O tabaco é um dos principais causadores do câncer no pulmão, o segundo que mais mata no Brasil, perdendo apenas para o câncer de pele não melanoma
Thiago Coutinho
Da redação
O câncer de pulmão é o segundo mais comum entre os brasileiros — perde apenas para o câncer de pele não melanoma. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), foram registradas 28.618 mortes em 2020 no País. Um dos fatores intrinsicamente ligado a essas mortes é o tabagismo.
Nesta terça-feira, 29, se celebra o Dia Nacional de Combate ao Fumo. Além deste dia, durante todo o mês de agosto acontece a campanha Agosto Branco, que promove uma conscientização, combate e prevenção do câncer de pulmão.
Esta doença é apenas um dos males que o tabagismo pode causar. “O vício desenvolvido pela nicotina pode ocorrer de forma relativamente rápida”, revela Otávio Eboli, cardiologista clínico e intervencionista. “Quando se fala em desenvolvimento de dependência à nicotina, falamos de um fenômeno em que o indivíduo necessitará de doses crescentes para obter o mesmo tipo de efeito e, na interrupção na administração da nicotina, haverá sintomas de abstinência, o que o levará a procurar o uso da substância novamente”.
Vício pode ser vencido
Sim, é possível vencer o vício e se livrar do tabagismo, embora este possa ser um processo difícil. Medicações psiquiátricas, como antidepressivos e inibidores de compulsão, podem ser empregados para que não haja uma recaída no uso do cigarro.
“Evidentemente que o fato fundamental para a interrupção [no uso do cigarro] é a pessoa parar de fumar. Não há comprovação de nenhum método de que a pessoa perde o vício aos poucos. Isso não é real. A pessoa que consegue interromper o tabagismo lutará contra esta recaída por algum tempo. Às vezes por meses. O cuidado tem que ser constante e renovado para que surta um efeito definitivo”, detalha.
A reincidência no vício acontece e é normal, de acordo com o cardiologista. “As recaída acontecem, são terríveis. As pessoas chegam a fumar tanto ou mais do que antes. É um tratamento que requer muita seriedade e acompanhamento”, diz.
Fumante passivo
Quem convive com um fumante convicto também está suscetível a desenvolver câncer de pulmão. “Mesmo naqueles casos em que o fumante tenta tomar o cuidado de sair à varanda, fumar e fechar as portas. Ainda assim, ele ocasionará fumantes passivos por meio da fumaça que carrega nos pulmões, cabelo. E isso intoxica pessoas que não estão adaptadas aos efeitos do cigarro”, afirma.
Para o fumante passivo, o perigo é o que “sobra” do cigarro. “Em torno de 2600 substâncias tóxicas, muitas delas cancerígenas, atingem a pessoa. Vários outros tipos de câncer, como o de bexiga, que aparecem até mais que o de pulmão, câncer nos ossos, além das consequências diretas ao sistema respiratório, como bronquites, faringites, enfisemas, tudo isso pode estar presente no fumante passivo”, alerta Eboli.
Cigarro eletrônico: uma alternativa perigosa
Muito em voga atualmente, o cigarro eletrônico foi desenvolvido com o objetivo de ajudar as pessoas a perder o vício no tabaco — o que ocorre, porém, é exatamente o contrário. “Ele perdeu completamente esse caráter de redução de danos. Ou seja, pessoas que já são tabagistas pesados, com pouca chance de cessação do tabagismo de absorverem a nicotina, mas não absorverem as substâncias tóxicas”, explica o cardiologista.
O que houve com o tempo, segundo Eboli, é que as pessoas, mesmo as que não fumavam, começaram a fazer uso do vaper no dia a dia. Tornaram-se, porém, viciados em nicotina da mesma maneira. “Com isso, formou-se, especialmente entre os mais jovens, uma grande porta de entrada para o tabagismo, uma vez que o cigarro eletrônico tem um custo mais alto, e faz com que essas pessoas consumam as formas tradicionais de uso do tabaco”, lamenta. “Uma vitória à indústria do tabagismo, que teve início revestida de boa intenção”, finaliza.
Estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que o tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas por ano em todo o mundo. Mais de 7 milhões dessas mortes resultam do uso direto desse produto, enquanto cerca de 1,2 milhão são de não-fumantes expostos ao fumo passivo.