Expectativa

Padre e católicos no Japão comentam realidade da Igreja no país

Católicos no Japão falam sobre expectativa em receber visita do Papa

Denise Claro
Da redação

Encontro da Pastoral Familiar no Japão./ Foto: Arquivo Pessoal- Honda

A Igreja Católica no Japão espera com alegria a chegada do Papa Francisco ao país  neste sábado, 22. A última visita de um pontífice foi há 38 anos, com João Paulo II. Os católicos são cerca de 0,4% da população japonesa, de maioria budista e xintoísta.

A Igreja no Japão conta com 16 dioceses e 859 paróquias. A maior comunidade católica vive na Arquidiocese de Tóquio, seguida por Nagasaki, Yokoama e Osaka.

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O sacerdote salesiano Evaristo Higa morou no Japão por 23 anos, e se dedicou, além da evangelização, a projetos sociais na cidade com a maior concentração de brasileiros no país, Hamamatsu.

Padre Higa explica que o catolicismo chegou ao país em 1549, com São Francisco Xavier. Nos primeiros anos, o cristianismo começou a crescer muito, pois era uma novidade para o Japão. Porém, tempos depois, sofreu perseguição por parte das autoridades, que temiam perder o poder.

“Os cristãos japoneses viveram sua fé em segredo por sete gerações. Foram duzentos anos sem sacerdotes. Aí vemos a importância do leigo: quem batizava as crianças eram os pais. Somente no século XIX passou-se a ter liberdade de culto”.

Atualmente, segundo o sacerdote salesiano, a Igreja no país tem 16 dioceses, que abrangem cada uma três ou quatro estados. “Os católicos são realmente minoria. Há dioceses com 5 ou 6 mil católicos, somente. A maioria dos bispos são japoneses e as paróquias normalmente só têm uma única missa no domingo.”

Uma grande preocupação da Igreja no Japão é a diminuição do número de católicos.

Padre Higa com o casal Honda./ Foto: Arquivo Pessoal

“A maioria dos fiéis é idosa, tem a preocupação de manter a fé por uma tradição. Mas não existe o sentido missionário da Igreja em saída, pedida pelo Papa, por exemplo. O que existe é a cultura de preservação da fé”, ressalta Padre Higa.

O sacerdote explica que, em relação à juventude, apesar de haver muitos colégios católicos no Japão, esses são escolhidos pela qualidade de ensino, e não pela fé católica. As vocações vem especialmente de outros países, como o Vietnã e as Filipinas.

“Nos salesianos, por exemplo, 99% dos alunos são budistas. As aulas de religião são de cultura religiosa, estuda-se o cristianismo como história. Por exemplo, tanto a imperatriz, como a princesa estudaram em colégios de freira, apesar de isso não se falar abertamente lá. Escolhe-se o colégio católico pelo bom nível educacional”, reforça Padre Higa.

A ida do Papa Francisco é muito aguardada pelos católicos, mas para o povo em geral, é uma grande novidade.

“A mídia fala da chegada do Papa, mas em muitos jornais são feitos artigos explicando o que é o cristianismo, quem é o Papa, por que ele está indo ao Japão. Para muitos é algo desconhecido. O ponto positivo é que, de certa forma, está sendo feita essa divulgação do catolicismo nos meios seculares. O povo japonês é muito curioso, e isso ajuda a impulsionar a Igreja local.”

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Católicos no Japão

O casal Roberto e Yumi Honda mora há 28 anos no Japão./ Foto: Arquivo pessoal.

O casal Roberto e Yumi Honda mora há 28 anos no Japão. Tiveram seis filhos no país, e estão atualmente na Diocese de Yokohama. O casal faz parte da Pastoral da Família e tem uma livraria católica no país. Sobre a realidade da maioria idosa dos católicos japoneses, o casal lembra que a questão é cultural.

“O que percebemos é que os mais velhos batizam os filhos, e acreditam que, quando batizado, a religião já está selada. O jovem, então, cresce sabendo que é católico, e seus pais esperam que, mesmo que se distancie, um dia, ele volte e viva sua fé.”

Honda observa que os pais não incentivam muito a frequência dos filhos na Igreja, e na escola, o sistema é muito diferente do Brasil. O horário é quase que integral, e até mesmo nos finais de semana os filhos estão na escola, ficando muito pouco tempo com os pais.

“Em relação à realidade das paróquias, a grande maioria não tem missa durante a semana. Quanto aos movimentos, esses estão presentes apenas nas cidades maiores, como a Pastoral Familiar. A maioria dos participantes são estrangeiros que moram no país. Em nosso grupo tem brasileiros, peruanos, vietnamitas, filipinos e japoneses. Hoje a pastoral está em quatro cidades diferentes”, diz Honda.

Esperança para os jovens

Mitty (de óculos escuros), com algumas jovens do movimento focolares./ Foto: Arquivo Pessoal.

A jovem focolarina italiana Maria Antonietta Casulli, mais conhecida como Mitty, tem 30 anos de idade e mora no Japão há 2 anos e meio. Estuda na Sophia University, um dos lugares visitados pelo Papa Francisco na viagem ao país.

A Universidade nasceu do desejo do Papa Pio X, por isso está diretamente conectada com o Vaticano. É gerenciada pelos jesuítas, e a isso se deve a ligação particular com o Papa Francisco.

Mitty conta que observa que o budismo e o xintoísmo no país apresentam famosos ‘caminhos para se chegar a Deus’. Ela explica que não há um único, e que cada indivíduo pode escolher o que é melhor para si.

Há um profundo respeito ao caminho escolhido por cada um. Mitty diz que, como missionária em um país como o Japão, é importante aprender a língua e a cultura, e encontrar valores em comum. Não é necessário temer a maioria, pois há sempre o respeito.

“Encontrei muitos conceitos católicos presentes na cultura japonesa e o que tenho feito é mostrado aos jovens as evidências e dito ‘Você percebe? Isso é algo que Jesus ensina a nós!’. É um novo jeito de evangelizar, não alto, nem rápido, mas na essência e de forma interna. A Igreja aqui está encontrando novas formas de evangelização e se tornando consciente de que possui muitas respostas para as muitas dificuldades que os japoneses vivem.”

Mitty deseja que a visita do Papa Francisco leve aos japoneses uma mensagem de esperança. “Espero que para os japoneses de forma geral, que nunca tiveram a oportunidade de ouvir seu discurso, pela dificuldade de tradução, seja uma oportunidade de mudança de vida. E que seja uma mensagem de sonho para os jovens japoneses, porque uma sociedade com tanta rigidez realmente limita a capacidade de sonhar”. 

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