Na Missa deste segundo dia da assembleia dos bispos, Núncio Apostólico no Brasil afirma que cristãos atuais precisam nadar contra a corrente e testemunhar Cristo
Kelen Galvan
Da redação
A Missa que abre os trabalhos deste segundo dia da 57ª Assembleia Geral da CNBB, que reúne mais de 300 bispos em Aparecida (SP), foi presidida pelo Núncio Apostólico no Brasil, Dom Giovanni d’Aniello.
Na homilia, o núncio lembrou que a celebração acontece nas oitavas de Páscoa, e afirmou que celebrar a Páscoa de Cristo é celebrar a certeza de que Ele ressuscitou e está vivo. “Este é fundamento da nossa fé. Por isso, a fé na ressurreição de Jesus é a marca distintiva da fé cristã. Cristão não é aquele que acredita que Jesus é um personagem do passado, e sim que está vivo, hoje, nas nossas vidas e na Sua Igreja”.
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Diante disso, o cristão não está só, destacou Dom Giovanni. Pois, Jesus, vivo e ressuscitado está sempre com ele.
Testemunhas de Cristo
Segundo o núncio, a novidade introduzida pela ressurreição de Jesus renova a vida em todos os seus aspectos.
“Os contemporâneos dos apóstolos, assim como também nós hoje, tinham a necessidade de converter o seu olhar para poder acolher a presença do Cristo ressuscitado. No entanto, os olhos apenas captam o superficial, isto explica a fúria com a qual o sinédrio reage à clara tomada de posição dos apóstolos diante da notícia da ressurreição de Jesus. Sem os olhos da fé, não percebiam, nos acontecimentos da paixão, a novidade da ressurreição e a presença do Cristo no meio deles”, explicou, referindo-se à primeira leitura da liturgia de hoje (cf. At 5,27-33).
O bispo explicou que o chefe do povo, ao defender o mundo e o modo deles procuram em todo o caso evitar, ou pelo menos, travar a insurreição evangélica, impedindo que os apóstolos falassem de Jesus. Mas, o Espírito Santo, constituiu Pedro, autêntica e corajosa testemunha da ressurreição de Cristo e do Seu Evangelho.
Dom Giovanni destacou que, infelizmente, muitos cristãos, hoje, preferem adaptar-se à cultura circunstante, fazendo como os demais fazem, sem antes obedecer a Deus.
“O mundo presente, mais do que mestres, tem necessidade de verdadeiras testemunhas de Cristo e de sua ressurreição. Que saibam anunciar o Evangelho no testemunho coerente, e uma vida conforme o seu chamado ao seguimento de Cristo. Embora nadando contra a corrente, quando for necessário”, enfatizou.
Portanto, o cristão é aquele que se mostra e se comporta em sua vida do mesmo modo como se mostra e se comporta nas igrejas.
Incômoda e desconcertante voz de Cristo
O Núncio lembrou que, ao longo da história, outros tribunais foram levantados, para fazer calar a incômoda e desconcertante voz de Cristo, por meio de sua Igreja.
“Pedro, somos nós hoje. Humildes e desconhecidos discípulos do ressuscitado. Sustentados pela força do Espírito Santo, devemos, à semelhança do apóstolo Pedro, ter sempre a coragem de um testemunho incômodo, mas indispensável. A fim, de que o mundo possa acreditar Naquele que Deus exaltou, pelo seu poder, como chefe e salvador”.
Fazer da vida um dom
Dom Giovanni apontou que o Evangelho do dia (cf. Jo 3, 31-36) apresenta outro personagem importante para a vida e o testemunho do cristão: Nicodemos.
“Ele acreditou e estudou toda a vida, tornou-se um ponto de referência para os rabinos do seu tempo. E agora descobre que nada sabe a respeito de Deus, da fé, da vida e de si mesmo. E não desiste. Embora de noite, encontra coragem para confrontar-se com Jesus e dele recebe mil estímulos. A ele, Jesus revela o coração de sua mensagem: ‘Jesus veio para dar testemunho do Pai, porque o Pai e Ele são uma só coisa. Ele nos revela, finalmente, o verdadeiro rosto de Deus”, explicou.
O bispo destaca porém, que, para entrar no coração de tal mensagem, Nicodemos precisa renascer do Alto e entrar na lógica de Deus, fazendo de sua própria vida um dom, assim como Deus doou seu Filho para a salvação da humanidade.
“Nicodemos está confuso, percebe a verdade e a força das Palavras de Jesus. O que fazer? Jesus apresenta a solução: ‘acreditar Nele’. Acreditar que Jesus é o enviado de Deus, crer que Ele seja o Filho do Pai, de modo absolutamente único e extraordinário. E tal fé em Jesus conduz à Vida Eterna”, disse.
O Núncio concluiu afirmando que o Tempo Pascal ajuda a não desistir e não perder a coragem de ir ao encontro de Cristo. A lutar, como soube fazer aquele ancião curioso e inquieto que é Nicodemos.
“Toda nossa vida deve ser um contínuo renascimento, mediante a escuta da Palavra de Deus, que se torna um instrumento para aprendermos a escuta do Ressuscitado, que é verdadeiramente Deus. E, para escutar, temos que ir ao encontro de Deus. Sair de nossas seguridades, do nosso ego, para nos colocar diante Dele e escutá-Lo. Libertando a nossa alma e nossos ouvidos de tudo o que pode travar este encontro”.