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Cardeal Sérgio da Rocha reflete sobre vivência da Quaresma nos dias atuais

Vivência da Quaresma tem sofrido transformações, mas permanece o seu sentido maior de preparação para a Páscoa, explica Dom Sérgio

Cardeal Sérgio da Rocha*

Quaresma

Quaresma é o tempo de preparação para a Páscoa / Foto: Wesley Almeida- CN

A Quaresma hoje

A Quaresma é vivida, hoje, de modo bastante diferente do passado, num novo contexto sociocultural. A vivência da Quaresma tem sofrido transformações decorrentes das próprias mudanças culturais ocorridas em nosso meio, que incluem alterações na percepção e vivência da religião, repercutindo na compreensão e nas práticas quaresmais. A própria Igreja Católica promoveu alterações significativas na maneira como se celebra e se vive a Quaresma, especialmente, em relação às práticas penitenciais. Contudo, em meio às mudanças culturais e religiosas, permanece o seu sentido maior enquanto tempo de preparação para a Páscoa por meio da oração, da penitência e da caridade.

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A reforma litúrgica, com o Concílio Vaticano II, revalorizou o Tríduo Pascal, retomando o sentido de recolhimento do sábado, véspera da Páscoa, denominando-o “sábado santo” e não mais “sábado de aleluia”, como muitos se habituaram a chamá-lo, e estabelecendo a celebração solene da Vigília Pascal na noite do sábado para o domingo da Páscoa. Os dias e as formas de penitência quaresmal também sofreram mudanças. Atualmente, são apenas dois os dias obrigatórios de jejum quaresmal, a Quarta-feira de Cinzas e a Sexta-feira Santa, permanecendo o caráter penitencial das sextas-feiras da Quaresma, com a abstinência de carne. Isso não significa perda ou enfraquecimento do sentido quaresmal. Ao contrário, busca-se sempre mais a fidelidade às raízes bíblicas da espiritualidade quaresmal, destacando-se a prática da caridade e da misericórdia, o perdão e a reconciliação, o amor fraterno e solidário, que tornam ainda mais necessárias a oração e a penitência. A prática do amor fraterno, que inclui a convivência entre as diferentes pessoas, o diálogo e o perdão, exige, muitas vezes, renúncias e pressupõe sacrifícios que constituem autêntica penitência cujos frutos perduram na vida após a Quaresma. No Brasil, desde 1964, a Igreja desenvolve, a cada ano, a Campanha da Fraternidade como um meio de vivência da Quaresma, através de gestos concretos de amor fraterno, de solidariedade e partilha.

Neste tempo de pandemia, a Quaresma torna-se ainda mais significativa, levando-nos o voltar o olhar e o coração para Cristo crucificado e a reconhecer o seu rosto sofredor nos rostos dos que sofrem. É tempo de subir o calvário e permanecer aos pés da cruz, sendo mais fraternos e solidários. O mundo necessita de Cirineus e Verônicas, o Cirineu que alivia a dor e a Verônica que enxuga as lágrimas de quem sofre. Eles estão presentes junto aos doentes, aos aflitos e aos pobres. Além disso, o cuidado da vida e da saúde tem exigido renúncias e sacrifícios. Observar as medidas para conter a pandemia pode ser um sacrifício agradável a Deus e sinal de amor ao próximo.

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* O Cardeal Sérgio da Rocha é mestre em Teologia Moral pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo, e doutor pela Academia Alfonsiana da Pontifícia Universidade Lateranense, em Roma. Já foi bispo auxiliar da arquidiocese de Fortaleza (CE), arcebispo das arquidioceses de Teresina (PI) e Brasília (DF) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Atualmente, é arcebispo de Salvador (BA), Primaz do Brasil.

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