Audiência

Papa a autistas: os mais frágeis são uma riqueza para a sociedade

Diante da proximidade do Dia Mundial de Conscientização do Autismo, Francisco recebeu, em audiência, no Vaticano, uma delegação da Federação Italiana de Autismo 

Da redação, com Vatican News

Papa Francisco /Foto: Daniel Ibanez – CNA

O Papa Francisco viaja a Malta neste sábado, 2, Dia Mundial de Conscientização do Autismo. Neste dia, famílias do mundo inteiro promovem iniciativas para sensibilizar a sociedade sobre a singularidade e o respeito aos autistas.

Na véspera da celebração desta data instituída pela ONU, em 2007, o Pontífice recebeu cerca de 200 membros da Federação Italiana de Autismo (FIA) na Sala Clementina no Vaticano.

A organização é formada por pesquisadores, médicos, entidades e associações. Ela se ocupa em promover e apoiar atividades de pesquisa, de cuidado e apoio nos centros dedicados ao autismo, e também em favor das famílias.

Todos trabalham diariamente pelo bem-estar de menores e adultos com transtornos do espectro do autismo (TEA). Eles também arrecadam recursos para financiar projetos e iniciativas que valorizem a singularidade e o respeito por eles.

Foi isso que Filippo, um jovem de 20 anos, testemunhou ao Santo Padre no início da audiência desta sexta-feira, 1. O Papa o agradeceu e também se congratulou pelo trabalho desenvolvido pela Federação desde 2015. Dão “uma valiosa contribuição para a luta contra a cultura do descarte (cf. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, 53), que é muito difundida na nossa sociedade”, frisou.

Cultura da inclusão e da pertença

Francisco, então, compartilhou alguns pontos de reflexão sobre a condição vivida pelos autistas e por todos que têm alguma deficiência. O Santo Padre começou destacando a importância de se “construir em conjunto uma sociedade mais inclusiva”. O objetivo é que familiares, professores e associações “não sejam deixados sozinhos, mas sejam apoiados”:

“É por isso que é necessário continuar a sensibilizar para os vários aspectos da deficiência, quebrando preconceitos e promovendo a cultura da inclusão e da pertença, baseada na dignidade da pessoa. É a dignidade de todos aqueles homens e mulheres mais frágeis e vulneráveis, que são muitas vezes marginalizados por serem rotulados como diferentes ou até inúteis, mas que, na realidade, são uma grande riqueza para a sociedade.”

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Em seu discurso, o Pontífice lembrou do testemunho de vida de Santa Margarida de Città di Castello (1287-1320), da Ordem Terceira de São Domingos. Italiana e cega desde o nascimento, a santa se tornou conhecida pela profunda fé e santidade.

Colocou “a sua vida nas mãos do Senhor para se dedicar completamente à oração e ao cuidado dos pobres”. São tantos os casos de pessoas com deficiência que oferecem testemunhos significativos, seja na vocação ou na própria experiência de trabalho, disse o Papa.

Participação ativa

Seguindo a linha de reflexão sobre a cultura da inclusão, Francisco aprofundou sobre a possibilidade dessas pessoas “participarem ativamente”, enfrentando barreiras físicas e não se fechando, mas “participando”. Para isso, porém, o Pontífice recordou a necessidade de apoiar esse contexto através do acesso à educação, ao emprego e áreas de lazer:

“Isso requer uma mudança de mentalidade. Foram dados grandes passos nessa direção, mas o preconceito, a desigualdade e também a discriminação continuam existindo. Espero que as próprias pessoas com deficiência se tornem cada vez mais protagonistas desta mudança, como vocês testemunharam hoje, colaborando em conjunto, instituições civis e eclesiásticas.”

Trabalho em conjunto

O Papa reforçou a importância de se trabalhar em conjunto, de “fazer rede”. Isso, sobretudo diante de tantos desafios impostos atualmente. O Santo Padre citou a pandemia e a guerra na Ucrânia, que acabam impactando gravemente os mais frágeis, como as pessoas com deficiência e familiares.

A resposta, que também deve vir das comunidades eclesiais e civis, é uma só, destacou Francisco: “Solidariedade na oração e solidariedade na caridade que se torna partilha concreta. Diante a tantas feridas, especialmente as dos mais vulneráveis, não desperdicemos a oportunidade de nos apoiarmos uns aos outros (cf. Evangelii gaudium). Assumamos a responsabilidade pelo sofrimento humano com projetos e propostas que coloquem os mais pequenos no centro (cf. Mt 25:40).”

Por uma economia de solidariedade

O Pontífice concluiu seu discurso recordando que, assim “como existe uma cultura do descarte e outra da inclusão, também existe uma economia que descarta e uma economia que inclui”. O Papa agradeceu aos benfeitores que destinam recursos em favor do próximo:

“São construtores de uma sociedade mais solidária, inclusiva e fraterna”.  O próprio texto bíblico inspira “a colocar a fraternidade no centro da economia para que os pobres, os marginalizados e as pessoas com deficiência não sejam excluídos”.

Francisco finalizou: “Encorajo vocês a continuarem o seu trabalho caminhando junto às pessoas com autismo: não só para elas, mas antes de mais nada com elas. Vocês sabem bem disso, e também hoje o quiseram dizer com um gesto: em breve, na Praça São Pedro, algumas pessoas com autismo vão cozinhar e oferecer o almoço aos irmãos pobres. Isso é lindo! Uma iniciativa que testemunha o estilo do Bom Samaritano, o estilo de Deus. Como é o estilo de Deus? Proximidade, compaixão, ternura. Com essas três características vemos o rosto de Deus, o coração de Deus, o estilo de Deus.”

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