Terra Santa

"Estou com vocês", diz Papa em carta aos fiéis do Oriente Médio

Neste Dia Mundial de Oração e Jejum pela Paz, Francisco enviou uma carta aos católicos do Oriente Médio, denunciando o conflito e expressando sua proximidade aos fiéis

Da redação, com Vatican News

Alguns palestinos deixam a cidade de Bani Suheila, Gaza, após os ataques israelenses / Foto: Anadolu via Reuters Connect

“Penso em vocês e rezo por vocês. Desejo chegar até vocês neste dia triste”, começa a carta do Santo Padre, divulgada nesta segunda-feira, 7, pela Sala de Imprensa da Santa Sé. Dia que marca um ano dos ataques do Hamas a Israel, que deram início aos conflitos na região.

“Há um ano, o estopim do ódio foi aceso; não morreu, mas explodiu numa espiral de violência, na vergonhosa incapacidade da comunidade internacional e dos países mais poderosos para silenciar as armas e pôr fim à tragédia da guerra. O sangue escorre, como lágrimas; a raiva aumenta, junto ao desejo de vingança, embora pareça que poucos se interessam pelo que é mais necessário e pelo que as pessoas desejam: o diálogo, a paz”, enfatizou Francisco.

Após as ligações diárias ao pároco da Sagrada Família de Gaza, padre Gabriel Romanelli, após o apelo feito no Angelus deste domingo, 6, por um cessar-fogo imediato em todos os fronts, após o Rosário de paz a Maria em Santa Maria Maior e no dia em que convocou uma Jornada Mundial de Oração e Jejum, o Papa quis fazer mais um gesto com esta carta.

Na mensagem, o Santo Padre ressaltou que não se cansa de repetir que “a guerra é uma derrota, que as armas não constroem o futuro, mas o destroem, porque a violência nunca traz paz”. E citou que a própria história prova isso, mediante os anos de conflitos que parecem nada ter ensinado.

Proximidade

“Estou com vocês…” Essa expressão do Papa é repetida sete vezes na carta. No texto, o Santo Padre afirma estar com os habitantes de Gaza, com os deslocados, com aqueles que fugiram das bombas, com as mães que choram seus filhos mortos, com as crianças que tiveram a infância roubada, com todos aqueles que não têm voz e que sofrem as consequências dos conflitos.

O Papa escreveu o que, segundo ele, sente em seu coração: “Estou próximo de vocês, estou com vocês”, para reafirmar sua proximidade aos católicos, mas também a todos os homens e mulheres de todas as confissões e religiões que no Oriente Médio sofrem com a loucura da guerra.

“Estou com vocês, habitantes de Gaza, martirizados e exaustos, que estão todos os dias em meus pensamentos e em minhas orações. Estou com vocês, forçados a deixar suas casas, a abandonar a escola e o trabalho, a vagar em busca de um destino para escapar das bombas.”

Mães e crianças

O Papa pensa nas mães a quem foram arrancados os filhos e nas crianças, algumas tão pequenas que não conheceram outra coisa senão bombas e destruição. “Estou com vocês, mães que derramam lágrimas olhando para seus filhos mortos ou feridos, como Maria ao ver Jesus; com vocês, pequenos que habitam as grandes terras do Oriente Médio, onde as tramas dos poderosos lhes roubam o direito de brincar.”

Sedentos de paz e justiça

“Estou com vocês, que têm medo de olhar para o alto, porque do céu chove fogo”, escreve ainda o Bispo de Roma. “Estou com vocês, que não têm voz, porque se fala muito de planos e estratégias, mas pouco sobre a situação concreta daqueles que sofrem com a guerra, que os poderosos fazem com os outros; sobre eles, no entanto, pesa a implacável investigação de Deus”.

“Estou com vocês, sedentos de paz e de justiça, que não se rendem à lógica do mal e em nome de Jesus ‘amam seus inimigos e rezam por aqueles que os perseguem'”, destaca na carta.

Rebanho indefeso

Francisco afirma ainda que seu olhar se volta para todos os irmãos e irmãs que habitam os lugares mencionados nas Sagradas Escrituras, “um pequeno rebanho indefeso, sedento de paz”. “Obrigado por aquilo que vocês são, obrigado porque querem permanecer em suas terras, obrigado porque sabem rezar e amar, apesar de tudo. Vocês são uma semente amada por Deus”, escreve o Papa Francisco.

E como uma semente, “aparentemente sufocada pela terra que a cobre, sempre sabe encontrar o caminho para o alto, para a luz, para dar frutos e gerar vida”, assim vocês “não se deixam engolir pela escuridão que os cerca, mas, plantados em suas terras sagradas, tornam-se brotos de esperança”, encoraja.

“A luz da fé os leva a testemunhar o amor enquanto se fala de ódio, o encontro enquanto o confronto se espalha, a unidade enquanto tudo parece caminhar para a divisão.”

Paz desarmada

“Com coração de pai”, o Papa se dirige a essas Igrejas antigas e hoje “martirizadas”: “Sementes de paz no inverno da guerra”, ele as define, exortando-as a se tornarem “testemunhas da força de uma paz desarmada”.

“Os homens de hoje não sabem encontrar a paz, e nós, cristãos, não devemos nos cansar de pedi-la a Deus. Por isso hoje convidei todos a viver um dia de oração e jejum”, as “armas do amor que mudam a história”, armas que “vencem nosso único verdadeiro inimigo: o espírito do mal que fomenta a guerra”, sublinhou o Pontífice.

“Por favor, dediquemos tempo à oração e redescubramos o poder salvífico do jejum!”, pediu Francisco neste Dia de Oração e Jejum convocado por ele.

Gratidão

Da proximidade, passa-se à gratidão, e as últimas linhas da missiva são todas um “obrigado” do Papa, sobretudo pelo testemunho dado em meio ao horror: “Obrigado a vocês, filhos da paz, porque consolam o coração de Deus, ferido pelo mal do homem. E obrigado a todos aqueles, no mundo inteiro, que os ajudam; a eles, que em vocês cuidam de Cristo faminto, doente, estrangeiro, abandonado, pobre e necessitado, peço que continuem a fazê-lo com generosidade”.

O Pontífice também expressa gratidão aos bispos e sacerdotes que levam “o consolo de Deus nas solidões humanas”. A eles também encoraja a “olhar para o povo santo que são chamados a servir e deixar que seus corações sejam tocados, abandonando, por amor aos seus fiéis, toda divisão e ambição”.

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