Coluna desta semana destaca contribuição dos Papas para elaboração da Doutrina Social da Igreja
Padre Antonio Aparecido Alves*
A proximidade da Solenidade de São Pedro e São Paulo e o “Dia do Papa” nos convidam a refletir sobre a importância que tiveram os Sumos Pontífices para o que chamamos hoje de “Doutrina Social da Igreja”.
De início, é necessário acentuar que o Decreto Christus Dominus sobre o múnus pastoral dos Bispos na Igreja, evidencia, no que se refere à questão social, que estes devem ensinar o valor da pessoa humana, de sua liberdade e de sua própria vida física, econômica e social, além de outros temas conexos a estes (Decreto Christus Dominus, n. 12).
Em seguida, destaca o Decreto que os Bispos devem ensinar essa doutrina social com “um método adaptado às necessidades dos tempos”, de tal modo que esse corresponda “às dificuldades e aos problemas” que afligem diretamente às pessoas, e “com especial cuidado se interessem pelos pobres e humildes, para cuja evangelização os mandou o Senhor” (Idem, n. 13).
Ora, é claro que isto se aplica especialmente ao Bispo de Roma, que tem o primado no Colégio Episcopal.
As diversas fases do Magistério social Pontifício
Olhando em uma perspectiva histórica, podemos identificar algumas fases no ensino social dos Papas:
1) Uma primeira, que poderíamos chamar hoje de “clássica”, se refere a temas como operariado, salário, trabalho e papel do Estado, localizada geograficamente no norte da Europa e dentro do que chamamos de “revolução industrial”. Temos aqui o magistério social de Leão XIII com a encíclica Rerum Novarum (1891), seguido pelo ensino social de Pio XI e Pio XII.
2) Uma segunda fase começou com o magistério social de João XXIII e Paulo VI e poderíamos dizer que houve uma amplitude, seja de destinatários – pois o primeiro endereçou suas encíclicas não somente aos “filhos da Igreja”, mas a “todas as pessoas de boa vontade”, como também de temas, pois este Papa introduziu o tema da “Paz” com a encíclica “Pacem in terris” (1963), e Paulo VI, a questão do progresso na encíclica Populorum Progressio (1967) – como também amplitude geográfica, porque em ambos a abrangência da doutrina social vai para fora dos limites da Europa, visando especialmente o que se chamava na época de “terceiro mundo”.
3) Depois, podemos constatar uma terceira fase, que caracteriza-se como “evangelização da cultura”, presente no magistério social de João Paulo II e Bento XVI. João Paulo II refere-se à existência de “mecanismos perversos” (Solicitudo rei socialis n. 17,35, 40) e de um “sistema ético e cultural”, que preside a organização da sociedade, chamado por ele de “cultura de morte” (Centesimus annus n. 39) e que é necessário ser evangelizada (idem, 50-53).
Bento XVI, por sua vez, fala do “relativismo” presente na sociedade, que leva à homogeneização de comportamentos e estilos de vida e prejudica a educação moral das futuras gerações (Caritas in Veritatis n. 26; 61).
O magistério social do Papa Francisco
4) Por fim, podemos afirmar que estamos em uma quarta fase da Doutrina social, inaugurada pelo Papa Francisco, a começar pelo nome que ele escolheu e que remete diretamente a um santo amante da pobreza e dos pobres.
Esta sua opção verifica-se em suas atitudes de humildade e pobreza, renunciando a símbolos de grandeza que fazem parte do pontificado. Além disso, em diversas ocasiões ele conclama a Igreja a ser pobre e dos pobres, ao mesmo tempo em que diz “não” a um sistema econômico iníquo que exclui enormes parcelas de pessoas dos bens necessários à vida.
Há que se acentuar, ainda, sua preocupação com a questão ambiental na ‘Laudato Si’, mas enquanto relacionada à vida dos mais pobres. Dentre as propostas levantadas por ele para o nosso tempo, está o apelo a uma mudança no estilo de produção e consumo atualmente determinadas pelo mercado e gerador de necessidades artificiais.