Papa Francisco têm frisado, em seu pontificado, a necessidade de as mulheres ocuparem cargos na Igreja
Denise Claro
Da redação
No último domingo, 18, o Papa Francisco, na oração do Ângelus, falou a respeito da missão dos leigos na sociedade:
“Eis a missão da Igreja e dos cristãos: falar de Deus e dar testemunho d’Ele aos homens e mulheres do seu tempo. Cada um de nós, pelo batismo, é chamado a ser presença viva na sociedade, animando-a com o Evangelho e com a linfa vital do Espírito Santo. É uma questão de nos comprometermos humildemente e, ao mesmo tempo, com coragem, a dar a nossa própria contribuição para a construção da civilização do amor, onde reinam a justiça e a fraternidade.”
Na data, era celebrado o Dia Mundial das Missões, que teve como tema “Eis-me aqui, envia-me. Tecedores de fraternidade”.
“Esta palavra “tecedores”- disse o Papa- é bela: cada cristão é chamado a ser um tecedor de fraternidade. São-no de modo especial os missionários e as missionárias – sacerdotes, consagrados e leigos – que semeiam o Evangelho no grande campo do mundo.”
A cada mês, é divulgado mundialmente O Vídeo do Papa. Para o mês de outubro, o Pontífice também falou sobre os fiéis leigos e sua missão pelo batismo, e frisou a importância da participação das mulheres, em especial nas instâncias de responsabilidade da Igreja. Em seu texto, Francisco lembrou que ninguém foi batizado como padre ou bispo, mas como leigos, protagonistas da Igreja.
“Hoje, é especialmente necessário ampliar os espaços com presença feminina relevante na Igreja. E nesta presença laical, deve-se sublinhar o feminino, pois as mulheres costumam ser deixadas de lado. Devemos promover a integração das mulheres em lugares onde são tomadas decisões importantes.”
Bianca Fraccalvieri é jornalista e atua há quase vinte anos na Rádio Vaticano/ Vatican News. Ela comenta que, como mulher atuante na Igreja, sente-se muito reconfortada todas as vezes que o Papa fala do universo feminino, e ressalta que ele o faz com muita propriedade.
“São inúmeros pronunciamentos e referências nestes mais de sete anos de pontificado, que atestam precisamente o valor que o Pontífice confere às mulheres. Certamente, o caminho é muito longo, o próprio Papa está consciente disso.”
A jornalista lembra que Francisco tenta impulsionar essa participação, que ainda é rara no Vaticano.
“Talvez dê para contar nos dedos de uma mão as mulheres que efetivamente ocupam esses cargos. Há ainda outro aspecto a considerar: não é só porque Francisco pede que as coisas acontecem. Existe uma mentalidade muito radicada e o quadro não muda de um dia para outro. O Papa encoraja, solicita, dá o exemplo fazendo inúmeras nomeações para lugares-chave, mas neste aspecto ele rema quase que exclusivamente sozinho.”
A presença do feminino
Bianca reforça que o Papa, ao falar às mulheres e sobre o feminino, e ao nomear mulheres para cargos importantes, estimula muitos pontos para a reflexão. E recorda uma mensagem dada por ele ao Conselho Feminino do Pontifício para a Cultura do Vaticano, em que afirma que “as mulheres têm o dom de trazer uma sabedoria que sabe melhorar as feridas, perdoar, reinventar e renovar”:
“Creio que o diferencial esteja justamente aí: na sabedoria para renovar. Fazer, mas de maneira diferente, com um olhar mais solidário, generoso. Isso sem renunciar a todos os outros quesitos, como profissionalismo, seriedade e competência.”, afirma.
A assistente social Sônia de Oliveira é atualmente presidente do Conselho Nacional do Laicato do Brasil. Uma trajetória de 15 anos, desde o serviço ao Vicariato Social na Arquidiocese de Montes Claros, conselho do Regional Leste 2, e secretaria do Conselho Nacional.
Como mulher atuante, Sônia afirma que as mulheres precisam entender seu papel e a importância de seu protagonismo na Igreja e na sociedade.
“Francisco tem esse olhar marial, capaz de perceber a capacidade, o potencial e o serviço que nós mulheres podemos desempenhar. Muitas foram e são as mulheres que fazem a Igreja acontecer. Se a gente olhar para as pastorais liturgia, catequese, vê que a maioria que está à frente é mulher. O batismo nos dá a graça de fazermos parte dessa Igreja, e Francisco tem esse olhar avançado.”
A assistente social salienta que as mulheres cristãs devem olhar para fora dos muros, e entender melhor seu papel na sociedade, onde os leigos e leigas são chamados a testemunhar Jesus Cristo.
E complementa, falando de sua experiência: “A mulher tem um diferencial muito grande, não como forma de nos elevar, e nem de nos comparar, mas temos uma capacidade maior de diálogo, de entrar nos muitos espaços como na educação, e também nos ambientes mais pobres. Somente na pandemia visitei, em meu serviço à Igreja, 9.500 famílias. Chegamos onde os padres, bispos não conseguem, e para nós, mulheres, as pessoas têm mais facilidade em se abrir, especialmente as pessoas em vulnerabilidade social. Somos a aproximação da Igreja, o ser feminino da Igreja no meio desse povo.”
Importância do Diálogo
A presidente do conselho afirma que consegue viver um diálogo com os outros movimentos e pastorais, com as lideranças, clero e episcopado.
“É importante não querer impor, mas viver uma sintonia do diálogo. O Papa tem chamado a atenção para a questão da sinodalidade, que é saber respeitar até aonde o outro vai, saber dialogar. Temos encontrado muita abertura, mas essa abertura é conquistada. Não com brigas, não impondo, mas com diálogo.”
Em seu vídeo, o Papa reza para que, em virtude do batismo, os fiéis leigos, em especial as mulheres, participem mais nas instâncias de responsabilidade da Igreja, sem cair em clericalismos que anulam o carisma laical.
Sônia comenta que é necessária essa integração, é importante que as mulheres tenham poder de decisão, e concorda que o clericalismo é um desafio.
“Precisamos vencer juntos, e para isso é necessário maturidade, conhecer nosso protagonismo, nosso papel, nossa missão. Caminhar lado a lado, sabendo do nosso papel, da nossa missão, do nosso serviço primordial que é o testemunho na Igreja e sociedade. Enquanto mulher, é vivenciar essa beleza de ser mulher na Igreja, amar o ser feminino, que tem em Maria essa grande mulher, que sai às pressas para ajudar, mas que também responde sim ao projeto do Reino, e que como Maria nós podemos contribuir com essa Igreja que hoje vive tempos difíceis, de intolerância, de ódio, medo. Nós mulheres podemos ajudar neste diálogo com amor.”