Em audiência com membros da Pontifícia Academia para a Vida, Francisco refletiu sobre a busca de sentido da humanidade e diz que as relações com os outros estão no centro da nossa existência
Da redação, com Vatican News
O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta segunda-feira, 12, na Sala do Consistório, no Vaticano, os membros da Pontifícia Academia para a Vida por ocasião de sua assembleia geral sobre o tema “Humano. Significados e desafios”.
O Pontífice reconheceu a importância do tema abordado pelo organismo vaticano, cujo presidente é dom Vincenzo Paglia, que procura entender o que qualifica o ser humano. Segundo Francisco, “essa é uma questão antiga e sempre nova que os recursos surpreendentes possíveis, graças às novas tecnologias, repropõem de uma forma ainda mais complexa”.
Dentro de um horizonte mais amplo
A contribuição dos estudiosos sempre nos disse que não é possível ser, a priori, “a favor” ou “contra” as máquinas e as tecnologias, porque essa alternativa, referida à experiência humana, não faz sentido. Hoje, não é plausível recorrer apenas à distinção entre processos naturais e artificiais, considerando os primeiros como autenticamente humanos e os segundos como estranhos ou até mesmo contrários ao humano. O que se deve fazer é inscrever o conhecimento científico e tecnológico num horizonte de significado mais amplo, evitando assim a hegemonia tecnocrática.
Esse desvio — ou seja, a pretensão, diz ele, de “reproduzir o ser humano com os meios e a lógica da tecnologia” — pode ser visto desde a história bíblica e antiga da Torre de Babel. O Papa se esquiva do clichê usual e apressado de que foi uma “punição destrutiva”. Pelo contrário, explicou ele, a intervenção de Deus naquela circunstância foi uma “bênção proposital”.
Na verdade, manifesta a tentativa de corrigir o desvio para um “pensamento único” por meio da multiplicidade de línguas. Os seres humanos são colocados diante do limite e da vulnerabilidade e são chamados a respeitar a alteridade e a cuidar uns dos outros.
Criatividade “responsável
Francisco observou que existe nos homens e nas mulheres hipertecnológicos de hoje, que constroem “máquinas falantes”, a “tentação insidiosa” de “sentirem-se protagonistas de um ato criativo” semelhante ao divino. Portanto, somos “solicitados a discernir como a criatividade humana pode ser exercida com responsabilidade”. Para isso, é necessário, continuou o Papa, “desenvolver uma cultura que, integrando os recursos da ciência e da tecnologia, seja capaz de reconhecer e promover o humano em sua especificidade irrepetível”.
Libertar-se do “indietrismo”
Dois são os caminhos a serem seguidos nessa “tarefa cultural”, disse ainda Francisco. O primeiro se baseia no “intercâmbio transdisciplinar”, um “laboratório cultural” constituído por “uma troca recíproca” que reelabore os conhecimentos e saberes, indica “a justaposição dos saberes” por meio da “escuta recíproca e da reflexão crítica”. A segunda modalidade é evidente, reconheceu Francisco, no “procedimento sinodal” da Pontifícia Academia para a Vida.
É um estilo de pesquisa exigente, porque implica atenção e liberdade de espírito, abertura para se aventurar em caminhos inexplorados e desconhecidos, libertando-se de todo “indietrismo” estéril (“retrocedismo”, a reação contra o moderno”).
“Nesta linha, o cristianismo sempre ofereceu importantes contribuições, extraindo de cada cultura em que se inseriu as tradições de sentido que ali encontrou inscritas e reinterpretando-as à luz da relação com o Senhor, que se revela no Evangelho, e fazendo uso dos recursos linguísticos e conceituais presentes em contextos individuais”, concluiu o Papa.