “difusoras”, são exemplos da comunicação eficiente onde internet e sinais de TV e rádio são precários.

Tradição

No território da Arquidiocese de Natal, especialmente nos municípios que ficam no interior, também há comunidades que ainda contam com o alto-falante. Em Taipu, por exemplo, esse sistema de comunicação é utilizado na igreja matriz de Nossa Senhora do Livramento.

De acordo com o coordenador paroquial da Pastoral da Comunicação (Pascom), Paulo Viana, há mais de 30 anos, a paróquia mantém a tradição de transmitir, pelos alto-falantes, a recitação do terço mariano diariamente, às 18h, e a missa, às quintas-feiras e aos domingos, às 19h30.

“Nesta pandemia, durante as transmissões das missas, os fiéis ficam em frente às suas casas e, no momento da comunhão, várias pessoas vão até à porta da Igreja, tomando os devidos cuidados, para receber a Eucaristia”, diz Viana.

Outro exemplo está na igreja de Nossa Senhora da Conceição, imponente templo religioso da cidade de Ceará-Mirim, na região metropolitana de Natal. Lá o sistema de som transmite o terço nos sábados, e a missa de terça a sexta, às 19h, e aos domingos, às 8h. Neste período, os fiéis têm acompanhado as celebrações da praça que fica em frente à matriz.

Missa na porta de casa

No sertão potiguar, onde os recursos tecnológicos são ainda mais escassos, os alto-falantes se tornaram um grande aliado da evangelização, sobretudo, para os fiéis de mais idade. É assim na cidade Agreste de Cima, distante 7 quilômetros da sede da Diocese de Mossoró (RN), mas exatamente na Paróquia São Miguel.

Minutos antes da missa começar na igreja matriz, outro instrumento tão antigo quanto à difusora, o sino, avisa que a celebração já vai começar. Prontamente, convidados pelos badalos o casal Francisco Chaves, 73 anos, mais conhecido como seu Chiquinho, e Francisca Maria, 84 anos, a dona Francisquinha, colocam o tamborete na calçada em frente à casa onde moram e ficam atentos à liturgia.

A mesma rotina tem Francisco de Assis e o sobrinho Antônio, ambos com deficiência física, mas que, graças à difusora, conseguem participar da Celebração Eucarística da porta de casa, respeitando o isolamento social.

“Somos uma comunidade pequena onde não dispomos de todos os meios de comunicação, mas percebemos a importância do nosso alto-falante na transmissão da Palavra de Deus e no processo de evangelização da comunidade”, afirma o agente da Pascom da Paróquia de São Miguel, Antônio Cleudo Chaves da Silva.

A estratégia também funciona nas paróquias de Campo Grande, Encanto, Luis Gomes e na Área Pastoral de Santo Antônio, no município de Antônio Martins. Nessas localidades, as difusoras transmitem a missa dominical com o bispo diocesano, dom Mariano Manzana, a Hora do Angelus, novena da festa do padroeiro, informes paroquiais e de órgãos públicos de interesse da comunidade.
Para o padre Antônio Carlos, formado em comunicação social pela Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN), e pároco da Paróquia de Campo Grande, foi uma grata surpresa sair da missa, no município de Janduis, e perceber pessoas de máscara na praça em frente à igreja ouvindo a missa pelo alto-falante.

“Achei superinteressante as pessoas respeitando as orientações das autoridades de saúde, mas na calçada de suas casas atentas à Santa Missa pela difusora. Mesmo frente à modernidade com recursos comunicacionais como a internet, televisão, rádio, jornais, o serviço de alto-falante vem cumprindo muito bem o seu papel da comunicação”, declara o sacerdote.

“Entendemos que nem todo mundo possui celular ou sabe manuseá-lo e o alto-falante vem justamente atender essa demanda. O Evangelho precisa chegar a todos os homens”, finaliza o diácono José Vitor dos Santos, da paróquia da cidade de Luis Gomes.

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