Estação gelada

"Caridade da Madrugada" ajuda moradores de rua no inverno de SP

Com a chegada do inverno, os que mais sofrem são os que moram na rua. Mas, em São Paulo, um grupo de amigos se determinou a amenizar esse sofrimento

André Cunha
Da redação

Com a chegada do inverno, inaugurado oficialmente dia 21 de junho, o frio fica bem intenso em boa parte do país.  Na madrugada desta quarta-feira, 21, por exemplo, os termômetros chegaram a 13ºC na Zona Sul de São Paulo. Segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), foi a temperatura mais baixa na capital paulista.

De acordo com o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), a temperatura mais baixa marcada na capital até o momento em 2017 foi 8,9ºC em 11 de junho.

Os dias serão frios, apesar de que, segundo prognóstico do Inmet, os dias serão ligeiramente mais quentes, na média, que o inverno do ano passado.

Para quem mora na rua, o frio é sempre frio, moderado ou não. E é por aqueles que não podem escolher como se aquecer nesta estação que o grupo de amigos que se intitula “Caridade da Madrugada” sai às ruas da capital paulista, nas noites de terça-feira, para prestar assistência a quem precisa. O grupo não está ligado a nenhuma instituição religiosa e atua há quatro anos na capital, não apenas no inverno.

Caridade da Madrugada presta apoio a moradores de rua em São Paulo, especialmente no inverno / Foto: Arquivo pessoal / Facebook

Entre os membros, está a odontologista Priscilla D’Wilmonn. Ela explica que o trabalho de caridade acontece principalmente no centro de São Paulo, onde está concentrada a maior parte dos moradores de rua, sobretudo, na região da Praça da Sé e Ceagesp.

Priscila conta que ainda há bastante pessoas na rua, além daquelas que apenas migram de um lugar para o outro. Por isso, ela afirma: “a caridade não pode parar”. “Quase todas as semanas a gente passa pelos mesmos pontos, visitamos as mesmas famílias, e elas precisam quase sempre das mesmas coisas”, conta.

Grupo “Caridade da Madrugada” se reúne há quatro anos em São Paulo. A odontologista Priscilla é a de vermelho, à direita / Foto: Arquivo pessoal / Facebook

De todo o trabalho, Priscilla diz que a principal dificuldade do grupo é com relação às doações, apesar dos muitos amigos que sempre ajudam. “Nossa ação não é só de inverno. Como ela acontece o ano todo, precisamos de doação o ano todo. E nós não fazemos só a ‘Caridade da Madrugada’, ajudamos também asilos, creches… Então, nossa principal luta são com as doações”.

A experiência de ajudar alguém que precisa é sempre gratificante, e para a odontologista, apesar dos compromissos pessoais de cada pessoa do grupo, todo o esforço é compensado. “Todo mundo trabalha cedo no outro dia, mas não tem problema, a gente fica até a madrugada. Acho que a gratificação é você saber que está ajudando uma pessoa que precisa de verdade. Dá um pouquinho pelo menos, já que a gente não pode trazer pra casa e cuidar”.

Atenção aos pobres: o apelo do Papa

Na primeira mensagem para o Dia Mundial dos Pobres, o Papa Francisco disse que os cristãos são chamados a “estender a mão aos pobres, a encontrá-los, fixá-los nos olhos, abraçá-los, para lhes fazer sentir o calor do amor que rompe o círculo da solidão”. “A sua mão estendida para nós é também um convite a sairmos das nossas certezas e comodidades e a reconhecermos o valor que a pobreza encerra em si mesma”, disse.

Esta atenção com os mais necessitados ainda precisa crescer, segundo Priscilla. “Acho que já foi mais distante. Como a mídia está mais presente, quando o inverno chega, as doações melhoram, porque as pessoas veem na televisão. Acredito que está distante ainda, mas já foi pior”.

Para quem quer ajudar, mas não sabe como, a odontologista dá uma dica: “O simples fato de colocar um cobertor, um moletom que não usa mais no carro – e quando ver alguém na rua precisando, ajudar, já é um gesto que faz muita diferença”.

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