Memória

25 de janeiro: luto e luta marcam um ano da tragédia em Brumadinho

25 de janeiro: luto e luta marcam um ano da tragédia em Brumadinho

Por Jéssica Marçal, Júlia Beck e Thiago Coutinho

Brumadinho. 25 de janeiro de 2019. 12h28. A lama de rejeitos que há um ano desceu abaixo pelo Rio Paraopeba e deixou submersa parte da cidade hoje encharca de saudade e sede de justiça a vida daqueles que ficaram. O rompimento da barragem da mineradora Vale na região do Córrego do Feijão levou pais, filhos, sobrinhos, amigos, animais, vegetação, propriedades. O tempo passa, mas a dor e a saudade insistem em ficar.

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A tragédia ceifou 272 vidas. Dessas, 261 foram localizadas e, se assim é possível dizer, seus familiares e amigos tiveram o alento da despedida. Mas ainda falta encontrar as 11 “joias”, como são chamadas as vítimas dessa tragédia.

“Seguimos as buscas por 11 vítimas, que carinhosamente chamamos de 11 joias, que os familiares assim chamam também. Continuamos os trabalhos sem data prevista para terminar”, afirma o tenente Douglas Constantino, do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Minas Gerais.

A área de varredura dos bombeiros é extensa. Do local onde aconteceu o rompimento até onde o ponto que chega ao Rio Paraopeba são 10 quilômetros em medida linear. “A região que o rejeito alcançou fez uma mancha que cobre um perímetro de 32 quilômetros. Em uma comparação aproximada, uma vez e meia o perímetro da lagoa da Pampulha em Belo Horizonte”, detalha o tenente.

Fotos: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais

 

A quantidade de rejeitos liberada com o rompimento da barragem é de aproximadamente 11 milhões de metros cúbicos, o que impressiona ao pensar que essa medida é o equivalente a 270 campos de futebol. Os trabalhos de buscas na região são realizados por uma equipe integrada. “São mais de 50 órgãos públicos na esfera municipal, estadual e federal, autarquias, entidades envolvidas, instituições militares. Temos um trabalho de integração muito intenso que ajuda nessa complexidade toda dos trabalhos”.

Trabalho complexo, mas também trabalho humano. Para além das ações de busca que já envolveram mais de 3 mil bombeiros, também há espaço para ações com as famílias das vítimas. Os bombeiros têm um encontro semanal com as famílias, às quartas-feiras pela manhã. Momento este para atualização de informações sobre os trabalhos, mas também de apoio e consolo.

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“A gente encontra para conversar com eles. É um momento em que eles tiram perguntas e extravasam também ali as lágrimas, a dor e o nosso bombeiro está ali pronto para dar um abraço também, para estar junto. Eles são sempre muito bem vindos”.

— Tenente Douglas Constantino

Ouça abaixo: Tenente Douglas Constantino fala dos trabalhos dos Bombeiros na Operação Brumadinho. Ele comenta o sistema de inteligência utilizado nas buscas, as dificuldades atuais, mas também fala do lado humano da tragédia: como os bombeiros lidam com as famílias das vítimas e os gestos que têm sido realizados em reconhecimento a esse trabalho.

Meio ambiente

Além do sofrimento humano, o rompimento da barragem causou danos ambientais. O Rio Paraopeba, então a principal fonte de captação de água de Brumadinho, foi diretamente afetado pelos rejeitos oriundos do rompimento da barragem. Para se ter uma ideia do estrago causado às águas do rio, o equivalente a 270 campos de futebol de dejetos estão instalados ali.

“Foram 11 milhões de metros cúbicos liberados pelo rompimento da barragem”, explica o perito Davi Pavanelli, um dos especialistas da Diretoria Técnico Científica de Minas Gerais que realizou o levantamento dos danos causados às águas do Rio Paraopeba. “Seria mais ou menos o volume daquelas antigas caixas d’água de amianto, de mil litros. Imagine o volume de 11 milhões de caixas d’água que foram liberadas sobre a bacia hidrográfica do córrego Ferro Carvão [afluente do Rio Paraopeba]”, detalha.

A vegetação local também foi aniquilada, sobretudo nos pontos em que os rejeitos atingiram com mais força. “Nos locais em que os rejeitos vieram com muita energia, simplesmente foram arrancadas as plantações que ali existiam, inclusive o solo que estava naquela área”, explica Pavanelli. Nos locais em que os rejeitos chegaram com menos intensidade, instalaram-se e ficaram depositados em diferentes espessuras. “Eventualmente até recobrindo totalmente a vegetação”.

