Plataforma MigraSegura é uma iniciativa da Cáritas Brasileira
Denise Claro
Da redação
O mundo vive atualmente a maior crise humanitária da história. São mais de 200 milhões de migrantes e mais de 60 milhões de refugiados por serem perseguidos e/ou vítimas de conflitos armados.
Segundo a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), mais de 5 milhões de pessoas já saíram da Venezuela. Destes, 680 mil se encontram no Brasil e no Equador. Uma realidade que congrega diversos desafios, desde o acolhimento com informações básicas nesses países às situações de preconceito e xenofobia.
Na América Latina e no Caribe, há uma articulação do trabalho eclesial com os migrantes, a Rede Clamor, da qual migrantes, a Cáritas Brasileira e a Cáritas Equador fazem parte. A partir de um mapeamento realizado pela rede, foram revelados mais de 600 espaços de acolhimentos vinculados às entidades eclesiais no continente. Em 2018, foi lançada a proposta de uma plataforma chamada MigraSegura, que pudesse acolher o mapeamento realizado pela Rede sobre os diferentes serviços da Igreja católica na região.
A coordenadora do projeto, Cristina dos Anjos, explica que o MigraSegura poderá ser acessado pela web e por aplicativo, e utilizado em celulares, tablets e computadores. Apesar de o projeto original envolver cinco países (Colômbia, Venezuela, Equador, Peru e Brasil), a implementação está acontecendo inicialmente no Brasil e no Equador.
“O MigraSegura tem como objetivo possibilitar às pessoas migrantes venezuelanas, nos dois países, o acesso à informação em situação de mobilidade humana, oferecendo informação sobre políticas migratórias, espaços de acolhimentos, processos legais para solicitação de refúgio e acesso às Redes socioassistenciais, informações sobre trabalho, notícias, de forma mais simples, eficiente e imediata”, explica.
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O projeto conta com o apoio técnico da Catholic Relief Services – CRS (a Cáritas dos Estados Unidos) e financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e da USAID, além da possibilidade de apoio de Cáritas da Europa, no sentido de viabilizar a implementação da plataforma nos demais países.
Cristina conta que os migrantes, em sua maioria, chegam aos países sem informações básicas, encontrando diversos desafios para organizar suas vidas. Com a pandemia de Covid-19, o acesso à informação tornou-se ainda mais importante para salvar vidas e fornecer segurança aos migrantes que, em muitos casos, não se beneficiam das respostas sanitárias dos governos.
“A falta de informação é um deles. A plataforma MigraSegura será uma ferramenta importante no sentido de possibilitar o acesso às informações atualizadas tanto em nível de legislação como para possibilitar que os mesmos tenham informações que poderão contribuir com o acolhimento inicial.”
O MigraSegura espera beneficiar em torno de 48 mil pessoas no Brasil, direta e indiretamente, e 20 mil no Equador.
Desafios e Implementação
Dentre as dificuldades que os migrantes enfrentam ao chegar no país, uma delas é a do acesso à internet. Ao ser questionada sobre o problema, Cristina concorda que este é um grande desafio para que a plataforma possa de fato chegar ao seu público-alvo.
A partir de uma pesquisa deste ano realizada a nível regional pelo ACNUR e IFRC, alguns dados conseguem revelar qual o nível de conexão à internet dessa população. Segundo o levantamento, 70% dos migrantes venezuelanos tem acesso a um telefone celular.
“Destes, sabemos que apenas 29% dos migrantes venezuelanos que possuem celulares têm acesso a uma rede Wi-Fi. O projeto vai disponibilizar o acesso a rede de wifi em alguns pontos de cidades de fronteira, na região Norte. Ao mesmo tempo, estamos buscando parcerias para disponibilizar outros pontos de acesso, ampliando o caminho para a audiência da plataforma.”
Para ser colocado em prática, será realizado um diagnóstico junto ao povo venezuelano, em alguns locais de fronteiras e também nas cidades com um maior número de migrantes provenientes do país, para confirmar que informações são mais relevantes, e serem incluídas no MigraSegura.
“Estamos trabalhando muito no desenvolvimento da plataforma, no protótipo, no feedback dos usuários e na construção da rede de colaboradores. Estimamos o lançamento para abril de 2021, tanto no Brasil como no Equador.”