País celebra dia de conscientização da cardiopatia congênita nesta quarta-feira, 12; confira detalhes sobre doença e testemunho de família que a enfrenta
Gabriel Fontana
Da Redação
Uma condição que atinge milhares de crianças em todo o Brasil, mobilizando suas famílias em torno dos cuidados com a saúde. Trata-se da cardiopatia congênita, cujo dia nacional de conscientização será celebrado no Brasil nesta quarta-feira, 12.
Segundo a pediatra e cardiologista infantil Rafaella Gato, “cardiopatia congênita” é um termo que se refere às doenças que afetam o coração e as estruturas relacionadas presentes no nascimento. “Pode haver uma má formação estrutural do órgão, como comunicações internas (ou ausências delas), além de alterações nas válvulas cardíacas e ausência do desenvolvimento de cavidades ou vasos (veias e artérias)”, explica.
Essas doenças podem ter origem genética, infecciosa ou até mesmo aleatória, durante as primeiras semanas no ventre materno. Contudo, alguns casos podem estar relacionados a doenças adquiridas pela mãe nesta fase, como doenças virais como a rubéola e até diabetes gestacional.
A médica aponta ainda alguns fatores de risco que podem contribuir com o surgimento de cardiopatias congênitas: idade da mãe, histórico familiar, tabagismo e uso de algumas medicações teratogênicas estão associados à ocorrência da doença, em sua maioria associada a síndromes de anomalias múltiplas.
Um a cada cem nascidos apresenta cardiopatia congênita
Por ano, cerca de 30 mil crianças nascem com alguma cardiopatia, segundo dados do Ministério da Saúde – o índice é de um a cada cem nascidos. “É muito mais frequente do que a população em geral pode imaginar”, comenta Rafaella, acrescentando que o diagnóstico precoce é o ideal para tratar essa condição.
“O melhor exame [para detectar cardiopatias congênitas] é o ecocardiograma fetal, um ultrassom do coração do bebê ainda na barriga da mãe, que deve ser realizado entre a 24ª e a 28ª semana de gestação, que detectaria, de forma mais precoce e acurada, a presença de uma cardiopatia grave que pode ter necessidade de cuidados neonatais especiais ou até intervenção logo após o nascimento”, descreve a médica.
Tal exame, observa, está previsto pela Lei Federal 14.598/2023 como um exame a ser realizado por todas as gestantes juntamente com, pelo menos, dois exames de ultrassonografia durante o primeiro quadrimestre de gestação.
Tratamento da cardiopatia congênita
O tratamento de cardiopatias congênitas pode variar de acordo com a condição apresentada pela criança. Entre as possibilidades estão intervenções no período fetal, uso de medicamentos, cirurgia cardíaca tradicional, cateterismo cardíaco e até cirurgia híbrida (cirurgia cardíaca junto com a equipe do cateterismo).
“A necessidade de intervenção vai variar de acordo com a gravidade da cardiopatia, risco de vida após pós-natal e a manifestação de sintomas que possam prejudicar o crescimento e desenvolvimento da criança”, comenta Rafaella.
A cardiologista infantil reforça a importância do diagnóstico precoce e de um acompanhamento adequado durante a gestação para garantir uma maior qualidade de vida para a criança com cardiopatia.
“A evolução dos equipamentos, das técnicas cirúrgicas e da assistência pós-operatória, junto ao aumento das UTIs de cuidado intensivo específico em cardiopediatria, tem aumentado a sobrevida dos pacientes mais graves, assim com a redução das complicações e sequelas associadas a tantas intervenções dos nossos pequenos guerreiros”, avalia.
Testemunho do Liam
O pequeno Liam, hoje com 10 meses, nasceu com duas cardiopatias, conhecidas como CIA (comunicação interatrial – má formação na estrutura que divide o coração) e CIV (comunicação interventricular – cardiopatia que gera um fluxo indevido de sangue). Além disso, tinha mais de um canal arterial ligando a aorta ao pulmão.
A mamãe Taise Santos relata que só descobriram tais condições quatro dias após ela dar à luz seu filho, em agosto do ano passado. Ele não passou no “teste do coraçãozinho”, e uma cardiologista infantil foi chamada para realizar um ecocardiograma. Após o exame veio o diagnóstico, e o tratamento começou com a administração de medicamentos contínuos a partir da terceira semana de vida do Liam.
Em dezembro, constatou-se a necessidade de intervenção cirúrgica para corrigir a CIV. À época, o pequeno começou a apresentar insuficiência pulmonar. “Ficamos aflitos, porque tínhamos esperança de fechar e não precisar operar”, conta Taise. A operação aconteceu em 20 março deste ano.
Ela explica que a cirurgia à qual Liam foi submetido é a mais simples. “Ele ficaria apenas uma semana no hospital, mas dependia só dele”, relata, “e assim foi: com muita oração, nos internamos em uma terça-feira e na outra quarta-feira saímos do hospital”.
“Hoje, ele está muito bem”
Segundo Taise, o sentimento de passar por tudo isso foi de medo, angústia e incapacidade. “Os dois primeiros dias foram muito tensos, mas, acima de tudo, tínhamos muita fé em Deus”, expressa. Após toda essa experiência, os médicos asseguraram que a operação foi bem sucedida.
Atualmente, a família do Liam espera para fazer o primeiro ecocardiograma e avaliar o resultado da cirurgia. O acompanhamento continua, mas a mãe afirma que seu filho está muito bem. “Sua respiração já não é mais cansada, consegue mamar leite na mamadeira direto, sem parar, o que ele não conseguia antes”, detalha, acrescentando que “ele ficou mais espoleta do que já era e mais risonho”.
Por fim, Taise deixa algumas dicas para os pais que têm seus filhos diagnosticados com cardiopatia congênita. Além de aconselhar a procurar um cardiologista de confiança e se preparar psicologicamente para amparar a criança doente, ela orienta a ter paciência e manter a fé em Deus. “Ele nunca nos desampara e sabe de todas as coisas”, conclui.