Como o solo foi recoberto, quaisquer vegetações que ali surgirem, se conseguirem vingar, isto se dará em cima do rejeito, que possui metais nocivos à saúde humana e animal. “Do solo mesmo que foi recoberto, é difícil falar de fertilidade. Teríamos que tirar o que foi coberto para chegar até o solo e fazer esta análise”, diz Pavanelli.

Um relatório da ONG SOS Mata Atlântica, publicado em fevereiro de 2019, apontou que as águas do rio Paraopeba continham, à época do estudo, nível de cobre até 600 vezes acima do que é permitido a rios que são destinados ao abastecimento humano. O relatório afirmou ainda que havia 55 hectares de áreas bem preservadas que foram destruídas pelos rejeitos.

Uma estação de tratamento foi instalada na confluência com o córrego Ferro Carvão com o Rio Paraopeba. “Esta instalação fez com que todo o rejeito que vinha sendo carregado pelas águas e depositado na bacia do Ferro Carvão fosse retirado e não entre mais no Rio Paraopeba”, detalha.

Uma cura é possível?

Diante dos impactos ambientais com o rompimento da barragem, qual a perspectiva de recuperação? Segundo Pavanelli, é preciso monitoramento para avaliar essa questão. “O monitoramento que vem sendo feito na área dará esta resposta. Que houve enormes impactos não há dúvidas, agora o tempo que estes impactos vão durar e quais as consequências na cadeia trófica, quem dirá é o monitoramento”

Para Malu Ribeiro, especialista em Recursos Hídricos da Fundação SOS Mata Atlântica, o monitoramento é mesmo essencial para avaliar as condições da água do rio e identificar quando ele poderá ser repovoado com peixes e sua água poderá ser consumida novamente.

A bióloga explicou ainda que será necessário retirar o máximo de rejeitos do rio e recolocá-lo em um aterro. “O rejeito não some, ele precisaria ser tirado do rio e ser dado um fim mais inteligente [a ele]. O que está sedimentado no fundo [do rio] é preciso ser retirado, porque está em cima de toda a vida que tinha no fundo desse rio, que eram os decompositores, aqueles que contribuíam para que outros animais pudessem sobreviver”, detalha.

A Vale, empresa responsável pelo rompimento da barragem, informa que há um plano de monitoramento da qualidade da água, dos sedimentos e demais organismos que é feito em caráter diário em 48 pontos da bacia dos rios Paraopeba e São Francisco. Além disto, afirma que cinco barreiras hidráulicas foram instaladas ao longo do rio Paraopeba a fim de conter os rejeitos na região que fica próxima ao rompimento da barragem.

A dor da perda

Foto: Reuters - Adriano Machado

Conversar. Uma prática tão antiga e corriqueira na humanidade parece ser um grande remédio para muitos dos moradores de Brumadinho hoje. Nascida e criada no pequeno município mineiro, Edna Rosário, 55 anos, diz que a vida já não é mais a mesma por lá. “Aqui em Brumadinho hoje tem engarrafamento, coisa que não tinha. Apareceu tanta gente. Você não tem mais aquela liberdade, não tem sossego, você sai na rua de carro não tem mais onde parar, está uma agitação”.

“No começo foi tudo tão rápido que não deu nem tempo de parar e pensar. Agora está pesando mais. A gente já não dorme direito, não come direito, não tem muito motivo pra muita coisa mais”.

— Edna Rosário

Ela perdeu o sobrinho, encontrado três dias após a tragédia, e a irmã, que só foi encontrada 11 dias depois, e diz que conversar com as pessoas ajuda a distrair depois de tudo o que aconteceu. “Pra falar a verdade, tem horas que eu nem sei como que eu estou. Tem dias que eu prefiro ficar no meu canto sozinha. A gente se ajuda um ao outro conversando, um vai distraindo o outro”, relata. Veja abaixo o testemunho dela:

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Edna conta que, no começo, ela lidou com a situação de forma mais “tranquila”, diante do susto que paralisa as pessoas e as deixa desnorteadas. Mas agora, um ano depois, a situação está complicando.

Para enfrentar a situação e seguir adiante, Edna destaca o papel que teve a Igreja em Brumadinho. “Se não fosse a Igreja, o povo não tinha dado conta”, afirma, recordando que, no dia em que tudo aconteceu, a igreja ficou aberta desde o primeiro dia, não fechou mais as portas a ninguém. “Eu tive muito apoio, me ajudou muito, a Igreja foi muito importante para nós aqui nesse momento”.

