Bispo coadjutor de Nova Iguaçu (RJ) foi um dos representantes do Brasil no Sínodo para a Juventude, e comentou sobre sua experiência sinodal e a exortação “Christus Vivit”
Julia Beck
Da redação
A Exortação Apostólica “Christus Vivit” foi tema do primeiro Meeting Point da 57ª Assembleia Geral (AG) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O bispo coadjutor de Nova Iguaçu (RJ), Dom Gilson Andrade, é um dos representantes do Brasil no Sínodo dos Bispos para a Juventude, que aconteceu em outubro passado em Roma, e foi comentou o novo texto do Papa Francisco: “É parte do processo sinodal”.
A escuta empática dos jovens a partir de outros jovens foi uma das iniciativas que mais chamou a atenção de Dom Gilson durante o Sínodo. Segundo o bispo, a ação foi um pedido do Papa, e é perceptível na leitura da exortação “Christus Vivit”. Dos muitos ensinamentos sínodos, Dom Gilson destaca um: “A Igreja precisa escutar os jovens sem preconceito, sem ideias preconcebidas e sem oferecer ideias prontas, mas estar ao lado deles”.
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O bispo comentou que um dos padres sinodais fez uma reflexão que têm sido um constante guia para a Igreja: “Ele [padre sinodal] disse que para a juventude nós precisamos investir tempo, energia e recursos. Nós temos investido? A juventude é para nós prioridade?”.
O bispo comentou também sobre um dos temas importantes dentro do Sínodo: o protagonismo da juventude. “Os jovens são convidados a assumir na Igreja o seu papel”, contou. Dom Gilson revelou que o Papa insistiu em uma proposta pastoral e na necessidade do clero criar espaços e oferecer ambientes para a juventude.
“O Papa dizia que todos os jovens, sem exclusão, estão no coração de Deus, portanto também no coração da Igreja”, sublinhou o bispo, que completou: “Por isso uma exortação dirigida a todos os jovens”. Dom Gilson frisou o método sinodal adotado, o do “ver, julgar e agir”, e revelou uma maior profundidade do método. “Precisamos de um ver que é também ouvir, um julgar que é discernir, é um agir de acordo com a realidade”, destacou.
Sobre os efeitos da exortação, Dom Gilson afirmou: “Não podemos esperar da exortação respostas prontas, mas ela dá grandes direcionamentos e perspectivas”. Uma das perspectivas expostas pelo bispo é a perspectiva bíblica apresentada nos três primeiros capítulos do texto do Pontífice.
A Pastoral Juvenil foi alvo de muitas reflexões e sugestões durante o Sínodo, revelou Dom Gilson. “Ela [Pastoral Juvenil] precisa pensar caminhos normais aos jovens, que os insiram na vida concreta do dia a dia. A experiência de fé não pode ser algo vivido apenas dentro da Igreja”, alertou. No que diz respeito a propostas concretas, o bispo conta que Papa coloca no centro o grande anúncio querigmático: “Cristo é amor, salva e vive”.
A maturação da juventude e a missão são também propostas concretas deixadas pelo Santo Padre, segundo Dom Gilson. O bispo falou da importância da Igreja buscar processos que favoreçam o amadurecimento integral dos jovens e da necessidade de se entender por missão, vocação. “É preciso uma revisão da teologia da vocação e o modo como se fala sobre isso. Vocação tem a ver com o sentido da vida”, complementou.
O Papa Francisco ofereceu durante o Sínodo propostas para a Pastoral Juvenil, de acordo com o bispo coadjutor. São elas: linhas de ação (convocação e atração do jovem por meio da arte, música, social e meio ambiente), o percurso de amadurecimento tendo como ponto de partida o anúncio querigmático (a vida cristã é viver um encontro com Cristo em lugares adequados aos jovens, na família, nas instituições escolares), a sensibilidade com o meio ambiente, o amor à Eucaristia, e a Pastoral Juvenil Popular (valorizando carismas que o Espírito Santo distribui).
Para o Papa, segundo Dom Gilson, é preciso avaliar na Igreja o que deu certo e o que não deu certo, e o discernimento local de como atrair e oferecer percursos de formação aos jovens. Os últimos capítulos da exortação, sobre vocação e discernimento, trazem as seguintes interpretações do bispo:
“Vocação é urgente, pois trata com a juventude o sentido da vida – a vida é para ser ofertada -. Sem a perspectiva de doação de vida o ser humano se frustra. Os jovens precisam de acompanhamento – talvez precisemos instituir ministérios de acompanhadores – e Cristo é uma realidade do presente”.
Sobre o aspecto Mariano da exortação, Dom Gilson recorda a vontade do Papa em assinar o texto em uma casa de Maria. “Com essa atitude ele ofereceu aos jovens que, em Maria, eles têm uma casa. Maria acolhe a todos e ao chamado de Deus”.
Desafios da Igreja no Brasil
O bispo coadjutor de Nova Iguaçu reforça que para o Brasil, é preciso acolher uma escuta “para valer” da juventude. “Fiquei feliz e impressionado de como o Papa estava atento às falas dos jovens, eles [jovens] mudavam muitas vezes o curso do Sínodo”, contou. Dom Gilson recordou que muitos bispos sugeriram a reprodução do sínodo nas dioceses.
Para as ações pastorais, o bispo reforça a necessidade da Igreja mostrar que os jovens são prioridade e falou em sinodalidade. “Precisamos unir as forças, sem perder a identidade para a missão. Há uma grande diversidade de juventudes na Igreja e no Brasil”.
“Nada para os jovens sem os jovens”, é outro pedido do Papa, de acordo com Dom Gilson. O bispo observa que os caminhos que serão seguidos pela Igreja no Brasil direcionados para a juventude precisam imprescindivelmente contar com os jovens.
“Durante a assembleia nós teremos uma sessão sobre o sínodo e a exortação. A Pastoral Juvenil em nível nacional tem uma proposta em andamento, inspirado no projeto ‘Ide’, e que continuará potencializada pela exortação apostólica”, comentou.
“A juventude é um lugar teológico, Deus está falando por meio da juventude”, refletiu Dom Gilson que falou em uma nova perspectiva da Pastoral Juvenil. “O rio da juventude muitas vezes não toca os rios de nossas paróquias. As vezes nas nossas paróquias nem sempre contamos com a nossa juventude. Precisamos mudar de mentalidade com relação à missão”, concluiu.