Em carta aos sacerdotes da Diocese de Roma, Papa agradece pela dedicação ao ministério e alerta para mundanidade espiritual que reduz espiritualidade à aparência
Da redação, com VaticanNews
O Papa Francisco enviou uma carta aos sacerdotes da Diocese de Roma, nesta segunda-feira, 7. O Pontífice renovou seu agradecimento aos sacerdotes pelo seu testemunho, seu serviço, pelo bem oculto que fazem, e pelo perdão e consolo que dão em nome de Deus. “Obrigado pelo seu ministério, que muitas vezes se realiza no meio de tanto esforço, incompreensão e pouco reconhecimento”, escreveu.
Segundo o Papa, o “ministério sacerdotal não se mede pelos sucessos pastorais”. Ele afirmou que no centro da vida sacerdotal está “o permanecer no Senhor para dar frutos” e não “o frenesi da atividade”. “A ternura que nos consola brota da sua misericórdia, da acolhida dos ‘magis’ da sua graça, que nos permite ir adiante no trabalho apostólico, suportar os reveses e fracassos, alegrar-nos com simplicidade de coração, ser mansos e pacientes, e recomeçar sempre, estender as mãos aos outros”, ressalta.
O Papa sublinhou que os necessários “momentos de recarga” não ocorrem apenas quando há o descanso físico ou espiritual, mas também quando o sacerdote abre-se ao encontro fraterno. “A fraternidade conforta, oferece espaços de liberdade interior e não nos faz sentir sozinhos diante dos desafios do ministério”, sublinha o Papa.
“Neste nosso tempo, o que nos pede o Senhor, para onde nos orienta o Espírito que nos ungiu e nos enviou como apóstolos do Evangelho?”, refletiu o Santo Padre. Ele acrescentou que, na oração, o que lhe vem à mente é que Deus pede para “ir fundo na luta contra a mundanidade espiritual”.
Mundanidade espiritual: uma tentação “gentil”
De acordo com o Papa, “a mundanidade espiritual é perigosa porque é um modo de vida que reduz a espiritualidade à aparência: nos leva a ser ‘comerciantes do espírito’, homens vestidos de formas sagradas que, na realidade, continuam pensando e agindo segundo as modas do mundo. Isso acontece quando nos deixamos fascinar pelas seduções do efêmero, pela mediocridade e pela rotina, pelas tentações do poder e da influência social, da vanglória e do narcisismo, da intransigência doutrinal e do esteticismo litúrgico, formas e maneiras nas quais a mundanidade ‘se esconde atrás de aparências de religiosidade e até de amor à Igreja’, mas na realidade ‘consiste em buscar, em vez da glória do Senhor, a glória humana e o bem-estar pessoal'”.
Ainda segundo Francisco, a mundanidade espiritual é uma “tentação gentil” e por isso ainda mais insidiosa. “Na verdade, ela se insinua sabendo se esconder bem atrás das boas aparências, até mesmo dentro de motivações ‘religiosas’. E, mesmo que a reconheçamos e a afastemos de nós, mais cedo ou mais tarde ela volta disfarçada de outro modo”.
Para vencer esse mal, o Papa aponta que é preciso vigilância interior. “Guardar a mente e o coração, alimentar o fogo purificador do Espírito dentro de nós, porque as tentações mundanas voltam e ‘batem’ de maneira educada. São os ‘demônios educados’: entram educadamente, sem que eu perceba”, ressaltou.
A seguir, Francisco se detém num aspecto desta mundanidade: o clericalismo. “Como idoso, e de coração, digo a vocês que me preocupa quando recaímos nas formas do clericalismo; quando, talvez sem perceber, damos às pessoas a impressão de que somos superiores, privilegiados, colocados ‘no alto’ e, portanto, separados do resto do Povo santo de Deus”.
“Como me escreveu uma vez um bom sacerdote: ‘O clericalismo é um sintoma de uma vida sacerdotal e laical tentada a viver na função e não no vínculo real com Deus e com os irmãos’. Em suma, denota uma doença que nos faz perder a memória do Batismo recebido, deixando em segundo plano a nossa pertença ao mesmo Povo santo e levando-nos a viver a autoridade nas várias formas de poder, já não percebendo a duplicidade, sem humildade, mas com comportamentos distantes e soberbos”, frisa o Papa.