Apoio, consolo e oração da Igreja

Enquanto ouvia as badaladas do relógio e aguardava em silêncio o início da missa de sétimo dia das vítimas da tragédia em Brumadinho (MG), Dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, não conteve as lágrimas. Passados 365 dias, os olhos e a fala de Dom Vicente permanecem carregados de dor e sofrimento, mas também de fé e esperança.

Tudo mudou desde o dia 25 de janeiro de 2019. As famílias de Brumadinho não são mais as mesmas, a Igreja em Minas Gerais não é mais a mesma e Dom Vicente reconhece que sua vida também mudou: o dia da tragédia é considerado um marco de conversão pessoal.

Mesmo tendo um histórico de trabalhos prestados aos pobres e às periferias, enquanto missionário redentorista, o bispo afirma que as ações que desenvolveu e continua a desenvolver no município fogem de tudo que já fez ou viveu.

“Eu sou hoje encharcado por Brumadinho e toda a realidade vivida por essas pessoas. A rotina mudou. As demandas são muitas. A minha agenda de pastor, missionário e bispo dessa região mudou completamente”.

— Dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar da arquidiocese de Belo Horizonte

Dom Vicente reconhece que também a sua vida mudou após tragédia em Brumadinho / Foto: Reprodução TV Canção Nova

“Passamos este um ano rezando e encorajando nosso povo a acreditar no que está na Carta de São Paulo aos Coríntios: fé, esperança e amor”. É o que conta padre Renê Lopes, pároco da Igreja Matriz de São Sebastião, localizada em Brumadinho.

Envolvido diretamente com as famílias das vítimas da tragédia (muitos paroquianos de Brumadinho estão entre os 272 mortos na tragédia), o sacerdote revela que, após um ano, muitas situações ainda precisam ser superadas. Os compromissos foram intensificados e a relação com o povo tornou-se ainda mais próxima. Como pároco, ele afirma buscar seguir o exemplo de Cristo Bom Pastor: “Busco colocar sobre os meus ombros, na medida em que posso, todas as famílias e pessoas feridas”.

Brumadinho: a cidade cujo luto não termina

Brumadinho ainda vive as consequências do rompimento da barragem, aponta o arcebispo de Belo Horizonte e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Walmor Oliveira de Azevedo. Ele classifica como desoladores a contaminação do Rio Paraopeba, referência no abastecimento de água na Região Metropolitana, e a falta de perspectiva das famílias para o futuro.

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“Muitas pessoas já foram indenizadas, já tiveram reparações materiais, sociais, mas precisam de amparo existencial e esse é o nosso maior desafio”.

— Dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo de Belo Horizonte e presidente da CNBB

O trabalho da Igreja Católica em Brumadinho não tem um tempo para ser concluído, explica padre Renê. É um tempo que não se pode estimar porque a tragédia envolve danos espirituais, morais sociais e, o maior deles, segundo padre Renê, é o dano existencial.

Um dos pontos mais angustiantes ainda vividos por muitos é, segundo Dom Vicente, a possibilidade de muitas famílias não obterem nem ao menos os vestígios do corpo de seus falecidos. “Isso é um mistério e na nossa espiritualidade cristã nós sabemos que o corpo é o templo do Espírito Santo, então ver famílias tendo que lidar com essa angústia de buscar o corpo do seu parente é algo muito forte e muito difícil, esse é um luto complicado”.

O bispo lembra que a dor faz parte da dinâmica da existência humana, mas é preciso distinguir a dor necessária da dor desnecessária, aquela que poderia ser evitada. “É muito difícil lidar com uma dor que foi imposta, que poderia ter sido evitada, então a dor quase que duplica, triplica. Não podemos olhar para essa tragédia e falar simplesmente de um luto, é um luto diante de uma tragédia (…), é um processo e uma vivência originada de um trauma de algo que surge do inesperado; é uma dor muito particular”.

Foi difícil retomar o caminho, as atividades, relata padre Renê. “Nossa primeira atitude foi investir na espiritualidade, investir na oração e fazer as pessoas acreditarem na fé, na esperança e no amor”. Ao longo de todo o ano, a Paróquia de São Sebastião e toda a região episcopal de Nossa Senhora do Rosário – que tem sede em Brumadinho – assumiu os trabalhos pastorais e têm trabalhado para ajudar as famílias na superação do dano existencial.

Segundo o sacerdote, ações no aspecto cultural, pastoral e social, e acompanhamento às vítimas em audiências, manifestações e reivindicações são algumas das atividades que têm sido desenvolvidas. “A Igreja tem sido presença contínua”, sublinhou.

“Queremos criar uma rede de lideranças para que o luto se transforme em luta. Não queremos que Brumadinho seja uma lembrança ou um esquecimento”.

— Dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar da arquidiocese de Belo Horizonte

Igreja em saída

Após a tragédia, Dom Walmor conta que a Igreja dedicou atendimento emergencial às famílias atingidas, prestando auxílio tanto espiritual quanto material. Para o arcebispo, a ação evangelizadora gerou força aos brumadinhenses a partir do bem e do amor. “A fé alimenta o compromisso com a justiça”.

 

O arcebispo de Belo Horizonte destaca que o amparo existencial ainda é um desafio para a população em Brumadinho / Foto: Paula Dizaró - Canção Nova

A arquidiocese de Belo Horizonte também mobilizou membros do clero e leigos dos 28 municípios da Região Metropolitana da Capital para o atendimento emergencial a Brumadinho. “Os nossos seminaristas, junto com os padres, por inspiração do Espírito Santo, foram em solidariedade para a cidade de Brumadinho ser presença de Jesus junto a cada família das vítimas da tragédia. Nosso seminário foi um consolo neste momento de sofrimento”, conta o reitor do Seminário Arquidiocesano Coração Eucarístico de Jesus (SACEJ), padre Evandro Campos Maria.

O sacerdote relata que os seminaristas viveram muitas experiências em Brumadinho: ouviram as famílias enlutadas, rezaram com elas, auxiliaram nas celebrações e participaram também de alguns serviços, como descarregar caminhões e carros que levavam doações.

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José Cícero Santos, de 29 anos, foi um dos que participaram desta missão em Brumadinho. No seminário há 10 anos, o jovem conta que a experiência vivida ao lado de padre Renê e de padre Evandro serviu para confirmar sua vocação sacerdotal. “Enquanto seminaristas, pudemos sentir também essa dor muito de perto quando convivemos com muitas famílias que mesmo diante do sofrimento e da dificuldade nos acolheram. O que me marcou profundamente foi a fé do Povo de Deus que entre lágrimas e sorrisos glorificaram a Deus com suas vidas”.

“Mesmo na dor e no sofrimento, o nosso povo não perde a esperança porque tem fé e confiança em Deus”.

— Padre Evandro Campos Maria, reitor do Seminário Arquidiocesano Coração Eucarístico de Jesus (SACEJ)

Padre René, pároco em Brumadinho, também viveu fortes experiências nessa missão de amparo e acolhimento. O sacerdote frisa que uma história em especial o marcou, a de Dona Ambrosinha:

“Dona Ambrosinha perdeu sua filha e seu genro. Hoje cuida dos netos gêmeos, filhos do casal, que não tinham nem um ano quando perderam os pais. Ela se esforça para poder cuidar dessas duas crianças. Passado praticamente um ano da tragédia, sua filha ainda não foi encontrada. Olho para dona Ambrosinha e ela fala: se não fosse o senhor, a presença da Igreja, eu não sei se daria conta de olhar para essas duas crianças, hoje com mais de um ano, e cuidar, educar e criar”, relembra padre Renê emocionado. O sacerdote complementa: “São fatos assim que marcam minha vida e meu ministério”.

Padre Evandro e o seminarista José destacam que o trabalho de acompanhamento às famílias das vítimas da tragédia permanecem. “É impossível esquecer a experiência missionária que fizemos em Brumadinho. Rezo a Deus que conceda a todos o consolo e a força necessária para seguirem em frente”, diz José Cícero.

O Brasil e o mundo em ações solidárias

Sinônimo de caridade, a Cáritas Regional Minas Gerais, organismo da CNBB que atua na defesa dos direitos humanos e do desenvolvimento sustentável solidário, também esteve junto aos brumadinhenses.

 

Voluntários descarregando doações / Foto: Reuters-Washington Alves

A assessora do organismo, Anna Crystina Alvarenga, relata que, assim que houve o rompimento, os agentes Cáritas, junto à Igreja local, prestaram apoio emergencial na distribuição de doações, apoio espiritual, orientação sobre os direitos, busca de informações junto a órgãos de justiça, além de reforçar a campanha de pedido de doações da Arquidiocese de Belo Horizonte.

Atualmente, a Cáritas continua sua contribuição, a partir da atuação da Arquidiocese de Belo Horizonte e da Região Episcopal Nossa Senhora do Rosário. Entre as ações, a assessora conta que estão a articulação política e social dos atingidos e atingidas para a garantia dos seus direitos, a mobilização e organização comunitária e de coletivos, além da busca por projetos, na tentativa de minimizar os danos na vida das pessoas.

Para o povo ferido, cuidados que permanecem

A partir da caminhada pastoral das comunidades no Vale do Paraopeba, Dom Walmor explica que foi instituída a Região Episcopal Nossa Senhora do Rosário, com a sua Cúria Regional, e criado o Santuário Arquidiocesano Nossa Senhora do Rosário, para dinamizar ainda mais a ação evangelizadora em Brumadinho e cidades próximas.

