Dom Ettore Balestrero afirmou que a não proliferação de armas nucleares e o desarmamento são responsabilidades éticas para com a humanidade
Da Redação
O observador permanente da Santa Sé nas Nações Unidas e outras organizações internacionais em Genebra, Dom Ettore Balestrero, falou durante o encontro da segunda Comissão Preparatória da Conferência de Revisão do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares que se realizará em 2026. Ele sublinhou o preocupante crescimento dos gastos militares no setor nuclear e os riscos das novas tecnologias, afirmando que “o desarmamento é uma responsabilidade ética para com a humanidade”.
Em seu discurso, o diplomata Vaticano afirmou que a Santa Sé está profundamente preocupada com a ameaça existencial que a proliferação nuclear e as armas nucleares continuam representando. Balestrero indica que é imperativo reconhecer que os arsenais nucleares, como instrumentos de estratégia militar, têm intrinsecamente uma disposição ativa para o uso.
O preocupante aumento das armas nucleares
Dom Balestrero destacou que o Papa Francisco reiterou a imoralidade da produção e posse de armas nucleares em seu discurso deste ano ao Corpo diplomático credenciado junto à Santa Sé. O Pontífice observou que é “preocupante o crescimento contínuo dos gastos militares relacionados às armas nucleares e o aumento da retórica e das ameaças sobre seu possível uso”. Acrescentou também que “tais ameaças são uma afronta à humanidade”, porque “uma guerra nuclear teria, sem dúvida, um impacto irreparável e devastador, com uma perda de vidas sem precedentes”.
O desarmamento é uma responsabilidade ética
Diante da produção incessante de armas, é necessário refletir sobre o fato de que “a não proliferação e o desarmamento, além de serem obrigações legais, são responsabilidades éticas para com todos os membros da família humana”, reiterou o observador permanente.
Dom Ettore Balestrero indicou que no discurso sobre armas nucleares proferido no Parque Hipocentro da Bomba Atômica em Nagasaki, em 24 de novembro de 2019, o Papa Francisco descreveu a paz e a estabilidade internacionais como “somente possíveis a partir de uma ética global de solidariedade e cooperação a serviço de um futuro moldado pela interdependência e corresponsabilidade”.
O arcebispo também observou que, considerando as “tensões prevalecentes e as consequências humanitárias catastróficas” que resultariam do uso de armas nucleares, “é urgente retomar um diálogo sincero a fim de estabelecer limitações vinculativas para todas as armas nucleares e sistemas de lançamento em escala global”. Tudo isso considerando que “o progresso dos sistemas de lançamento e das tecnologias de informação” complicou os riscos associados à “posse de armas nucleares, mesmo no caso de uma escalada involuntária”, pois isso leva à “redução dos tempos de decisão e resposta” e aumenta “a probabilidade de uso nuclear”.
Redirecionar gastos para projetos de desenvolvimento
As armas nucleares, portanto, têm “custos enormes que têm repercussões no bem comum global”, observou o arcebispo, enquanto, em vez disso, “os recursos humanos e financeiros atualmente destinados aos esforços de modernização poderiam ser redirecionados para projetos de desenvolvimento que respondam às necessidades urgentes e universais” das populações mais pobres e vulneráveis”.
A este respeito, o observador permanente destacou que a Santa Sé apresentou a proposta de “criar um fundo global, financiado com uma parte do dinheiro gasto em armas e outras despesas militares para erradicar a fome e promover o desenvolvimento nos países mais pobres”, contribuindo “na realização de uma cultura da vida e da paz”.
Comprometer-se com a não-proliferação nuclear
“A Santa Sé deseja reafirmar sua firme convicção de que um mundo livre de armas nucleares é possível e necessário”, afirmou Dom Balestrero, considerando que o Tratado de Não Proliferação Nuclear e o Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares “podem se reforçar mutuamente, inclusive nas áreas de verificação do desarmamento nuclear, de reabilitação ambiental e assistência às vítimas”.
Por fim, ele reiterou o papel valioso da Parceria Internacional para a verificação do desarmamento nuclear que nos últimos dez anos trabalhou para identificar os desafios técnicos e as possíveis soluções associadas à verificação num espírito de cooperação entre Estados que possuem e os que não possuem armas nucleares. “Em meio à tragédia dos conflitos armados em andamento, precisamos recuperar a consciência de sermos membros da mesma família humana”.