Dom Ettore Balestero, observador permanente da Santa Sé nas Nações Unidas, discursou na 21ª Reunião dos Estados Membros da Convenção sobre Minas Terrestres
Da Redação, com Vatican News
“Há poucos dias, o Papa Francisco convidou todas as pessoas de boa vontade a refletirem sobre o número de crianças que “são privadas do direito fundamental à vida e à integridade física e mental devido a conflitos”, perguntando: “Quantas crianças são forçadas a participar, direta ou indiretamente, de combates e a carregar suas cicatrizes? Nenhuma guerra vale as lágrimas das crianças!”. Foi o que disse, nesta sexta-feira, 24, Dom Ettore Balestero, observador permanente da Santa Sé nas Nações Unidas, em seu discurso na 21ª Reunião dos Estados Membros da Convenção sobre Minas Terrestres, em Genebra, na Suíça.
O delegado vaticano disse que, lamentavelmente, as minas terrestres e os dispositivos explosivos ativados por vítimas continuam a ser usados por alguns Estados e grupos armados, provocando um número trágico de vítimas, inclusive muitas crianças. “Com grande preocupação, observamos a disseminação indiscriminada de minas terrestres na Ucrânia. Esse é um exemplo trágico de como esses instrumentos de morte também estão impedindo a entrega de ajuda humanitária e dificultando as atividades agrícolas, representando uma ameaça constante à população civil. O uso dessas armas traiçoeiras incorpora uma abordagem muito perigosa e artificial da segurança, na qual qualquer pessoa no outro campo é simplesmente vista como um ‘inimigo’”.
A verdadeira paz e segurança nunca podem ser baseadas no medo
Segundo Dom Ettore, a dependência contínua das minas terrestres é um sintoma de problemas mais amplos e profundos. Mas as armas não devem ser a resposta mais eficaz a esses problemas, e sim o diálogo, a mediação e a reconciliação. “De fato, todas as pessoas buscam a paz, mas a verdadeira paz e segurança nunca podem ser baseadas no medo, que tende a minar a paz a longo prazo, mesmo na ausência de conflitos. Os conflitos desfiguram os vínculos entre as pessoas e entre os Estados, sendo que os civis sempre suportam o peso do sofrimento. Por essas razões, a Santa Sé reitera veementemente todos os Estados que ainda não o fizeram a aderir à Convenção e, enquanto isso, a cessar a produção e o uso de minas terrestres.”
A destruição dos estoques e a remoção de minas terrestres, acrescentou ainda o bispo, devem continuar a andar de mãos dadas com a assistência às vítimas, em uma abordagem verdadeiramente holística e preventiva. “Nesse sentido, a Santa Sé deseja reiterar sua gratidão aos muitos voluntários, ao pessoal das Nações Unidas e a todos os envolvidos no perigoso trabalho de remoção de minas e na assistência àqueles que sofreram ferimentos e morte de entes queridos por causa das minas terrestres”.
A Santa Sé entre os pioneiros da Convençāo
O arcebispo reiterou que a Santa Sé foi um dos primeiros Estados a assinar a Convenção. Desde então, por meio das instituições da Igreja Católica em todo o mundo, conduziu “uma campanha para aumentar a conscientização nas Igrejas locais sobre o problema das minas terrestres, divulgando informações relevantes sobre esse grave problema, pressionando por um compromisso ativo nesse sentido e, além disso, pedindo orações pelas vítimas de minas terrestres'”.
Ao concluir seu discurso, Dom Ettore disse que a Santa Sé está profundamente convencida de que, no mundo globalizado de hoje, é preciso investir em instrumentos de vida e paz, em vez de instrumentos de morte e sofrimento indiscriminado e desnecessário. “Na mesma linha, gostaria de enfatizar que não podemos aceitar que enormes recursos e pesquisas tecnológicas sejam alocados para o desenvolvimento de armas cada vez mais letais e não para tornar as próteses mais adaptáveis e acessíveis às vítimas”.