Hoje, desejo deter-me a falar sobre a viagem apostólica ao Reino Unido, que Deus me permitiu realizar nos dias passados. Foi uma visita oficial e, ao mesmo tempo, uma peregrinação no coração da história e do hoje de um povo rico de cultura e de fé, que é aquele britânico. Foi um evento histórico, que assinalou uma importante nova fase na longa e complexa história das relações entre aquelas populações e a Santa Sé. O objetivo principal foi o de proclamar beato o Cardeal John Henry Newman, um dos maiores ingleses dos tempos recentes, insigne teólogo e homem da Igreja. Com efeito, a cerimônia de beatificação representou o momento proeminente da viagem apostólica, cujo tema foi inspirado pelo lema cardinalício do beato Newman: "O coração fala ao coração". Nos quatro intensos e belíssimos dias transcorridos naquela nobre terra, tive a grande alegria de falar ao coração dos habitantes do Reino Unido, que também falaram ao meu, especialmente com a sua presença e com o testemunho da sua fé. Pude, de fato, constatar o quanto a herança cristã é ainda forte e ativa em todos os âmbitos da vida social. O coração dos britânicos e a sua existência estão abertos à realidade de Deus e há numerosas expressões de religiosidade que essa minha visita colocou ainda mais em evidência.
Desde o primeiro dia da minha permanência no Reino Unido, e durante todo o período da minha estadia, recebi em todos os lugares uma calorosa acolhida por parte das Autoridades, dos expoentes das várias realidades sociais, dos representantes das diversas Confissões religiosas e especialmente do povo em geral. Penso, de modo particular, nos fiéis da Comunidade católica e em seus Pastores, que, embora sendo minoria no país, são amplamente apreciados e considerados, compromissados no anúncio gozoso de Jesus Cristo, fazendo resplandecer o Senhor e sua voz especialmente entre os últimos. A todos, renovo a expressão da minha profunda gratidão, pelo entusiasmo demonstrado e pela elogiável diligência com que trabalharam para os sucessos desta minha visita, cuja recordação conservarei para sempre no meu coração.
O primeiro compromisso foi em Edimburgo, com Sua Majestade a Rainha Elizabeth II, que, juntamente com seu esposo, o Duque de Edimburgo, acolheram-me com grande cortesia em nome de todo o povo britânico. Tratou-se de um encontro muito cordial, caracterizado pela partilha de algumas profundas preocupações pelo bem-estar dos povos do mundo e pelo papel dos valores cristãos na sociedade. Na histórica capital da Escócia, pude admirar as belezas artísticas, testemunho de uma rica tradição e profundas raízes cristãs. A isso, fiz referência no discurso a Sua Majestade e às autoridades presentes, recordando que a mensagem cristã tornou-se parte integrante da língua, do pensamento e da cultura dos povos daquelas Ilhas. Falei também do papel que a Grã-Bretanha desenvolveu e desenvolve no panorama internacional, mencionando a importância dos passos dados para uma pacificação justa e duradoura na Irlanda do Norte.
A atmosfera de festa e alegria criada pelos jovens e crianças agraciou a fase de Edimburgo. Transferi-me depois para Glasgow, cidade enfeitada por encantáveis parques, presidi a primeira Santa Missa da viagem justamente no Bellahouston Park. Foi um momento de intensa espiritualidade, muito importantes para os católicos do País, também em consideração do fato de que naquele dia transcorria a festa litúrgica de São Ninian, primeiro evangelizador da Escócia. Àquela assembleia litúrgica reunida, em atenta e participante oração, tornada ainda mais solene pelas melodias tradicionais e cantos envolventes, recordou a importância da evangelização da cultura, especialmente na nossa época em que um penetrante relativismo ameaça obscurecer a imutável verdade sobre a natureza do homem.
No segundo dia, iniciei a visita a Londres. Lá, encontrei primeiramente o mundo da educação católica, que desenvolve um papel relevante no sistema de educação daquele País. Em um autêntico clima de família, falei aos educadores, recordando a importância da fé na formação de cidadãos maduros e responsáveis. Aos numerosos adolescentes e jovens que me acolheram com simpatia e entusiasmo, propus que não perseguissem objetivos limitados, contentando-se com escolhas cômodas, mas que apontassem a algo maior, ou seja, a busca da verdadeira felicidade, que se encontra apenas em Deus.
No evento sucessivo, com os líderes de outras religiões majoritariamente representadas no Reino Unido, relembrei a inevitável necessidade de um diálogo sincero, que necessita do respeito pelo princípio da reciprocidade para que seja plenamente frutuoso. Ao mesmo tempo, evidenciei a busca pelo sagrado como terreno comum a todas as religiões, sobre o qual reforçar amizade, confiança e colaboração.
A visita fraterna ao Arcebispo de Canterbury foi ocasião para confirmar o compromisso comum de testemunhar a mensagem cristã que liga Católicos e Anglicanos. Em seguida, um dos momentos mais significativos da viagem apostólica: o encontro no grande salão do Parlamento britânico com personalidades institucionais, políticas, diplomáticas, acadêmicas, religiosas, expoentes do mundo cultural e dos negócios. Naquele lugar tão prestigioso, sublinhei que a religião, para os legisladores, não deve representar um problema a se resolver, mas um fator que contribui de modo vital no caminho histórico e debate político da nação, em particular no chamar a atenção para a importância essencial do fundamento ético para as escolhas nos vários setores da vida social.
