Entrevista

Ucrânia: “Que o soar dos sinos prevaleça sobre o uso de armas”

Arcebispo maior de Kiev-Halyic, Sua Beatitude Sviatoslav Shevchuk agradece ao Papa Francisco pelo apelo em prol da paz na Ucrânia

Da redação, com Vatican News

Ucrânia

Arcebispo maior de Kiev-Halyic, Sua Beatitude Sviatoslav Shevchuk agradece ao Papa Francisco pelo apelo em prol da paz na Ucrânia./ Foto: Reuters

O Arcebispo Maior de Kiev-Halyic, Sua Beatitude Sviatoslav Shevchuk, dirigiu palavras de gratidão ao Papa Francisco após chamar a atenção, no domingo, 18, no Regina Coeli, sobre o que está acontecendo em algumas áreas do leste da Ucrânia. O Pontífice havia expressado “grande inquietação” pelo “aumento das atividades militares” e pelas muitas violações do cessar-fogo registradas nos últimos meses. Uma preocupação compartilhada também pela União Europeia que está seguindo o caminho do diálogo e da diplomacia.

Uma situação muito “alarmante” e “preocupante”, há o risco de uma escalada de violência e, portanto, “é necessário aliviar as tensões”, diz o Alto Representante da União Europeia Borrell, que comunicou a presença na fronteira entre a Rússia e a Ucrânia de 150.000 soldados russos. O Pentágono também expressou “séria preocupação” com o assunto. “Espero fortemente – disse o Papa no Regina Coeli – que o aumento das tensões seja evitado e, ao contrário, que sejam feitos gestos capazes de promover a confiança mútua e favorecer a reconciliação e a paz, que são tão necessárias e tão desejadas”. É a partir destas palavras que Sua Beatitude Sviatoslav Shevchuk fala ao Vatican News:

Beatitude Shevchuk: Somos verdadeiramente gratos ao Santo Padre, antes de tudo, por sua empatia e por sua oração pela Ucrânia, por nosso povo que está tão angustiado porque agora estamos novamente passando por um momento de grande medo. Este medo é causado por duas coisas. Uma trégua que durou quase um ano e que, infelizmente, está agora caindo, e os tiroteios e confrontos militares no leste da Ucrânia que estão se intensificando. E isto é realmente uma tragédia, porque esperamos tanto que a guerra possa ser detida, que uma solução política e diplomática possa realmente ser encontrada para este conflito, porque todos nós sabemos que não há solução militar para esta situação. A segunda causa deste medo do povo ucraniano é a altíssima concentração das tropas russas na fronteira da Ucrânia. E há o medo de uma invasão direta deste exército no território da Ucrânia. E tudo isso está acontecendo no contexto da pandemia. Neste momento, estamos vivenciando uma onda muito forte da pandemia do coronavírus na Ucrânia, portanto estamos um momento de grande medo. A solidariedade do Santo Padre, a atenção que ele chamou para nosso sofrimento, suscita sentimentos de profunda gratidão ao Papa, por sua oração e apoio ao sofrido povo ucraniano.

No Regina Coeli, o Papa Francisco lançou um apelo dando prioridade à grave situação humanitária em que essa população se encontra. Qual é a situação?

Beatitude Shevchuk: A situação humanitária nesta área está piorando porque antes da pandemia da Covid podia-se deslocar de uma parte à outra controlada pelos ucranianos. Os idosos podiam vir para receber suas aposentadorias. A ajuda humanitária podia ser enviadas para a outra área. Mas com o surto do coronavírus, todos esses pontos de cruzamento foram fechados. As pessoas estão presas nesta área. O contágio está crescendo, a possibilidade de enviar ajuda humanitária, antes de tudo medicamentos, alimentos para cobrir as necessidades básicas dessas pessoas é quase impossível. A isto se somaria um ataque militar… Seria uma tragédia, do ponto de vista humanitário, para estas pessoas que realmente se sentem esquecidas, exploradas, amedrontadas.

Qual é o apelo que o senhor deseja lançar a fim de promover a reconciliação e a paz?

Beatitude Shevchuk: Não à guerra! Deponham as armas! Como disse o Papa Francisco, com a guerra não se ganha nada, mas se perde tudo. Que a razão, o diálogo, mesmo o diálogo diplomático, prevaleça sobre a tentação de usar armas para resolver qualquer problema do ponto de vista político internacional. Nós, os representantes das igrejas e organizações religiosas na Ucrânia – agora sou o Presidente do Conselho de Igrejas – assinamos um apelo em prol da paz, especialmente no Tempo de Páscoa, porque daqui a duas semanas celebraremos a Páscoa Ortodoxa na Ucrânia e como Igreja Greco-Católica seguimos o calendário juliano, portanto, para esta época da Páscoa queremos que a paz prevaleça, que os cantos da Páscoa, o soar dos sinos, prevaleçam sobre os tiros, sobre o uso de armas. Este é nosso apelo, esta é nossa oração, esta é nossa vontade, este é nosso desejo mais profundo: que a paz possa prevalecer, não à guerra, que as tropas possam ser retiradas e que as pessoas possam viver com dignidade e receber a ajuda de que necessitam.

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