61ª AG CNBB

Bispos lamentam polarização exagerada no Brasil

Durante a coletiva à imprensa, o presidente da Comissão do Tema Central da CNBB, Dom Leomar Antônio, disse que polarização causa dificuldade de diálogo

Dom Leomar Antônio Brustolin / Foto: Daniel Xavier (CN)

Thiago Coutinho
Enviado especial a Aparecida

A terceira coletiva de imprensa da 61ª Assembleia Geral da CNBB, foi realizada nesta sexta-feira, 12, Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida (SP). O Arcebispo de Santa Maria (RS) e presidente da Comissão do Tema Central da Assembleia, Dom Leomar Antônio Brustolin, e o bispo de Carolina (MA) e presidente da Comissão de Análise de Conjuntura da CNBB, Dom Francisco Lima, compuseram a mesa de debate.

O processo de construção das novas diretrizes foi prolongado até 2025, explicou Dom Leomar. O Jubileu 2025 e os impactos da Inteligência Artificial foram alguns dos responsáveis por este breve adiamento das vindouras diretrizes da Igreja. “O Instrumentum laboris aparece com três temas fundamentais: o lado propositivo, como analisar esta realidade? O segundo ponto é discernir, entender o que Espírito Santo está dizendo para fazermos. E, finalmente, propor caminhos à missão”, explicou o prelado.

Dom Leomar disse ainda que o novo texto será mais enxuto e sucinto, a fim de que as comunidades entendam melhor o que está sendo proposto.

Dom Francisco Lima / Foto: Daniel Xaier (CN)

“A CNBB espera que quando uma análise de conjuntura é feita, possa fazer uma radiografia melhor do que está sendo feito na assembleia”, emendou Dom Francisco. “O mundo está polarizado. Nunca, em outras gerações, da condição humana, houve tanta polarização. E de maneira multipolar. Tanto na leitura geopolítica, em torno dos Estados Unidos, China e Rússia, como os conflitos na América Latina”, observou.

Segundo o bispo, todo esse caráter multipolar de ideias da sociedade tem estado presente nas comunidades e precisam ser analisadas. 

Outro fenômeno que, de acordo com Dom Francisco, tem sido acompanhado pela Igreja: a aproximação entre o mundo eclesiástico e o político. “É uma preocupação para nossa Igreja: como viver nossa fé sem interferência política”.

O meio ambiente também preocupa os religiosos, especialmente em locais como a Amazônia e o cerrado.

Violência exagerada

Outro tema de destaque debatido pelos presbíteros foi a violência. O tema traz preocupação à Igreja, pois sua origem remete a outras carências que se abatem sobre a sociedade há muito tempo: pobreza e desigualdade social.

“A violência, nossa última análise, tanto no campo, quanto urbana, é um fator social que está exacerbado. Apresentamos dados [aos bispos da AG] não para fazer uma apologia ao caos, mas para que entendam nossa atual realidade”, observou o presidente da Comissão de Análise de Conjuntura da CNBB. “Temos projetos para isso, mas precisamos avançar na questão crônica da miséria e da pobreza. Não dá para continuar como está”. 

Prática

Questionado sobre como estas novas práticas sairão da teoria, Dom Leomar afirmou que é importante haver entendimento claro do que é proposto em teoria para que a prática seja realizada. “É uma variação dos processos. Precisamos de fato analisar estes textos e saber como serão colocados em prática. Vários bispos, por exemplo, estão preocupados com a violência. Temos planos para isso? Temos. Mas, precisamos avançar em outras questões, como a fome e a miséria do povo”, disse.

Simplificar

A respeito da simplificação da linguagem direcionada às comunidades, o bispo de Santa Maria detalhou que é preciso haver um aspecto comunitário dentro da Igreja. “Percursos individualistas, que levam as pessoas a ficarem mais narcisistas, precisam ser combatidos. Um dos maiores desafios é a educação. O processo EAD [educação à distância], por exemplo. É possível formar pessoas à distância? Precisamos abrir os olhos para esta questão”.

As vocações também foram lembradas pelos bispos nesta coletiva. “As novas diretrizes não se chamarão ‘comunidades isto ou aquilo’. Cada um usará seu próprio nome. Tudo tem que ser plural. Os desafios são muitos, como a catequese. Temos que rever as questões ligadas à espiritualidade litúrgica. A dimensão da caridade”, explanou. “Não dá para evangelizar apenas atrás do balcão”, finalizou.

A 61ª edição da AG abordará ainda diversos temas, como realidade da Igreja no País e a ação evangelizadora, bem como o Sínodo dos Bispos, Jubileu 2025, a Juventude, entre outros. A Assembleia prossegue até a próxima sexta-feira, 19 de abril.

Fotos da cobertura da Canção Nova na 61ª Assembleia Geral da CNBB

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