SAÚDE

2 de abril: data marca conscientização mundial sobre o autismo

Só no Brasil, segundo a OMS, há 2 milhões de crianças que são diagnosticadas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA)

Thiago Coutinho
Da redação

Dia 2 de abril é dedicado à Conscientização Mundial do Autismo / Foto: Freepik.com

Estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que 1 a cada 160 crianças no mundo todo é diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA) — 2 milhões delas estão no Brasil. Pessoas com autismo têm dificuldade para socializar, comunicar e utilizar a linguagem a contento. E, para reforçar o cuidado com elas, neste 2 de abril é celebrado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo.

“Trata-se de uma síndrome neuropsiquiátrica caracterizada por déficit ou ausência de contato social, dificuldade na comunicação, compreensão e uso da linguagem, comportamento repetitivo e estereotipado, repertório restrito de interesses e atividades e baixa tolerância à frustração”, explica o psicólogo Ricardo Milito.

“Nos primeiros anos de vida, os pais já conseguem observar algumas características, como contato visual pobre, ausência de balbucio, de gestos sociais ou não responder ao nome quando é chamado”, detalha a neuropsicóloga Bárbara Pereira Gandur.

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O TEA pode se apresentar nos níveis 1, 2 ou 3 — o terceiro é o mais severo. “Mesmo com prejuízos menores, pessoas com TEA frequentemente apresentam ansiedade e depressão, principalmente em situações que exigem habilidades sociais”, detalha Milito.

A psicoterapia, segundo Milito, pode ajudar a identificar os gatilhos e desenvolver estratégias para lidar com eles de forma eficaz. “O diagnóstico é feito por meio da observação e avaliação das características e comportamentos da pessoa, bem como de sua história de desenvolvimento”, diz. As ferramentas para esta avaliação incluem questionários e escalas padronizadas que ajudam a avaliar a presença e intensidade dos sintomas do TEA.

Por se tratar de um transtorno do neurodesenvolvimento, não há cura para o TEA. É necessário, assim, que os pais façam um acompanhamento para que a criança possa atingir um nível de autonomia e desenvolvimento. “Incluí-la em atividades diárias e sociais, criar uma rotina diária na qual auxilie na previsibilidade do dia a dia, desenvolver atividades em casa em que auxilie no desenvolvimento, por exemplo, de habilidades sociais, bem como participarem da discussão do plano de intervenção terapêutica com a equipe multiprofissional”, ensina Bárbara.

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Criar uma rotina

A ciência ainda não encontrou uma cura para o autismo. A vida dessas crianças, porém, pode ser mais reconfortante com a instrução de especialistas e a dedicação dos pais. “Crie uma rotina diária que inclua horários regulares para atividades como comer, dormir, brincar e estudar. As crianças autistas podem ser sensíveis a estímulos sensoriais, como luzes, sons e texturas. Tente criar um ambiente que minimize esses estímulos e ofereça um espaço calmo e tranquilo para a criança se sentir”, diz o psicólogo Ricardo Milito.

Para a criança autista, muitas vezes a comunicação verbal é mais difícil. Por isso também é interessante que os pais façam uso de recursos visuais, como imagens e cartões. “Isso as ajudará a entender e seguir instruções”, ressalta.

Esportes e música também podem ajudar a superar as limitações impostas pelo autismo. “A música pode ajudar a melhorar as habilidades de comunicação, a coordenação, o processamento sensorial e a interação social, além de oferecer uma forma criativa de expressão emocional”, afirma Milito.

“Com toda certeza, os esportes e a musicoterapia são atividades que auxiliam no desenvolvimento integral de todas as crianças, principalmente no caso de crianças com o diagnóstico TEA”, reitera Bárbara. “Essas atividades ajudam no desenvolvimento psicomotor, interação como crianças e adultos, atenção, desenvolvimento de lateralidade, realização de atividades em grupo, comunicação e aprendizado”.

A ciência contemporânea ainda procura uma resposta para um mistério acerca do autismo: a incidência deste transtorno é mais comum em homens do que mulheres. “Uma teoria é que os hormônios sexuais podem desempenhar um papel na diferença de gênero na prevalência do autismo. A testosterona é um hormônio masculino que pode afetar o desenvolvimento do cérebro, e acredita-se que a exposição pré-natal à testosterona pode aumentar o risco de desenvolvimento do autismo”, esclarece Milito.

“Forma mais simples e doce de enfrentar o mundo”

A musicista Raquel Novogino / Foto: Arquivo Pessoal

A musicista Raquel Novogino, de apenas 23 anos, já aos 15 , junto a seus pais, notou algumas pecularidades em seu comportamento e em sua saúde. “Havia comorbidades que eram transtornos causados pela ausência de um diagnóstico mais preciso”, lembra a musicista.

A mãe de Raquel, participando de um grupo com pais de crianças autistas, notou que o comportamento delas era semelhante ao de sua filha. Raquel fez diversos testes on-line e, junto ao psiquiatra, o diagnóstico para TEA foi positivo.

Após as consultas e o tratamento apropriado, a musicista se sentiu mais à vontade com sua condição. “Foi um processo longo, já que passei por mais de um médico. Mas foi um alívio, porque finalmente senti que pertencia a um grupo, comecei a ter contato com outros autistas e foi excelente”, conta.

Daiana Aparecida de Carvalho Sales é mãe de Miguel Lucas, de 13 anos. Com apenas 11 meses de vida, Daiana notou algo diferente no filho: ele sempre gritava perto de outras pessoas, não interagia com outras crianças e ficava sempre muito agitado. “Além disso, ele chegava a se agredir, gritava demais e dormia pouco. Não sabíamos o que fazer”, lembra Daiana.

Aos dois anos de idade, Miguel foi diagnosticado com TEA. Daiana não se assustou, estava mais preocupada em ajudar seu filho. Os primeiros remédios aplicados ao garoto, infelizmente, não surtiram os efeitos esperados. Pelo contrário, potencializavam o efeito contrário em seu organismo. Uma psicóloga conseguiu orientá-los corretamente.

“O autismo não é fácil, mas não podemos desistir”, ressalta Daiana. “Quanto mais cedo conseguir diagnosticar e procurar ajuda, melhor para criança, pois você tem que aprender a entender o que realmente se passa em seu mundo para ajudá-la a se desenvolver”.

Características

O TEA é composto por diversas variações. Mas existem características frequentes e comuns. Angústia com mudanças, como alteração de rotina, hipersensibilidade ao toque, dificultando a interação com outras pessoas, hipersensibilidade ao estimulo visual e auditivo, dificuldade em entender e demonstrar os sentimentos, seletividade alimentar.

“O autismo é uma forma mais simples e doce de enfrentar o mundo. Pais, nunca desistam de seus filhos, lutem com eles”, aconselha a mãe de Miguel.

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