Para conter inflação

Governo enxuga a liquidez e encarece o crédito longo

O Banco Central anunciou nesta sexta-feira, 2, uma série de medidas para enxugar a liquidez da economia e evitar o surgimento de "bolhas", em um momento de inflação em alta e a menos de uma semana da próxima reunião o Copom.

O governo elevou o compulsório sobre depósitos à vista e a prazo, reduzindo os recursos que os bancos têm disponíveis para emprestar, e tornou mais caro para as instituições oferecer crédito de longo prazo às pessoas físicas .

"Essa medida, que tem um caráter macroprudencial, reduz a liquidez no mercado financeiro e inibe o surgimento de trajetórias não sustentáveis, as bolhas no crescimento do volume de crédito e a assunção de riscos que podem ser negativos para a economia", disse a jornalistas o presidente do BC, Henrique Meirelles.

Ele frisou que, apesar de serem medidas prudenciais, elas terão impactos macroeconômicos, com efeitos sobre a oferta de crédito, a atividade econômica e a inflação.

Segundo Meirelles, há uma equivalência entre medidas macroprudenciais e as ações convencionais de política monetária. Ele ressaltou que as medidas "não são substitutas perfeitas, mas devem ser aplicadas com finalidades específicas".

Nos mercados, a interpretação inicial foi que um aumento dos juros pode ter ficado um pouco mais distante após o aperto de liquidez .

Na véspera, a curva de juros precificava um aumento de 0,25 pontos-básicos da Selic já na semana que vem, para 11%. Agora, as projeções apontam que a alta dos juros começa só no ano que vem, com início em janeiro.

"Estas medidas deverão ter impacto sobre o ritmo de crescimento da demanda recente, adiando, por algum tempo, a necessidade de elevação de juros", afirmou a consultoria Rosenberg & Associados em relatório.  

Na mesma linha, o economista-chefe do Espírito Santo Investment Bank, Jankiel Santos, afirmou que as medidas "compram algum tempo para o BC antes de começar a elevar o juro".

Vantagem

Um dos objetivos do governo Dilma Rousseff é reduzir a taxa de juro real da economia para 2% até 2014. Isso havia alimentado expectativas de que o Banco Central poderia recorrer mais a apertos monetários que não envolvessem alta da Selic ao longo do tempo.

As medidas adotada nesse sexta-feira também têm a vantagem de esfriar a economia sem aumentar a atratividade das aplicações estrangeiras no país e estimular a entrada de mais dólares no país, o que contribuiria para a valorização do real, na contramão do que deseja o governo.

A parcela dos depósitos a prazo que deve ser recolhida pelos bancos ao BC aumentará de 15% para 20%. O governo também aumentou o adicional de compulsório para depósitos à vista e a prazo, 8% para 12% e reduziu os limites de dedução desse recolhimento para bancos menores.

As medidas, que valerão para os depósitos feitos a partir da próxima segunda-feira, enxugarão R$61 bilhões da economia, reduzindo a disponibilidade de crédito.

O recolhimento total ficará R$10 bilhões acima do que prevalecia antes da crise e representa um ajuste devido à inflação e à expansão do crédito no período, afirmou Meirelles.

Durante a crise, o governo havia reduzido os compulsórios em um esforço para estimular a economia. Em março deste ano, parte dessa diminuição já havia sido revertida.

O governo também elevou de 11% para 16,5% a parcela de capital que os bancos devem reservar para fazer frente à maioria dos financiamentos concedidos às pessoas físicas com prazos mais longos. O novo limite vale para financiamentos acima de 24 meses, ou acima de 36 meses no caso do consignado, e não afeta os empréstimos habitacionais.

Para o financiamento de veículos, o limite mais elevado dependerá do tamanho da parcela paga de entrada pelo consumidor para financiamentos até 60 meses. Acima desse prazo, o capital requerido fica mais elevado independentemente da entrada.

Os prazos dos financiamentos para veículos se alongaram nos últimos anos e estão atualmente em 42 meses em média, segundo dados de setembro da associação de montadoras Anfavea. O volume de crédito para veículos cresceu 15,5% em setembro em relação ao mesmo período do ano passado, para R$176 bilhões.

Meirelles citou dados mostrando que a inadimplência no setor aumenta nos créditos mais longos, quando os veículos já depreciados oferecem pouca garantia aos bancos.

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