As medidas anunciadas pelo Banco Central para diminuir o crédito, por meio da redução da liquidez do mercado, foram oportunas e provavelmente vão evitar a necessidade de elevar a taxa básica de juros (Selic) na próxima reunião do Comitê de Política Econômica (Copom).
A opinião é do coordenador de Análise de Índices da Fundação Getulio Vargas (FGV) e chefe do Centro de Estudos Estatísticos, Salomão Quadros. Ele disse, em entrevista à Agência Brasil, que as medidas anunciadas hoje fazem parte de uma primeira tentativa de frear a preocupação quanto ao futuro da inflação e, ao mesmo tempo, funcionam como ações que são chamadas tecnicamente de “macroprudenciais” – ou seja, vão favorecer o bom funcionamento do sistema bancário. “Elas [as medidas] têm essa dupla finalidade: a de conseguir ser ao mesmo tempo prudenciais e a de frear a expansão global do crédito com reflexos favoráveis em relação à inflação em alta”.
Salomão Quadros admite que há alguns indicadores de que a inflação está crescendo “e a prova disso é que os índices mais recentes da FGV ficaram acima do que se imaginava. “Produtos agrícolas, como a soja; o preço do boi gordo e dos seus derivados como a carne – são preços que subiram muito forte agora, em novembro, e não era muito esperado. Com isto, as incertezas aumentaram. Nada que indique que a inflação esteja fora de controle e que não possa ser revertida, mas numa hora como esta, tomar algumas medidas preventivas é o mais aconselhável”, afirmou.
Para o economista da FGV, as medidas do BC foram adotadas na hora certa. “Foram medida que foram tomadas no momento apropriado, fazem sentido e podem contribuir para arrefecer um pouco as expectativas de alta da taxa de inflação”. No entendimento de Quadros, elas vão produzir efeitos parecidos em alguns aspectos com a elevação das taxas de juros, mas com a vantagem de não elevar a dívida pública – que é sujeita a variações de acordo com a elevação da Selic.
“Eles não propriamente elevaram as taxas de juros, mas por meio dessas medidas – que deverão tornar o crédito mais caro na proporção em que aumentarão o volume de depósito compulsório recolhido pelos bancos ao Banco Central – vão limitar ou encarecer as operações de crédito”.
O economista lembrou, ainda, que existe uma preocupação no âmbito do governo de combater o aumento dos gastos públicos. “Hoje se sabe que está se procurando exatamente o contrário: fazer ajuste fiscal, evitar aumento de gastos público e endividamento. Há ainda a questão do efeito câmbio, muito valorizado e prejudicando as exportações. E uma subida na taxa de juros tenderia a atrair mais capital para o país e mais valorização para o câmbio”.
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