No dia 25 de cada mês, uma missa é celebrada em memória das vítimas do rompimento da barragem. “Nestas oportunidades, pedimos para que todos não se esqueçam de Brumadinho, exercitem a solidariedade e assumam o compromisso de mudar o mundo, a partir da revisão dos próprios hábitos”, afirmou o arcebispo.

A arquidiocese de Belo Horizonte, em parceria com a PUC Minas, desenvolve ações de extensão universitária, nos campos da educação, gestão, assessoria jurídico-contábil, amparo psicossocial e sócio comunitário, saúde humana, saúde animal e socioambiental. Dom Walmor explica que neste um ano, a parceria resultou em três mil atendimentos.

“A Igreja permanece unida a Brumadinho, especialmente aos que necessitam de ajuda. Compartilha com cada pessoa o seu sofrimento e não vai descansar até que as famílias encontrem o devido amparo e a justiça prevaleça”

— Dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo de Belo Horizonte e presidente da CNBB

Ecologia integral

Padre Dario Bossi é assessor da Comissão para a Ecologia Integral e Mineração da CNBB, presidida por Dom Sebastião Lima Duarte. O sacerdote conta que a preocupação da Igreja com a mineração e, de forma mais ampla, com o modelo econômico de extrativismo predatório surgiu antes mesmo da tragédia em Brumadinho.

De modo documentado, a questão é tratada na encíclica Laudato Si’ (2015), do Papa Francisco. Antes, em 2013, o assessor da comissão conta que foi implementada a rede ecumênica latino-americana “Igrejas e Mineração”, que ao longo dos últimos anos tem assessorado e apoiado muitas comunidades de base afetadas pela extração minerária.

Desde que foi criada em 2017, a Comissão para a Ecologia Integral e Mineração da CNBB tem realizado muitas atividades, entre elas o acompanhamento de todas as comunidades que sofrem pelas violações socioambientais provocadas pelos projetos de mineração e sua infraestrutura de escoamento.

Em prática, a comissão assessora as dioceses e comunidades onde existem conflitos por mineração, contribuindo para visibilizar, fortalecer e criar alternativas para problemas, oferecendo uma visão sistêmica da mineração. “É preciso construir um novo sistema, capaz de integrar a perspectiva econômica, política, cultural, ambiental e os estilos de vida cotidianos de cada pessoa e comunidade, em vista do bem comum das futuras gerações”.

Dom Walmor afirma que viver uma economia voltada para a ecologia integral é optar por uma maior valorização da integração e da harmonia entre o ser humano e natureza, reconhecendo que há uma interdependência entre a humanidade e a Casa Comum. “A tragédia em Brumadinho é uma ferida que nasce a partir da ambição desmedida, da ganância sem limites. Essas situações e cenários desoladores exigem novas posturas das autoridades que têm o dever de representar o povo”.

Portas abertas, adoração e romaria

Os brumadinhenses vivem um momento de oração pelas vítimas da tragédia. Desde sexta-feira, 24, a Igreja de São Sebastião, em Brumadinho, permanece com o Santíssimo exposto para uma Adoração que durará 24 horas. O momento será encerrado neste sábado, 25, dia em que a tragédia completa um ano.

“Foi o Santíssimo que acolheu a tantas pessoas e é Ele que tem nos dado força. Como cristãos batizados, queremos viver esta data, que é trágica e dolorida, na presença de Jesus Eucarístico que é onde está a nossa força”.

— Padre Renê Lopes, pároco da Igreja Matriz de São Sebastião, em Brumadinho

Também hoje, a arquidiocese de Belo Horizonte realiza a 1ª Romaria Arquidiocesana pela Ecologia Integral, uma oportunidade, segundo padre Renê, da Igreja Profética ser vista.

“É para chamar a atenção de quem tem autoridade política para um diálogo, uma conversa. É um momento de dizer para as lideranças do nosso país que nós não estamos dormindo, que nós estamos atentos e acompanhando esta fase que enfrenta Brumadinho. Nosso povo clama por uma qualidade de vida, é só isso que precisamos”.

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Produção: Denise Claro, Júlia Beck, Thiago Coutinho
Redação: Jéssica Marçal, Júlia Beck, Thiago Coutinho
Edição: Jéssica Marçal
Revisão: Jéssica Marçal
Arte: Thiago Coutinho
Colaboração: Pedro Teixeira
Lay out: Departamento de Tecnologia de Informação - Canção Nova

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