À luz do Natal de Cristo, Dom Antônio Augusto fala dos “lugares da promessa”, destacando que Belém também está presente nos lugares frequentados no cotidiano
Dom Antonio Augusto Dias Duarte
Bispo Auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro
Desde Nazaré até Belém, lugar da promessa ou profecia de Miquéias (Capítulo 5, versículo 1: “E tu, Belém, Terra de Judá, não és, de modo nenhum a mais pequena entre as principais cidades de Judá, porque de ti sairá um chefe que há de governar o meu povo, Israel”), os viajantes percorriam quilômetros, subiam montanhas, desciam para vales, descansavam à sombra de figueiras e oliveiras, e entre os itinerantes desses caminhos há mais de 2.000 anos, estavam uma jovem grávida e seu esposo, carpinteiro e descendente do famoso rei Davi.
Maria e José obedeciam naquela ocasião ao imperador romano, César Augusto, autor do edito que ordenava o recenseamento de todo o mundo habitado (Lucas, 2, 1). Um motivo econômico estava presente nessa ordem imperial, que tinha como finalidade imediata conhecer o número exato de súditos, para depois cobrar deles os impostos para o sustento dos governantes, dos seus exércitos e servirem também para o bem da comunidade.
Maria e José, ambos habitantes de Nazaré, eram súditos do imperador e obedeceram com prontidão e com fé as suas ordens. Partiram da Galiléia e foram à Judéia e lá, em Belém, lugar da promessa de Deus, nasceu, numa gruta, o Filho eterno de Deus, o Salvador da humanidade. Colocado numa manjedoura, envolvido nuns paninhos, Jesus foi contemplado por pastores, foi visitado por Magos, homens da ciência, vindos do Oriente, guiados pelo brilho extraordinário de uma estrela, e desde Belém começou uma transformação profunda dos corações humanos.
Além de toda a teologia e espiritualidade cristã que se pode extrair do nascimento do Filho de Deus nesse lugar tão pequeno e tão significativo para o povo judeu, Belém continua sendo um ponto geográfico, de peregrinação e merece uma reflexão mais comprometedora e atualizada para todos nós católicos.
A presença dos católicos na sociedade
A celebração do nascimento de Jesus naquela gruta, naquele lugar da promessa, questiona-nos bastante sobre a nossa presença nos lugares mais vitais para o bem comum de toda a sociedade brasileira.
Onde estamos nós, católicos, no Congresso Nacional e nas Assembléias Estaduais? Onde estamos nós, católicos, ocupando postos decisórios dentro dos Poderes Executivo e Judiciário? E nos meios de comunicação e nos centros de pesquisa médica? E nos lugares onde se tomam decisões, que influenciam diretamente a cultura, a educação e a saúde do povo brasileiro?
Que presença ativa e transformadora temos nós, católicos, nas nossas paróquias e comunidades, contribuindo eficazmente para que esses lugares de evangelização sejam, de verdade, formadores de líderes para a família e a juventude do Brasil?
Sabe-se que há católicos, até mesmo bons e praticantes católicos, em todos esses locais de trabalho e de formação pessoal. O que talvez eles próprios não conheçam, é que esses ambientes também são lugares de promessas feitas por Deus.
Maria e José não encontraram lugar em hospedagens e casas de parentes, mas sabiam que o Salvador deveria nascer em Belém, tinham a certeza de fé, que lhes levaram a procurar o local do seu nascimento num lugar prometido por Deus.
Essa certeza de fé deveríamos ter cada um de nós, pois Jesus prometeu que estaria conosco todos os dias até o final dos tempos e, sobretudo, em todo mundo. “Ide, por todo mundo, ensinando e batizando em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mateus, 28, 18-20).
É essa fé nas promessas de Cristo, simplesmente essa fé católica e cristã que transformará mentes e corações de homens e mulheres, para que eles e elas não abandonem mais esses lugares de importância vital para o Brasil. E não só não deixem de estar nos escritórios de empresas estatais, públicas e privadas, nas salas de aulas dos colégios, universidades e centros culturais, nas enfermarias e gabinetes de gestão de hospitais, clínicas e UPAs, nos plenários das casas legislativas, nos tribunais de justiça, nas assembléias estudantis, nas mesas de redação dos grandes jornais, etc., mas que criem raízes profundas nos lugares fundamentais para o crescimento e desenvolvimento de um país tão gigantesco como o Brasil.
Os lugares das promessas
Que lugares são estes e que estão incluídos nas promessas divinas?
Considero dois lugares fundamentais para a salvação do povo brasileiro: primeiro, a família, célula vital da sociedade, escola de valores e de fé, Igreja doméstica, alicerce pétreo de toda pessoa humana. Depois, vem a rede social, mais um ambiente do que um instrumento, muito mais um lugar de comunicação humana, de debates e convocações da juventude, do que um meio de entretenimento.
A família e a rede social representam juntas um lugar de promessa e onde Jesus faz questão de estar.
No lar de Nazaré viveu em família e para a família e desse ambiente acolhedor e formador, partiu uma ‘rede social”, não informática, mas bastante comunicativa e convocatória, que foram as suas parábolas, autênticas imagens, que circulavam entre as pessoas, maravilhadas com suas palavras divinas, atraentes pelo seu conteúdo e pelo seu modo de visibilizar-se: lírios dos campos, aves do céu, grãos de mostarda, redes e peixes, pérolas, tesouros, sementes, campos dourados de espigas graúdas, etc…, muito acessível ao povo, que dessa forma abria-se às verdades e aos bens divinos.
Uma presença tímida, encolhida, medrosa, de viver a fé em família e a partir da família, e uma atitude frívola e cheia de curiosidade superficial na rede social, significará, para Deus, uma “fuga de Belém”, um desvio grave da viagem, que cada católico deve viver desde o seu Batismo até receber no deu “dies natalis”, no momento da sua morte, a unção dos enfermos.
Somos católicos que vivemos, na família e a partir da nossa família, uma fé que removerá montanhas, que transformará, com o amor e a esperança, o mundo. Mas essa nossa família tem que ser uma central energética de fé viva, de fé formada na doutrina, de fé vibrante nas suas manifestações e alegre na sua transmissão.
Como católicos precisamos viver no ambiente informático os valores que questionarão as consciências dos grupos de amigos interligados na rede social, pois nas nossas palavras, nos vídeos que postamos, no instagram que enviamos, utilizaremos “parábolas modernas”, tais como imagens que mostrem exemplos de vida que motivem a sermos melhores, ou mensagens atraentes pelo seu conteúdo e pelas suas formas de transmissão, ou sínteses dos ensinamentos do Papa, ou suas homilias e as do pároco da igreja que frequentamos,… enfim, a presença de um católico na rede social evangeliza e ilumina outras vidas.
Belém não está só na Terra Santa, mas está também nos lugares que frequentamos cada dia, seja um local físico, seja um espaço cibernético, e nesses ambientes Jesus quer nascer entre nós!