A menos de uma semana do Sínodo para a juventude, seminaristas falam sobre trabalho de animação vocacional desenvolvido na diocese de Lorena
Julia Beck
Da redação
O discernimento vocacional é, junto com a fé, tema do Sínodo dos bispos, direcionado para a juventude, que terá início na próxima quarta-feira, 3, no Vaticano. Com a missão de cuidar do nascimento, discernimento e acompanhamento das vocações, a Igreja no Brasil possui organismos dedicados ao seguimento vocacional, como a Pastoral Vocacional — nível nacional — e o SAV-PV (Serviço de Animação Vocacional-Pastoral Vocacional) – nível diocesano – que auxiliam os jovens nos caminhos a serem seguidos, tanto no meio civil quanto no religioso.
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O que fazer? Qual caminho buscar? São exemplos de questionamentos que surgem na cabeça dos jovens, de acordo com o seminarista e membro do SAV-PV da diocese de Lorena (SP), Everton Gonçalves Matias. Segundo o animador vocacional, mais que questionamentos, os jovens procuram na Igreja soluções e respostas. Para o seminarista, a busca por conclusões imediatas é hoje o maior desafio deste processo de discernimento.
“Hoje, os jovens querem uma resposta a curto prazo, esquecem da necessidade da reflexão sobre a importância dessa pergunta, algo que não acontece do dia para a noite. Existe, também, a falta de intimidade com Deus; para isso é necessário mostrar aos jovens que é o Espírito Santo quem nos dá a resposta, cabendo a nós estar sempre em oração, para que seu agir frutifique dentro de nós”, pontuou Everton.
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Eduardo Augusto Rosa, seminarista e também animador vocacional na diocese de Lorena, aponta o interesse tardio como também uma dificuldade contemporânea. “Há uma demora na resposta à vocação. Parece que o jovem vai deixando, e aí o mundo agitado, distrações como a internet, a música e as atividades cotidianas o impedem de uma real escuta”, comentou.
“Uma palavra que encaixa muito bem no termo vocação, é a escuta”, afirmou Eduardo. Considerado elemento fundamental, segundo o seminarista, a escuta, que auxilia no processo de autodescoberta da vocação, das qualidades e gostos dos jovens, esteve presente no processo de preparação do Sínodo dos bispos. Uma iniciativa do Papa Francisco, que procurou ouvir não só os jovens cristãos católicos, mas também os jovens do mundo inteiro. “Foi a grande novidade!”, recordou o seminarista.
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“Papa Francisco possui um grande carinho pela juventude do mundo; com isso podemos dizer que o Papa busca escutar os jovens, querendo agora dar uma resposta sobre a vivência em um mundo transitório. Quando a Igreja toca no tema da vocação, dizemos que ela está cumprindo com o que ela se propôs a fazer pelo magistério sua missão (…); congregando todos os batizados como membros de uma só ação eclesial: a construção do Reino de Deus”, comentou o seminarista Everton.
A vocação
“O descobrimento da vocação se dá no cotidiano de cada pessoa”, afirmou o seminarista Everton. Para o animador vocacional, ela, que é a resposta de inúmeros questionamentos da juventude, deve ser vista como algo simples, e possível de ser encontrada em profunda intimidade com Deus. “Desta experiência de intimidade que vou descobrindo a minha vocação; lembrando sempre que não é em um único dia que descobrirei, mas em um processo que se inicia com a oração. Quando isto é feito, vou trilhando caminhos em busca daquilo que me realiza”, suscitou.
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Segundo Eduardo, o primeiro passo para a descoberta da vocação individual, é a tomada de consciência dos três primeiros chamados que todo ser humano possui, sendo o primeiro, o chamado ao amor: “Todos somos chamados a amar”. Nesta vocação, o seminarista apontou questionamentos: “Temos encontrado alguns desafios de respostas acerca do amor: Aonde vou amar? Quem eu vou amar? Como eu vou amar?”, questionou. Estas perguntas acerca das circunstâncias e do modo de amar revelam, de acordo com o seminarista, caminhos para se chegar à vocação específica.
Além do amor, o animador vocacional apontou a santidade, tema da última exortação do Papa Francisco – Gaudete Et Exultate –, como fundamental, junto à felicidade, para a participação de homens e mulheres na família divina de Jesus. “Todos somos chamados à santidade e a participar da alegria de Deus. Santo Agostinho dizia que o que ele procurava fora, estava dentro dele, e a vocação toca nessas dimensões, da felicidade, da santidade e do amor”, comentou Eduardo.
A equipe e o trabalho vocacional
A equipe de animação vocacional da diocese de Lorena é composta por dois padres diocesanos (assessores), dois seminaristas diocesanos, um casal de membros consagrados da comunidade Canção Nova, um membro da comunidade Bethânia, irmãs da comunidade Divino Mestre, religiosos da Sociedade Joseleitos de Cristo, irmãs das Filhas da Pobreza do Santíssimo Sacramento (Toca de Assis), e por casais ativos das paróquias da diocese, além de representantes da pastoral vocacional das paróquias, da Irmandade de São José e membros da Comissão de acólitos e coroinhas.
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“Com a diversidade de vocações presentes no SAV-PV diocesano, os jovens têm a oportunidade de conhecer as diversas vocações, de modo que a Igreja cumpra a sua missão de cuidar, discernir e acompanhar”, comentou o seminarista Everton. A SAV-PV recebe documentos redigidos e organizados pela Pastoral Vocacional do Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Neste ano, a equipe usou como base para as atividades vocacionais os parágrafos 10, 11, 12 e 13 da exortação “Gaudete Et Exultate” do Papa Francisco.
Eduardo conta que as atividades da equipe são específicas e divididas semestralmente em um cronograma anual. “No primeiro semestre trabalhamos o despertar de vocações, de forma mais geral possível, despertamos nos jovens o desejo de responder à questão mais fundamental da vida deles. No segundo semestre, trabalhamos algo mais específico, vamos direcionando as pessoas de acordo com os seus desejos, com a sua busca, com o que se identificam”.
Na Diocese de Lorena, acontece no quarto domingo da Páscoa, domingo do Bom Pastor o “Encontrão Vocacional”. Além dos membros da equipe da SAV-PV, o seminarista afirma que as atividades contam com o acompanhamento de psicólogos.