Naquele mesmo clima solene, fui, então, à Abadia de Westminster: pela primeira vez um Sucessor de Pedro entrou no lugar de culto símbolo das antiquíssimas raízes cristãs do País. A recitação da oração das Vésperas, juntamente com as diversas comunidades cristãs do Reino Unido, representou um momento importante nas relações entre a Comunidade católica e a Comunhão anglicana. Quando, unidos, veneramos a tumba de Santo Eduardo o confessor, enquanto o coro cantava: "Congregavit nos in unum Christi amor", todos louvamos a Deus, que nos conduz no caminho da plena unidade.
Na manhã de sábado, o encontro com o primeiro-ministro abriu a série de encontro com os maiores expoentes do mundo político britânico. Seguiu-se a celebração eucarística na Catedral de Westminster, dedicada ao Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor. Foi um extraordinário momento de fé e de oração – que também evidenciou a rica e preciosa tradição de música litúrgica "romana" e "inglesa"– da qual participaram os diversos componentes eclesiais, espiritualmente unidos às fileiras de crentes da longa história cristã daquela terra. Grande é a minha alegria por ter encontrado um grande número de jovens que participam da Santa Missa no exterior da Catedral. Com a sua presença, cheia de entusiasmo e, ao mesmo tempo, atenta e trépida, demonstraram o desejo de serem protagonistas de um novo tempo de corajoso testemunho, de ativa solidariedade, de generoso compromisso a serviço do Evangelho.
Na Nunciatura Apostólica, encontrei algumas vítimas de abusos por parte de integrantes do Clero e religiosos. Foi um momento de comoção e de oração. Pouco depois, encontrei também um grupo de profissionais e voluntários responsáveis pela proteção dos meninos e jovens nos ambientes eclesiais, um aspecto particularmente importante e presente no compromisso pastoral da Igreja. Agradeci-os e encorajei a continuar o seu trabalho, que se insere na longa tradição da Igreja de proteção do respeito, educação e formação das novas gerações. Sempre em Londres, depois, visitei a casa de repouso para idosos, gerenciada pelas Pequenas Irmãs dos Pobres com a preciosa contribuição de numerosas enfermeiras e voluntários. Essa estrutura de acolhimento é sinal da grande consideração que a Igreja sempre teve pelo idoso, bem como expressão do compromisso dos católicos britânicos no respeito da vida sem levar em conta a idade ou as condições.
Como dizia, o cume da minha visita ao Reino Unido foi a beatificação do Cardeal John Henry Newman, ilustre filho da Inglaterra. Ela foi precedida e preparada por uma vigília especial de oração, que aconteceu no sábado à noite, em Londres, no Hyde Park, em uma atmosfera de profundo recolhimento. À multidão de fiéis, especialmente jovens, desejei repropor a luminosa figura do Cardeal Newman, intelectual e fiel, cuja mensagem espiritual pode-se sintetizar no testemunho de que a via da consciência não é fechamento no próprio "eu", mas abertura, conversão e obediência Àquele que é caminho, Verdade e Vida. O rito de beatificação aconteceu em Birmingham, durante a solene celebração eucarística dominical, na presença de uma grande multidão proveniente de toda a Grã-Bretanha e Irlanda, com representantes de muitos outros países. Esse tocante evento colocou ainda mais em destaque um estudioso de grande envergadura, um insigne escritor e poeta, um sábio homem de Deus, cujo pensamento iluminou muitas consciências e ainda hoje exerce um fascínio extraordinário. A ele, em particular, inspiram-se os crentes e as comunidades eclesiais do Reino Unido, para que também em nossos dias aquela nobre terra continue a produzir frutos abundantes de vida evangélica.
O encontro com a Conferência Episcopal da Inglaterra e Gales e com aquela da Escócia concluiu um dia de grande festa e intensa comunhão de corações para a comunidade católica na Grã-Bretanha.
Queridos irmãos e irmãs, nesta minha viagem ao Reino Unido, como sempre, desejou apoiar em primeiro lugar a Comunidade católica, encorajando-a a trabalhar tenazmente para defender as imutáveis verdades morais que estão na base de uma sociedade verdadeiramente humana, justa e livre. Pretendi também falar ao coração de todos os habitantes do Reino Unido, sem excluir ninguém, sobre a verdadeira realidade do homem, das suas necessidades mais profundas, do seu destino último. Ao dirigir-me aos cidadãos do país, encruzilhada da cultura e da economia mundial, tive em mente todo o Ocidente, dialogando com as razões dessa civilização e comunicando a perene novidade do Evangelho, do qual ela está impregnada. Essa viagem apostólica confirmou em mim uma profunda convicção: as antigas nações da Europa têm uma alma cristã, que constituem um todo com o 'gênio' e a história dos respectivos povos, e a Igreja não cessa de trabalhar para manter continuamente essa tradição espiritual e cultural.
O beato John Henry Newman, cuja figura e escritos conservam ainda uma formidável atualidade, merece ser conhecido por todos. Ele sustente os propósitos e esforços dos cristãos par "difundir em todos os lugares o perfume de Cristo, a fim de que toda a sua vida seja apenas uma irradiação da sua", como escrevia sapientemente no seu livro Irradiar Cristo.
Ao final da Catequese, o Papa dirigiu aos peregrinos de língua portuguesa a seguinte saudação:
Amados peregrinos de língua portuguesa,
cordiais saudações para todos vós, de modo especial para os fiéis de Campinas, da paróquia Beato José de Anchieta de Cambuí. Continuai a defender aquelas verdades morais imutáveis que, iluminadas e confirmadas pelo Evangelho, estão na base de uma sociedade verdadeiramente humana, justa e livre. Sobre vós e vossas famílias desça a minha Bênção!
Siga o Canção Nova Notícias no twitter.com/cnnoticias
Conteúdo acessível também pelo iPhone – iphone.cancaonova.com