Dia Mundial sem tabaco acontece neste domingo; ex-fumantes contam como deixaram o vício
Denise Claro
Da redação
Neste domingo, 31, é comemorado o Dia Mundial sem tabaco. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), há 1,1 bilhão de fumantes em todo o mundo. O tabagismo é a principal causa de câncer de pulmão mundial e, no Brasil, é a segunda causa mais frequente. Além do risco do câncer, o tabaco causa diferentes tipos de inflamação e prejudica os mecanismos de defesa do organismo.
No Brasil, 14,7% da população ainda é fumante, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde. Entre os homens, o número de fumantes é de 18,9%; entre as mulheres, 11%. O uso do tabaco ocupa o segundo lugar no ranking de drogas mais experimentadas no país. A idade média de um primeiro contato com o cigarro entre os jovens brasileiros é de 16 anos de idade, tanto para meninos quanto para meninas.
A pneumologista Ana Rosa de Campos lembra que o tabaco causa prejuízos não só ao sistema respiratório, porta de entrada da fumaça do cigarro, mas a todos os sistemas do organismo.
“No pulmão, que é o órgão principal de acometimento, o cigarro causa várias doenças, entre elas a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), que engloba enfisema e bronquite crônica, e são doenças incapacitantes, em que a falta de ar acontece cada vez mais frequentemente, e a pessoa passa a ter dificuldades para atividades básicas (na hora do banho, de se vestir, e até de se alimentar). Pode levar ao desenvolvimento de câncer de laringe e faringe. Mas a circulação também é atingida, pois o cigarro é pró- coagulante, e pode ocasionar fenômenos trombóticos nos membros, levando a uma embolia pulmonar ou AVC.”
A especialista afirma ainda que pode haver aumento de risco de infarto do miocárdio em quem é fumante.
Cigarro e Pandemia
É bom lembrar que: quem fuma tem um maior risco de infecções por vírus, bactérias e fungos. Os fumantes são acometidos com maior frequência por infecções como sinusites, traqueobronquites, pneumonias e tuberculose. Na situação atual de pandemia, os fumantes fazem parte do grupo de risco para a covid-19, devido a um maior comprometimento da capacidade pulmonar.
Ana Rosa explica que, por já possuir esse histórico por conta do cigarro, normalmente com a DPOC, o paciente tem aumentadas suas chances de desenvolver um quadro grave, ao ser contagiado pelo coronavírus.
“Suas defesas estão diminuídas e a covid-19 é uma doença viral que afeta o sistema respiratório.”, afirma.
Parando de fumar
No combate ao cigarro, o Brasil e a Turquia são os países que mais alcançaram resultados positivos em relação a medidas para redução do número de fumantes. O resultado está no mais recente Relatório da OMS sobre a Epidemia Mundial do Tabaco.
De acordo com o Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), nos últimos 13 anos, a população brasileira entrevistada diminuiu em 40% o consumo do tabaco. A pesquisa revela que o hábito vem caindo em todas as faixas etárias: de 18 a 24 anos de idade (12% em 2006 e 6,7%, em 2018), 35 e 44 anos (18,5% em 2006 e 9,1% em 2018); e entre 45 a 54 anos (22,6% em 2006 e 11,1% em 2018). Entre as mulheres, a redução do hábito de fumar alcançou 44%.
A pneumologista explica que tentar parar de fumar sozinho é muito difícil, e quando há uma abordagem médica, as chances de sucesso são maiores.
“No consultório, o médico pode orientar o paciente, e ajudar efetivamente, com métodos de reposição de nicotina, que vão desde gomas de mascar, a adesivos e sprays. A nicotina em si é o que vicia, mas o que faz mais mal para o organismo são as outras três mil substâncias químicas na formulação do cigarro. Também há o tratamento com o uso de medicamentos ansiolíticos”.
O carioca Rodrigo Ribeiro conta que fumou por dez anos. Há um mês, decidiu deixar o cigarro. “Comecei a fumar socialmente, quando saía com os amigos. Era bem esporádico. Depois, comecei a sentir a necessidade de fumar em casa mesmo, em momentos que estava sozinho”.
Ele conta que tentou, neste período, parar várias vezes, mas sempre voltava. “Acho importante dizer que é muito difícil parar, e cada vez que você pára e volta, se torna mais difícil. Parece que o vício te aperta mais, e você vai ficando ainda mais dependente. Você tem que tentar ser mais forte que o vício. O cigarro aliviava minha ansiedade, mas também me deixava mais ansioso depois”.
Esta última tentativa de Rodrigo teve início em meio à pandemia. Saber que estava no grupo de risco o ajudou nessa decisão. “Nesse período de pandemia, está sendo necessária uma dose extra de determinação. Quando você chega num momento de crise, você tende a abraçar mais ainda o vício, seja lá qual for. Mas no meu caso, as notícias que chegavam da covid-19 e saber que se tratava de uma doença respiratória me fortaleceram, porque eu refleti e percebi que se voltasse a fumar, correria mais risco na minha saúde”.
Decisão e Graça de Deus
O advogado paulista José Mário Braz tem 46 anos, e tinha 15 quando começou a fumar. Em sua casa, seus pais e irmãos já fumavam, e em seu primeiro ano de formado, trabalhou em um escritório de advocacia em que defendia, justamente, empresas fabricantes de cigarro, contra usuários que as processavam.
“Eu já gostava de fumar, para mim era normal. Mas essa experiência profissional criou uma certa consciência legal do fumo no sentido jurídico”. José Mário lembra que foi sua esposa que pediu para que ele parasse de fumar. “Fui tentando parar, mas nunca consegui”.
O advogado conta que, em 2019, foi a uma peregrinação a Jerusalém. No hotel, precisava sair do quarto, descer e sair do prédio para fumar na rua.
“No primeiro dia deu tudo certo, mas no segundo minha esposa disse: ‘Bem que você podia parar de fumar né?’ e eu falei pra ela que não era isso que eu queria, porque nunca gostei de ser pressionado por nada. Mas na hora que eu desci, alguma coisa me tocou muito forte. Então, no dia seguinte, a gente foi no Santo Sepulcro, e lá vivemos a experiência de colocar aos pés da cruz todos os nossos males, e ali eu entreguei o meu vício. Não foi fácil. A decisão teve que ser tomada, para que Deus pudesse atuar na próxima fase”.
José Mário comemora a alegria da esposa e filhas com sua decisão, e diz que deste dia até hoje, nunca mais sentiu nenhuma vontade de fumar. “Não é que eu tenha vontade e fique na fissura de fumar. De lá pra cá eu nunca mais senti nada. Acredito mesmo que tenha alcançado uma graça”.