O problema é consumir esta tecnologia sem controle, alerta a especialista; com nova classificação, o vício em games foi incluído na CID
Thiago Coutinho,
Da redação
O vício em games e jogos eletrônicos passou a ser considerado transtorno mental pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Incluso na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID), o transtorno agora poderá ser estudado e monitorado por médicos do mundo todo, que encontrarão meios de tratá-la e curá-la.
Os sintomas acerca deste transtorno são: não ter domínio do tempo e frequência que se passa em frente ao videogame; dar preferência aos jogos em detrimento a outras atividades; ainda que tenha sido repreendido pela frequência com que utiliza o videogame, insistir em seu uso ou até mesmo aumentá-lo.
Trata-se de uma compulsão, a pessoa começa a jogar e não para mais. Os especialistas a encaram quase da mesma maneira como aquelas pessoas que sofrem com o vício em jogos de azar. “O interesse da pessoa fica em se passar das fases, os desafios que se tem dentro do jogo. Não é como o vício na internet e redes sociais, por exemplo. Os jogos podem ser retirados do seu cotidiano e serem substituídos por comportamentos mais saudáveis”, explica a psicóloga Andrea Jotta Barbosa, do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática e Tecnologias da Informação da PUC-SP.
Segundo a pesquisadora, os jovens são o usuários mais assíduos. Ela acredita que o discernimento deve ser feito pelos pais, que devem dosar e se atentarem ao tempo que os jovens ficam juntos a estes aparelhos. O que será oferecido às crianças e aos jovens dependerá dos valores e daquilo que foi combinado dentro de casa, acrescenta Andrea.
Para a pesquisadora, o vício sempre esteve presente no mundo. Já existia, por exemplo, o comportamento obsessivo com relação a jogos de cartas e corrida de cavalos. O celular e a tecnologia, por sua vez, facilitaram e potencializaram isto. “Hoje, qualquer um com um celular pode baixar uma série de jogos e ficar ali o dia todo. O problema é consumir esta tecnologia sem controle ― vai da consciência do ser humano por detrás em não consumir estes produtos de forma descontrolada”, explica Andrea.
Vício caro
No Brasil, porém, a dependência patológica em games pode não ser tão intensa como em países como Coreia do Norte e Estados Unidos, por exemplo, por se tratar de uma realida ainda cara para o padrão socioeconômico do brasileiro. “Para se ter acesso a um bom jogo americano, num console de ponta, a pessoa terá que desembolsar um bom dinheiro, e aqui eles terão dificuldade em jogá-lo em rede, não conseguirão pagar pelas novas fases, fica aquela coisa mais restrita aos jogos de celular que são gratuitos”, adverte a pesquisadora.
O vício por aqui acaba sendo nos aparelhos celulares propriamente. É comum hoje em dia que os pais, por exemplo, deixem a criança por horas a fio manipulando o aparelho por acharem que assim elas se distraem e não incomodam. “Temos adolescentes por aqui que perdem aulas e têm uma dificuldade enorme de entrar na idade adulta por conta do videogame. Mas o índice da população que sofre com vício em games no Brasil é baixo porque as pessoas têm pouco acesso a esta tecnologia, não por causa da consciência do problema em si”, pondera a pesquisadora.
Com a inclusão do transtorno na CID, a expectativa é que médicos e as redes pública e privada de saúde dos países se mobilizem para desenvolverem tratamentos para a compulsão. Em se tratando de Brasil, a pesquisadora acredita que haverá mais campanhas de prevenção, uma vez que os casos de vício em jogos e games por ora são esporádicos. “Acredito que haverá mais campanhas preventivas, que criará uma consciência nas crianças e adolescentes que serão os mais impactados por este tipo de postura”, finaliza Andrea.